Papa Francisco: anunciador incansável da misericórdia de Deus. Comentário de Ana Casarotti

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25 Abril 2025

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de João 20,19-35, que corresponde ao 2º Domingo de Páscoa, Domingo da Divina Misericórdia, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Era o primeiro dia da semana. Ao anoitecer desse dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: “A paz esteja com vocês”. Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes por ver o Senhor. Jesus disse de novo para eles: “A paz esteja com vocês”. “Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês”. Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: “Recebam o Espírito Santo. Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados”.

Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos disseram para ele: “Nós vimos o Senhor”. Tomé disse: “Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei”.

Uma semana depois, os discípulos estavam reunidos de novo. Dessa vez, Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: “A paz esteja com vocês”. Depois disse a Tomé: “Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque o meu lado. Não seja incrédulo, mas tenha fé”. Tomé respondeu a Jesus: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus disse: “Você acreditou porque viu? Felizes os que acreditaram sem ter visto”.

Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes sinais foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, vocês tenham a vida em seu nome.

Celebramos o segundo domingo de Páscoa em uma época especial de nossa Igreja universal. Duas Páscoas nos acompanharam durante esta semana: a Páscoa de Jesus, sua morte e ressurreição, e a Páscoa de nosso amado Papa Francisco, o pai dos pobres e pai da humanidade. Na madrugada do segundo dia da oitava da Páscoa, quando ainda estava escuro, depois de nos dar sua bênção e receber um banho popular, como ele mesmo disse, Francisco foi convidado a descansar em paz no coração de Deus. Com sentimentos contraditórios, por um lado, pela dor da partida de alguém tão querido, tão humano, tão próximo e, por outro lado, com a certeza de que ele continua a nos acompanhar e a nos guiar, nos deixamos iluminar pela Palavra para viver esse tempo.

Ao anoitecer desse dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus, Jesus entrou.

Situados em uma nova semana, os discípulos ainda estão cercados pela escuridão, pela tristeza, pela dor e também por uma série de eventos que levaram seu mestre embora sem lhes dar tempo para considerar o que realmente estava acontecendo. Eles estão juntos, há dor, tristeza, incapacidade de ver o que está acontecendo. Eles não conseguem ver o amanhecer do novo dia. As portas estão trancadas por medo das autoridades judaicas. Um grupo de pessoas assustadas que permanecem em um espaço fechado, sem Jesus, sem o sopro do Espírito que as renova. O medo os paralisa e os mantém dentro de casa, impedindo-os de ver a novidade que está acontecendo. Seu coração está trancado na dor do que experimentaram e no medo do que pode acontecer.

Ficou no meio deles e disse: "A paz esteja com vocês”.

Mesmo em meio a essa dor e tristeza, há um certo raio de esperança porque Jesus “entra”, se faz presente e a primeira coisa que lhes dá é a sua paz. Uma paz que toca profundamente o coração de cada um, a paz que gera esperança, confiança naqueles que, mesmo em meio à dor, experimentam a ressurreição. Neste tempo de dúvida, de incerteza, de tristeza por causa da partida de Francisco, há uma paz que acalma o coração. Uma paz que também surpreende porque ressuscita a vida que o Espírito semeou por meio de Francisco em tantas pessoas, realidades e contextos. Se quiséssemos coletar e escrever a memória de cada uma dessas experiências e vivências, nos sentiríamos refletidos nas palavras de João no final do seu Evangelho: "Ainda há muitas outras coisas que Jesus fez. Se fôssemos escrevê-las uma por uma, acho que os livros escritos não caberiam no mundo" (Jo 21,25).    

Trazendo a riqueza do legado de Francisco, nós nos deixamos iluminar por suas palavras na primeira Eucaristia na Basílica Lateranense, a Catedral do Bispo de Roma, quando comentava este texto evangélico:

Hoje celebramos o Segundo Domingo de Páscoa, designado também «Domingo da Divina Misericórdia». A misericórdia de Deus: como é bela esta realidade da fé para a nossa vida! Como é grande e profundo o amor de Deus por nós! É um amor que não falha, que sempre agarra a nossa mão, nos sustenta, levanta e guia.

No Evangelho de hoje, o apóstolo Tomé experimenta precisamente a misericórdia de Deus, que tem um rosto concreto: o de Jesus, de Jesus Ressuscitado. Tomé não se fia nos demais Apóstolos, quando lhe dizem: «Vimos o Senhor»; para ele, não é suficiente a promessa de Jesus que preanunciara: ao terceiro dia ressuscitarei. Tomé quer ver, quer meter a sua mão no sinal dos cravos e no peito. E qual é a reação de Jesus? A paciência: Jesus não abandona Tomé relutante na sua incredulidade; dá-lhe uma semana de tempo, não fecha a porta, espera. E Tomé acaba por reconhecer a sua própria pobreza, a sua pouca fé. «Meu Senhor e meu Deus»: com esta invocação simples mas cheia de fé, responde à paciência de Jesus. Deixa-se envolver pela misericórdia divina, vê-a à sua frente, nas feridas das mãos e dos pés, no peito aberto, e readquire a confiança: é um homem novo, já não incrédulo, mas crente.

Recordemos também o caso de Pedro: por três vezes renega Jesus, precisamente quando Lhe devia estar mais unido; e, quando toca o fundo, encontra o olhar de Jesus que, com paciência e sem palavras, lhe diz: «Pedro, não tenhas medo da tua fraqueza, confia em Mim». E Pedro compreende, sente o olhar amoroso de Jesus e chora... Como é belo este olhar de Jesus! Quanta ternura! Irmãos e irmãs, não percamos jamais a confiança na paciente misericórdia de Deus! (Homilia do Santo Padre Francisco, Basílica de São João de Latrão - II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia, 07-04-2013.)

Sejamos portadores de esta misericórdia divina!

 

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