11 Abril 2025
"A História da Igreja ajuda-nos a olhar para a Igreja real, a fim de que possamos amar a Igreja que existe realmente e que aprendeu – e continua a aprender – com os seus erros e quedas. Esta Igreja, que se reconhece a si própria mesmo nos seus momentos mais sombrios, torna-se capaz de compreender as manchas e as feridas do mundo em que vive. E, se procura curá-lo e fazê-lo crescer, fá-lo-á da mesma forma que tenta curar-se e fazer crescer a si mesma, mesmo que muitas vezes não o consiga", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em resenha do livro Dicionário da História do Catolicismo no Brasil (Recriar, 2024).
De acordo com o IBGE 2010, 64,6% da população brasileira é católica. Em 2020, o Datafolha indicou que 50% dos brasileiros eram católicos. Em 2022, este mesmo Instituto de Pesquisa indicou que 49% dos entrevistados se identificaram como católicos. Sendo atualmente a maior religião do país, o catolicismo exerce grande influência nos aspectos político, social e cultural dos brasileiros. Consequentemente, a Igreja católica possui uma história no Brasil com marcas próprias, denotativas de sua inserção em cada época histórica.
Para estudar a história do Brasil é necessário estudar a história do catolicismo, pois este é uma das bases da formação cultural da população brasileira, ou seja, conhecer a secular presença do Catolicismo no Brasil é conhecer a história mesma do país, tão importantes foram às influências recíprocas que marcaram a convivência da Igreja e da sociedade brasileira em seus múltiplos aspectos, ao longo dos séculos.
Nesta empreitada o Grupo de Pesquisa Religião e Política no Brasil Contemporâneo da PUC-SP / CNPq oferece aos leitores o Dicionário da História do Catolicismo no Brasil (Recriar, 2024, 460 p.). Segundo os organizadores André Gustavo de Fiori, Ney de Souza e Reuberson Ferreira a finalidade desta obra é a de oferecer, com rigor científico, verbetes sobre a História do Catolicismo no Brasil, numa análise crítica a partir das fontes, e de uma bibliografia especializada elencada no final de cada verbete. O léxico estruturado em quatro partes e composto de cento e trinta e um verbetes é uma introdução a temáticas importantes na construção da História do Catolicismo no Brasil, apresentando uma rica contribuição de cinquenta pesquisadores/as nas áreas de História Eclesiástica, História Social, Teologia, Educação e outras áreas afins.
Na primeira parte Tradições (p. 13-135) os verbetes exploram os seguintes temas: 1) agostinianos (p. 15-18); 2) a devoção a Nossa Senhora Aparecida (p. 18-22); 3) Dom Paulo Evaristo Arns (p. 22-26); 3) Associações Pias: Apostolado da Oração, Filhas de Maria e Liga Católica Jesus, Maria e José (p. 26-29); 4)Beneditinos no Brasil (p. 30-33); 5) Cabidos (p. 33-35); 6) Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (p. 35-38); 7) Carmelitas (p. 38-40); 8) Católicos não praticantes (p. 40-42); 9) Catolicismo popular (p. 42-45); 10) Clero Católico na Idade Média (p. 46-52); 11) Clero no Brasil Colônia (p. 52-54); 12) Conservadorismo (p. 54-57); 13) Dom Antonio Batista Fragoso (p. 57-61); 14) Dom Helder Câmara (p. 61-67); 15) Dom Pedro Casaldáliga (p. 68-73); 16) Episcopado no Brasil Colônia (p. 73-74); 17) Episcopado no Brasil República (p. 75-78); 18) Franciscanos (p. 78-81); 19) Frei Galvão (p. 81-82); 20) Igreja Galicana (p. 82-84); 21) Igreja Ultramontana (p. 84-86); 22) Jesuítas no Brasil Colônia (p. 86-89); 23) Jesuítas no Brasil Império (p. 89-93); 24) Jesuítas no Brasil República (p. 93-96); 25) Gabriel Malagrida (p. 96-100); 26) Mercedários/Ordem da Mercês (p. 100-101); 27) Padre Cícero (p. 102-105); 28) Papa Francisco (p. 105-110); 29) Paulina do Coração Agonizante de Jesus (p. 110-112); 30) Piedade popular (p. 113-116); 31) Santa Dulce dos Pobres (p. 116-119); 32) Teologia no Brasil Colônia (p. 120-123); 33) Teologia no Brasil Império (p. 123-128); 34) Tradicionalismo (p. 128-132); 35) Úrsula Ribeiro (p. 132-135).
Na segunda parte intitulada Conceituais (p. 137-282), os verbetes abordam os seguintes temas: 36) Associações leigas (p. 138-139); 37) Ação Católica (p. 139-145); 38) Barroco (p. 145-147); 39) Beatos (p. 147-148); 40) Bispos reformadores (p. 148-151); 41) Catequese Renovada (p. 151-154); 42) Comunidades Eclesiais de Base (p. 154-160); 43) Celibato (p. 160-164); 44) Cidades históricas brasileiras/Igreja Católica na formação do Brasil (p. 164-168); 45) Colonialidade/decolonialidade (p. 168-170); 46) Conselho Indigenista Missionário/CIMI (p. 170-174); 47) Cristãos-novos (p. 174-176); 48) Diocese (p. 176-177); 49) Dominicanos (p. 177-180); 50) Envelhecimento do catolicismo (p. 180-183); 51) Escândalos e Igreja Católica (p. 183-186); 52) Escravidão africana (p. 187-189); 53) Expostos ilegítimos (p. 19); 54) Iconografia (p. 190-193); 55) Igreja Católica no Brasil (p. 194-196); 56) Irmandades e confrarias (p. 197-199); 57) Laicato (p. 200-201); 58) Leitura popular da Bíblia (p. 201-205); 59) Liturgia (p. 205-213); 60) Martírio (p. 213-216); 61) Maçonaria (p. 216-217); 62) Monumento Cristo Redentor (p. 217-219); 63) Nunciatura (p. 219-223); 64) Núncio Caleppi (p. 223-225); 65) Núncio no Império (p. 225-227); 66) Ordens e Congregações Religiosas (p. 227-232); 67) Paróquia (p. 232-233); 68)Pastoral (p. 233-234); 69) Pastoral Afro (p. 235-239); 70) Pastoral Social (p. 239-245); 71) Pastorais sociais-ambientais e organismos da CNBB (p. 245-247); 72) Povos Indígenas (p. 248-252); 73) Profetismo (p. 252-256); 74) Recolhimento casas de (p. 256-257); 75) Romarias e procissões (p. 257-260); 76) Sacerdócio feminino (p. 260-263); 77) Santa Casa de Misericórdia (p. 263-264); 78) Seminários (p. 265-267); 79) Sincretismo religioso (p. 267-268); 80) Templos, basílicas e santuários de destaque (p. 268-270); 81) Testamentos (p. 270-273); 82) Traduções de Bíblia para o português no Brasil (p. 273-276); 83) Vida religiosa feminina (p. 277-280); 84) Visitas pastorais (p. 282-282).
A terceira parte Movimentos Históricos (p. 283-410) traz os seguintes assuntos: 85) Conferência de Aparecida (p. 284-286); 86) Assembleia Eclesial (p. 287-291); 87) Campanha da Fraternidade (p. 291-294); 88) Canudos (p. 294-298); 89) Catolicismo e regências (p. 298-300); 90) Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / CNBB (p. 300-305); 91) Concílio Plenário Latino-Americano (p. 305-307); 92) Conferência de Medellín (p. 308-312); 93) Conferência dos Religiosos do Brasil (p. 312-317); 94) Conferência Eclesial da Amazônia (p. 317-32); 95) Conferência Episcopal do Rio de Janeiro (p. 320-325); 96) Contestado (p. 325-329); 97) Ditadura e catolicismo (p. 330-333); 98) Encontros Intereclesiais das CEBS (p. 334-338); 99) Festas católicas marianas (p. 338-341); 100) Festas religiosas (p. 342-344); 101) Guerra Guaranítica (p. 344-346); 102) Liga Eleitoral Católica / LEC (p. 347-351); 103) Mesa da Consciência e Ordens (p. 351-353); 104) Missa dos Quilombos (p. 353-357); 105) Movimentos carismáticos (p. 357-360); 106) Movimento de Natal (p. 360-364); 107) Movimento Estudantil de 1968 (p. 364-367); 108) Movimentos Religiosos (p. 367-368); 109) Padres rebeldes de Botucatu (p. 369-371); 110) Padroado (p. 371-373); 111) Projeto Igrejas-irmãs (p. 373-376); 112) Questão religiosa (p. 376-379); 113) Renovação Carismática Católica (p. 379-382); 114) Revolução dos padres / Revolução Pernambucana de 1817 (p. 382-384); 115) Sínodo da Amazônia (p. 384-390); 116) Sínodo da América (p. 390-396); 117) Teologia da Libertação no Brasil (p. 397-402); 118) Vaticano II 1962-1965 (p. 402-408); 119) Visitação do Santo Ofício (p. 409-410).
Na quarta parte Documentos Eclesiásticos (p. 411-450) os verbetes exploram os seguintes assuntos: 120) Arquivos Eclesiásticos (p. 412-415); 121) Bula (p. 415-417); 122) Carta Pastoral de 1937 (p. 418-421); 123) Catequese Renovada (p. 421-424); 120) Constituição Civil Imperial (p. 425-427); 124) Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (p. 427-428); 125) Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil (p. 429-431); 126) Documento “Ouvi o clamor do meu Povo” (p. 432-434); 124) Documento de Santarém (p. 435-438); 127) Fontes documentais (p. 439-440); 128) Fontes narrativas (p. 440-442); 129) Pano Pastoral de Conjunto 1966-1970 (p. 442-444); 130) Plano de Emergência (p. 444-446); 131) Puebla (p. 447-450).
Nas páginas 451-458 da presente obra, o leitor/a encontrará a listas de todos/as os colaboradores, com a indicação da função que exercem e do centro universitário em que trabalham habitualmente.
Recentemente o papa Francisco, ao chamar a atenção para a importância do estudo da história da Igreja, observou que diante da perda do sentido da história necessitamos renovar a nossa sensibilidade histórica e nos educar para ela. Isso porque uma correta sensibilidade histórica ajuda cada um de nós a ter um sentido de proporção, um sentido de medida e uma capacidade de compreender a realidade sem abstrações perigosas, protegendo-nos, assim, do monofisismo eclesiológico, isto é, de uma compreensão demasiado angélica da Igreja, apresentando uma Igreja que não é real, pois não tem as suas manchas e rugas. E a Igreja, como uma mãe, deve ser amada tal como é, senão não a amamos de verdade, ou amamos apenas um produto da nossa imaginação. A História da Igreja ajuda-nos a olhar para a Igreja real, a fim de que possamos amar a Igreja que existe realmente e que aprendeu – e continua a aprender – com os seus erros e quedas. Esta Igreja, que se reconhece a si própria mesmo nos seus momentos mais sombrios, torna-se capaz de compreender as manchas e as feridas do mundo em que vive. E, se procura curá-lo e fazê-lo crescer, fá-lo-á da mesma forma que tenta curar-se e fazer crescer a si mesma, mesmo que muitas vezes não o consiga.
Nesta perspectiva, o Dicionário em questão cumpre esta função e, através dos verbetes acima elencados, coloca-nos diante da riqueza da Igreja Católica no Brasil, história pouco ou superficialmente conhecida. O/a leitor/a terá a oportunidade de ser introduzido/a ou aprofundar questões que dizem respeito à história do catolicismo no Brasil de forma clara e didática. As diversas contribuições e abordagens distintas carregam não somente as perspectivas particulares de cada autor/a, bem como de seus estilos próprios de estruturar as ideias e redigi-las textualmente. A bibliografia no final de cada verbete possibilitará ulteriores estudos para quem quiser avançar em seus conhecimentos. Com espírito acadêmico e eclesial, a presente obra disposta em verbetes será útil para estudantes, professores e peritos na matéria.