14 Mai 2025
O artigo é de Luis Miguel Modino, padre espanhol e missionário Fidei Donum, publicado por Religión Digital, 13-05-2025.
Já se passaram 10 anos desde a criação de um documento histórico dentro do Magistério Pontifício, a Laudato si'. Uma obra de grande impacto para a Igreja Católica, para a sociedade e para o mundo científico, de grande relevância nos dias de hoje, dada a crise socioambiental que o planeta atravessa.
Uma data que motivou a convocação do Segundo Encontro Sinodal de Reitores Universitários para o Cuidado da Casa Comum, com a participação de representantes da América do Norte, América Central, América do Sul e Península Ibérica. Será realizado de 20 a 24 de maio de 2025, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), buscando consolidar o compromisso da universidade com o cuidado da nossa Casa Comum.
Organizado pela Rede Universitária para o Cuidado da Casa Comum (RUC), o encontro conta com o apoio da Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL), presidida pelo Cardeal Robert Prevost, atual Papa Leão XIV, por meio da iniciativa Construindo Pontes. Esta é a continuação do primeiro encontro “Organizando a Esperança”, realizado em 2023 na Santa Sé com a participação do Papa Francisco.
Junto com o 10º aniversário da Laudato si', não podemos esquecer da COP30, que também será realizada no Brasil, mais especificamente em Belém. Nesse contexto, representantes da academia, do governo, da igreja e de organizações multilaterais estão reunidos na PUC-Rio. O objetivo é uma proposta sinodal que promova a escuta, o discernimento coletivo e a ação concreta diante da crise socioambiental. Uma oportunidade de levar adiante as propostas iniciais do Papa Leão XIV, que defendia a construção de pontes de paz e desenvolvimento para os povos.
O evento contou com a presença do Dicastério para a Cultura e a Educação, liderado pelo Cardeal Tolentino, da Associação de Universidades Jesuítas da América Latina (AUSJAL), do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (Celam), da Caritas América Latina e Caribe e do Governo do Brasil. Os apoiadores incluem o Porticus, o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) e a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI).
O pano de fundo do encontro se encontra nos "quatro sonhos" propostos pelo Papa Francisco em Querida Amazônia: social, cultural, ecológico e eclesial. No último dia, sábado, 24 de maio, será realizado um evento público comemorativo no Cristo Redentor, celebrando a década da Laudato si'.
Um encontro, com representantes de mais de 200 universidades públicas e privadas , que retoma o desafio lançado pelo Papa Francisco em 2013, na Jornada Mundial da Juventude no Rio: “Faça bagunça”. Para tanto, buscamos promover o diálogo entre a academia e os setores público e privado para a formulação de estratégias de ação coordenadas sobre fé e inovação, alinhadas à agenda da COP30; promover redes de cooperação interuniversitária em torno da sustentabilidade e das alterações climáticas; Promover os compromissos das universidades ibero-americanas com a transição justa por meio de modelos de desenvolvimento sustentáveis e integrais, capazes de enfrentar a crise ecológica socioambiental; articular recomendações estratégicas para a COP30 da comunidade acadêmica; refletir sobre o impacto da encíclica Laudato Si' no ensino superior, na pesquisa e nas políticas públicas.
A realidade atual nos faz perceber que “a vida está por um fio”, como alerta a campanha de conscientização lançada pelo Celam em 9 de dezembro de 2024, na Santa Sé. Uma situação que nos leva a entender que a crise ecológica e socioambiental exige respostas urgentes e coordenadas entre igrejas, governos, sociedade civil e academia. Algo que tem a ver com o impacto da Laudato si' no pensamento; com as universidades e a geração de conhecimento e formação de lideranças comprometidas com a sustentabilidade; fortalecer redes de pesquisa relacionadas às mudanças climáticas; buscando propostas e compromissos para a COP30.
As universidades são um agente privilegiado na atual “mudança de época”, lançando processos de educação e formação contínua através de uma “ação internacional coordenada”, gerando esperança que se traduz em ações concretas, como disse o Papa Francisco e assume a RUC. Um caminho de cuidado que leva ao enfrentamento da dívida pública, que está ligada à dívida ecológica, que tem a ver com o Ano Jubilar. Busca-se uma nova arquitetura financeira; respeito pela dignidade da vida humana; e um Fundo Global para eliminar permanentemente a fome e promover a educação e o desenvolvimento sustentável.
Quatro dias de reflexão baseados nos quatro sonhos da Querida Amazônia, com um evento final. Uma nova arquitetura financeira será abordada; O diálogo como melhor política de respeito à dignidade humana; biodiversidade e tecnologia; e construir pontes para promover o desenvolvimento sustentável. A metodologia priorizará o diálogo visando à participação compartilhada na tomada de decisões a partir de uma reflexão inicial de um especialista, buscando sintetizar propostas concretas de ação. Tudo isso será alcançado por meio de um “discernimento social comunitário” sobre o tema do dia, no qual representantes da universidade desenvolverão propostas para a COP30, que serão apresentadas em diversos espaços da Zona Azul de Belém.
Tudo isso no décimo aniversário da Laudato Si', a encíclica publicada em 24 de maio de 2014, que tem como tema central o cuidado da nossa Casa Comum. A crise ecológica é analisada a partir de uma perspectiva abrangente que combina ecologia, ética, economia, política e espiritualidade. E faz isso a partir de várias dimensões: ecológica, social e econômica, ética e teológica, política. Para isso, analisa problemas de enorme relevância: poluição e alterações climáticas; perda de biodiversidade; crise hídrica; deterioração da qualidade de vida humana; fraqueza das respostas internacionais à crise. Tudo isso é consequência do antropocentrismo excessivo e do paradigma tecnocrático, que questiona o domínio absoluto da humanidade sobre a natureza e a obsessão pelo crescimento econômico ilimitado.
Diante disso, propõe-se uma abordagem holística para enfrentar a crise, baseada na conexão entre meio ambiente, economia, sociedade e cultura. São introduzidos os conceitos de ecologia ambiental, econômica, social e cultural. Assim como um novo modelo econômico sustentável; governança global e acordos internacionais para proteger o meio ambiente; participação cidadã na luta ecológica; políticas que beneficiam os mais vulneráveis. Para avançar neste caminho de esperança, propõe-se a conversão ecológica; uma economia ao serviço da vida e não do lucro excessivo; responsabilidade compartilhada entre governos, empresas e cidadãos; Aja com urgência antes que danos irreversíveis ocorram.
Com a Laudato Si', Francisco buscou capacitar a Igreja Católica para influenciar a ONU, a política e os movimentos ambientais. Junto a isso, a proposta de uma mudança de paradigma, que respeite a natureza e a justiça social. Da mesma forma, um diálogo inter-religioso e científico, diante das diversas abordagens da crise ecológica, combatendo o negacionismo ambiental com dados científicos, reflexão ética e moral diante da indiferença e propostas de ação urgente. Um documento fundamental para a conscientização ecológica global, promovendo uma ecologia integral que coloca o bem-estar do planeta e da humanidade em seu centro.