13 Mai 2025
“A situação no momento é realmente catastrófica e não vemos esperança de recuperação, pelo menos não no futuro imediato, e os mais fracos, as crianças, os idosos, os doentes são os que pagam o preço”. Essas são palavras de desespero e consternação de Amjad Shawa, diretor da Rede de Organizações Não Governamentais Palestinas, uma organização guarda-chuva na Faixa de Gaza que inclui 133 associações palestinas e nasceu após os Acordos de Oslo. Ele vive em Gaza e nunca saiu desde o início da guerra.
A entrevista é de Nello del Gatto, publicada por Il Sole 24 Ore, 11-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Conte-nos sobre sua vida em Gaza, sua família, o que vocês enfrentam diariamente.
Moro aqui com minha esposa e três filhos. Também tenho outro filho que não está aqui, ele está estudando na Europa. Desde o início da guerra, fomos forçados a deixar nossa casa na Cidade de Gaza e ir para o sul, em busca de um lugar mais seguro para ficar. Moramos em tendas por 15 meses. Minha mãe, meus irmãos e irmãs fizeram o mesmo. Todos nós fugimos. Depois, quando houve a trégua, voltamos para o norte. Minha casa estava danificada, mas ainda de pé, enquanto perdi completamente o escritório.
O que aconteceu depois do fim da trégua?
O principal problema é o bloqueio da ajuda. Nada chega há dois meses. Na minha função de coordenador das várias organizações não governamentais, estou tentando ajudar, mas é difícil, também porque os ataques aéreos recomeçaram com força e todos os dias vemos pessoas morrendo, crianças, idosos, até mesmo vários membros de ONGs foram mortos e suas estruturas estão sob ataque. É realmente algo sem precedentes. Já vi de tudo, mas nunca nada assim. No momento, o principal problema é a falta de farinha; agora, todas as padarias fecharam porque não há farinha desde o final de março. Em determinado momento, chegaram 25 quilos de farinha que custavam 250 dólares, cerca de 10 dólares o quilo. As pessoas comuns não têm esse dinheiro. E, de qualquer forma, obviamente 25 quilos não são nada para as necessidades de toda a Faixa de Gaza. Não há ovos, carne, arroz.
Existem organizações que ajudam as pessoas a sobreviver, talvez lhes distribuindo o mínimo de necessidades básicas?
Até poucos dias atrás, havia cozinhas comunitárias que cozinhavam milhares de refeições por dia e depois as distribuíam às pessoas, assim como o PMA (Programa Mundial de Alimentos). Agora, eles também não têm mais suprimentos, então o número de refeições que conseguem preparar foi bastante reduzido e as pessoas estão literalmente morrendo de fome, obviamente, especialmente crianças e idosos. Agora, até as cozinhas estão fechando: se não por falta de alimento, porque estão sendo bombardeadas.
Qual é a situação dos hospitais?
Estão em colapso, muitos foram destruídos ou fortemente danificados, mas, acima de tudo, não há remédios e, por causa dos bombardeios, as pessoas muitas vezes precisam ser evacuadas para serem salvas, mas não se sabe para onde levá-las. Neste momento, por exemplo, em Gaza, há cerca de 50 mil mulheres grávidas que precisariam de assistência. E também não há água suficiente. E muitas vezes a água está contaminada, o que deixa as pessoas doentes. No máximo, são 4 litros por pessoa, que devem bastar para tudo, para cozinhar, beber e se lavar. Até cozinhar é uma luta, não há gás, então se usa lenha para acender o fogo e cozinhar alguma coisa. Não consigo nem dar remédio para minha mãe diabética.
Se pudesse enviar uma mensagem à comunidade internacional agora, o que diria?
Eu digo que é preciso intervir imediatamente e, pelo menos, permitir a entrada de ajuda alimentar e remédios. Por exemplo, muitas crianças estão morrendo também porque não há mais vacinas disponíveis, incluindo a da poliomielite, aqui ainda há crianças que contraem essa doença. Não há leite para os recém-nascidos. É uma situação muito complexa e o mundo deve intervir. Precisamos de ação, proteção forte e concreta para os civis.
Que esperanças você tem para sua família, como vocês estão vivendo nestes dias?
Meus filhos estão perdendo a possibilidade de ter uma educação, acompanham algumas aulas online, mas também estão traumatizados. Tentamos sobreviver, cozinhamos alguma coisa pelo menos uma vez por dia, ainda temos arroz. Nada de pão. Muitas vezes também falta eletricidade. Mas me considero sortudo, porque pelo menos ainda tenho um teto sobre minha cabeça. Minha casa está danificada, mas está de pé. 80% das pessoas também perderam suas casas. Agora estamos vivendo apenas dia a dia, ou melhor, hora a hora, sem saber o que vai acontecer.