18 Abril 2025
Vieram de todo o mundo a Roma para a discussão da proposta de paz de Öcalan. Nos dias 11 e 12 de abril, partidos, sindicatos e movimentos sociais da Ásia, África, Oriente Médio, América Latina e Europa se reuniram para debater a proposta anunciada em 27 de fevereiro. Na verdade, a conferência internacional já havia sido planejada, marcando o segundo aniversário da campanha mundial pela libertação física de Abdullah Öcalan. Os organizadores reivindicaram a importância decisiva de uma reunião “para debater as oportunidades históricas apresentadas por uma solução política da questão curda, como caminho para a paz, tanto no Oriente Médio quanto no resto do mundo”.
A reportagem é de Andrea Cegna, publicada por La Jornada, 16-04-2025. A tradução é do Cepat.
O trabalho realizado por Öcalan na ilha/prisão de Imrali, nos últimos meses, por meio de reuniões com uma delegação do Partido DEM, impulsionou o debate político, semelhante ao que Magic Johnson fazia com seus times na NBA. Em Roma, onde se deu início à odisseia de Öcalan na busca por construir uma proposta de paz, em 1998, e que mais tarde se materializou em seu sequestro pelos serviços secretos turcos, no Quênia, em 1999, chegaram quase 400 pessoas delegadas por suas organizações, de 16 países e quatro continentes.
A campanha “Liberdade para Abdullah Öcalan, uma solução para a questão curda” passou por shows, debates, marchas, resoluções políticas, posicionamentos públicos. E agora, depois da carta de 27 de fevereiro, possui uma base material, uma proposta de “choque e paz”. Ömer Öcalan, parlamentar, sobrinho de Apo, lembrou como o texto lido publicamente em fevereiro era uma mediação entre seu tio e o governo turco. Portanto, não foi possível dizer tudo, não se explicitou tudo, mas se lembrou e reiterou que não se tratava de uma rendição, pelo contrário: nada mudará se a Turquia não reconhecer o povo curdo, e nada mudará se Öcalan não for libertado.
O movimento curdo simplesmente oferece uma oportunidade, histórica e revolucionária, para encerrar mais de 100 anos de colonialismo, racismo e violência. Estão dispostos, estão preparados, afirmam: “estamos aqui”. Nossa luta é uma luta pela paz, pela esperança, pelos sonhos, pela coexistência. O DEM e os representantes do povo curdo reafirmaram, de fato, que a carta de Öcalan é a aplicação da Confirmação Democrática.
Há esperança, mas não certeza, de que Erdogan possa desejar a paz. No entanto, em pleno delírio de poder, escalou o conflito com a oposição parlamentar: prendeu o prefeito de Istambul e rejeitou as manifestações de milhares de pessoas contra ele, especialmente depois que a guerra contra o povo curdo se tornou um de seus bastiões de resposta no poder.
E se a situação política na Turquia está estagnada, na Síria, avança na contradição - que continua sendo um método radical - do diálogo que foi criado entre as Forças Democráticas Sírias (FDS) e o novo governo que surgiu após a queda de Assad. Após o reconhecimento da entidade curda-síria, nas últimas horas, o governo de transição e as FDS chegaram a um acordo para controlarem conjuntamente a barragem de Tishrin, no Eufrates, assediada há meses. As unidades do exército sírio dirigidas pelo HTS assumirão o controle do lado ocidental do Eufrates. O lado oriental, ao contrário, ficará sob o controle da Administração Autônoma Democrática.
Desde dezembro, a Turquia tenta avançar pela barragem para o outro lado do Eufrates. Há quatro meses, a população civil mantém uma vigília contra a invasão da barragem. Mais de 20 manifestantes civis morreram nos bombardeios. Os confrontos entre as Forças de Autodefesa e o exército turco estão há quase duas semanas em ponto morto, mas ainda não há um cessar-fogo oficial.
Ontem, a população civil comemorou o sucesso da resistência militar e civil na barragem. A proposta de Öcalan e a inclinação do povo curdo pelo diálogo de paz estão sendo colocadas em prática justamente lá, onde o mundo tomou consciência da coragem e da resiliência contra os que se opuseram ao povo de Rojava.
Da união da resistência com yazidis, sírios e curdos, nasceu o autogoverno que em nome do confederalismo democrático passou a administrar territórios, construir escolas, hospitais e reconfigurar uma área do planeta onde a violência, os privilégios e os interesses tinham criado distâncias entre as populações. Em Roma, o exemplo sírio foi fortemente considerado como uma perspectiva de esperança.
Em Roma, reiterou-se que a proposta do movimento curdo na Turquia é uma proposta de paz que rompe com a lógica de guerra imposta pelo capitalismo hoje. “A democratização da Turquia”, afirma o documento final conjunto, “favorecerá mudanças positivas paralelas na Síria, Rojava, Iraque, Curdistão do Sul e em todo o Oriente Médio”. E reitera-se, portanto, que “o chamado de Öcalan é uma oportunidade para a paz em uma das regiões mais críticas do mundo, o Oriente Médio”.