12 Abril 2025
Expulsos dos acampamentos e “acompanhados e abandonados” no deserto. Mas também interceptados no mar e barrados e, nos piores casos, deixados para se afogar. Essa é a dramática condição dos migrantes subsaarianos que tentam chegar à Europa a partir das costas da Tunísia. É assim que as autoridades tunisianas estancam os fluxos migratórios para a Europa, denunciam as ONGs humanitárias e de saúde que atuam no território.
A reportagem é de Daniela Fassini, publicada por Avvenire, 06-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
As autoridades tunisianas desmantelaram os acampamentos improvisados onde milhares de migrantes irregulares da África subsaariana estavam vivendo, após uma campanha virulenta nas mídias sociais pedindo sua expulsão. Os acampamentos, montados entre olivais nas regiões de El Amra e Jebeniana, na parte centro-oriental do país, tornaram-se um problema para as autoridades e causaram forte descontentamento entre os habitantes dos vilarejos vizinhos. No total, cerca de 20 mil migrantes tinham montado barracas nos acampamentos, explicou o porta-voz da Guarda Nacional, Houcem Eddine Jebabli. Desde quinta-feira, cerca de 4.000 pessoas de diferentes nacionalidades foram obrigadas a deixar o acampamento do “quilômetro 24”, um dos maiores da região, localizado na cidade de Katatna. Outros acampamentos foram evacuados na mesma área e as operações continuarão nos próximos dias. Pessoas vulneráveis e mulheres grávidas foram atendidas pelas autoridades de saúde, explica Jebabli.
Questionado sobre o destino dos milhares de migrantes restantes, ele disse que alguns haviam “se dispersado na natureza” e muitos outros haviam expressado o desejo de retornar voluntariamente ao seu país. Em um vídeo que circula nas redes sociais, o ativista explica como “os migrantes levados em ônibus brancos e informados de que seriam repatriados não deram mais notícias às suas famílias e foram colocados na prisão ou deportados para o deserto nas fronteiras com a Líbia e a Argélia. Ele acrescenta que as embaixadas estão cientes de tudo isso e não fazem absolutamente nada. Adverte os migrantes a não entrarem naqueles ônibus, pedindo-lhes que se defendam quando forem abordados pela Guarda Nacional, mesmo que isso signifique lutar pela vida”. Em outro vídeo, as imagens mostram o desmantelamento de um acampamento e o pouco que resta de uma vida miserável: roupas esfarrapadas, sapatos abandonados, cobertores e mochilas.
A ONG Medical Emergency for Refugees também denuncia: “A Tunísia não respeita os direitos dos migrantes, onde quer que eles vão, são expulsos”. E mesmo no mar, acrescentam, os barcos sobrecarregados que são interceptadas pela guarda costeira tunisiana são parados. “Os barcos que saíram de Sfax nos últimos três dias foram barrados pela Guarda Nacional da Tunísia, que os obriga a entregar o motor e o combustível”, conta um ativista. Um capitão subsaariano se recusou. O barco de patrulha da Guarda Nacional fez o que faz sistematicamente: começou a acelerar em torno do barco dos migrantes até que ele virou. Muitos dos que caíram ao mar não sabiam nadar. E não foram socorridos imediatamente. Alguns, nesse meio tempo, se afogaram. Eles fazem isso para desencorajar outros imigrantes ilegais a partir. Os motores roubados são reutilizados pelos traficantes tunisianos”.
ONGs e ativistas não têm dúvidas: “A corrupção dos agentes da Guarda Nacional é evidente”. Isso não é surpreendente. Muitos relatos da Líbia confirmam o mesmo modus operandi. O tráfico de pessoas é lucrativo demais para deixar o “negócio” para outros. Ninguém quer ficar de fora e faz a sua parte, às custas daqueles que fogem de guerras e carestias.
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