Brasil reforça compromisso com abandono dos fósseis às vésperas da pré-COP

André Corrêa do Lago (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom | Agência Brasil)

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26 Mai 2025

Documento da presidência brasileira da COP30 cobra diplomatas em momento decisivo para multilateralismo

A reportagem é de Cinthia Leone, publicada por ClimaInfo, 23-05-2025.

A terceira carta da presidência brasileira da COP30, divulgada nesta sexta-feira (23), às vésperas da pré-COP de Bonn (SB62), posiciona a reunião técnica de junho como um momento decisivo para o multilateralismo — não apenas para a agenda climática. O texto convoca os negociadores a restaurarem a confiança no processo, defendendo que o sucesso da COP30 começa com avanços concretos em Bonn.

Notavelmente, o texto retoma o compromisso com o abandono dos combustíveis fósseis do Acordo de Dubai, de 2023, e sinaliza o tema como uma de suas prioridades para a Pré-Cop de Bonn, no próximo mês.

A carta reforça o papel do Brasil como anfitrião comprometido com um processo transparente e inclusivo, especialmente diante de um cenário geopolítico complexo. Ao mesmo tempo, adota um tom objetivo ao cobrar resultados dos negociadores. Frases como “a credibilidade do processo multilateral está nas mãos dos negociadores em Bonn” e “seria um grande desperdício se o SB62 fosse tomado por procrastinação” revelam uma postura mais assertiva da presidência — e sinalizam que a condução política da COP30 busca engajamento prático desde já.

“Provavelmente é a primeira vez que você está tendo um presidente de COP que já foi negociador durante anos”, afirmou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30. “Se a presidência está convocando o mundo inteiro para um mutirão contra a mudança do clima, os primeiros que precisam participar são os negociadores — que têm nas mãos o poder para aprovar os documentos.”

A carta reitera que o Brasil pretende entregar uma COP focada na implementação do Acordo de Paris, definida como uma “nova era” – a de colocar em prática o que já foi acordado. Ainda que essa abordagem ajude a alinhar expectativas, ela também limita o espaço para propostas mais ousadas ou novos compromissos.

“O papel da presidência é garantir um processo transparente e inclusivo”, disse a embaixadora Liliam Chagas, negociadora-chefe do Brasil na COP30. “Temos escutado dos países que o momento é de reforçar o nosso processo, resgatar o legado da Convenção e do Acordo de Paris, e sinalizar uma nova etapa para o futuro.”

Três prioridades em Bonn

A carta define três frentes prioritárias para a pré-COP:

  • Avançar na implementação do Global Stocktake (GST), com foco na transição energética e no afastamento dos combustíveis fósseis, por meio de um novo “Diálogo sobre Implementação”;

  • Estruturar o Programa de Trabalho sobre Transição Justa (JTWP), articulando-o às NDCs e ao GST, e abordando temas como proteção social, requalificação profissional e justiça como eixo transversal.
    Consolidar uma lista de até 100 indicadores para a Meta Global de Adaptação (GGA), conectando-a aos Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e ao financiamento climático;

  • Corrêa do Lago ressaltou que a adaptação tem ganhado apoio crescente, especialmente após eventos climáticos extremos recentes. “O caso do Rio Grande do Sul marcou a gente, mas casos como estes estão acontecendo no mundo inteiro. Os países se deram conta de que, se tivessem investido mais em adaptação, poderiam evitar parte dos prejuízos”, afirmou.

A carta também destaca o papel de povos indígenas e comunidades locais como aliados fundamentais na resposta climática. Reafirma o compromisso com a Plataforma LCIPP, mas não detalha como essa participação será incorporada às decisões formais da negociação.

Com esta nova carta, a presidência brasileira da COP30 passa a adotar uma linguagem mais voltada à entrega. Ao posicionar Bonn como teste de confiança no multilateralismo e ao priorizar temas estruturantes como GST, adaptação e transição justa, o Brasil sinaliza um esforço coordenado. Para que essa ambição ganhe respaldo político, porém, será necessário coerência entre a diplomacia climática internacional e as políticas ambientais e energéticas adotadas no plano doméstico.

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