25 Abril 2025
Um estudo publicado nesta 4a feira (23/04) na revista Nature por pesquisadores da Dartmouth College revelou que as emissões de 111 empresas de combustíveis fósseis foram responsáveis por cerca de US$ 28 trilhões em prejuízos econômicos decorrentes de ondas de calor extremo entre 1991 e 2020. A pesquisa desenvolveu um método inédito para vincular cientificamente danos climáticos específicos a empresas poluidoras, abrindo caminho para responsabilizá-las judicialmente.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 24-04-2025.
Os pesquisadores analisaram as emissões históricas de dióxido de carbono (CO₂) das maiores empresas poluidoras (como produtoras de gasolina e usinas a carvão), com dados de até 137 anos atrás, considerando o longo tempo que o gás permanece na atmosfera. Através de 1.000 simulações computacionais, compararam um cenário real com emissões dessas empresas a um mundo hipotético sem elas, calculando seu impacto direto no aumento da temperatura global (a Chevron, por exemplo, contribuiu com 0,025°C).
Para eventos extremos, como os cinco dias mais quentes do ano, usaram 80 simulações adicionais e uma fórmula que associa calor recorde a perdas econômicas, método já aplicado em estudos sobre ondas de calor ligadas às mudanças climáticas. Os cálculos mostraram que cada 1% de gases de efeito estufa emitido desde 1990 causou US$ 502 bilhões em danos somente por calor extremo – sem incluir outros eventos como furacões, secas e enchentes.
No total, afirmam os pesquisadores, a economia mundial perdeu entre US$ 12 trilhões e US$ 49 trilhões em produtividade entre 1991 e 2020 devido a ondas de calor associadas à poluição dos 111 maiores poluidores individuais. A empresa Saudi Aramco, foi responsável pela maior parcela desse custo, estimado entre US$ 850 bilhões e US$ 3,6 trilhões. A Chevron ficou em primeiro lugar entre as empresas de capital aberto, com US$ 790 bilhões a US$ 3,5 trilhões.
Christopher Callahan, cientista da Universidade Stanford e coautor do estudo, alertou no NY Times que o valor “ainda subestima drasticamente” o impacto real dos combustíveis fósseis, principalmente em regiões tropicais pobres — as menos responsáveis pelas mudanças climáticas.
“Essa cifra assombrosa reflete apenas um dos efeitos climáticos”, destacou Delta Merner, da Union of Concerned Scientists, acrescentando que “o prejuízo total dos grandes poluidores é certamente maior quando se consideram todos os riscos climáticos”.
O estudo já serve como base para ao menos 68 ações judiciais relacionadas a danos climáticos em todo o mundo, mais da metade nos EUA. Os dados das emissões foram extraídos do banco público Carbon Majors, que rastreia as principais fontes poluidoras globais. Science, New Scientist, Euronews, CBS, AP News, entre outros, repercutiram o estudo da Nature sobre o impacto econômico das empresas poluidoras.