11 Abril 2025
Um estudo aponta que a extrema-direita está capitalizando a frustração dos homens associada à perda de independência econômica e emprego, duas grandes marcas da masculinidade tradicional, e que têm relação com o aumento da desigualdade ou com a automatização.
A reportagem é de Ana Requena Aguilar, publicada por El Diario, 08-04-2025.
É uma das preocupações atuais que mais têm gerado debates: a radicalização dos homens jovens e a forma como a extrema-direita está conseguindo conquistá-los. Frente à explicação que aponta para o antifeminismo e a influência de redes e espaços online, um artigo acadêmico aprofunda em outra razão: o declínio econômico que os homens jovens têm sofrido nas últimas décadas.
De acordo com o estudo intitulado De proveedor a precario: cómo el declive económico alimenta la reacción antifeminista, do European Policy Center, a extrema-direita estaria explorando essa “frustração” dos homens associada à perda de independência econômica e emprego, duas grandes marcas da masculinidade tradicional. Por outro lado, os movimentos progressistas não têm conseguido nem evitar o declínio econômico dos jovens nem oferecer uma masculinidade alternativa à tradicional que seja atraente.
O relatório descreve o contexto atual: a reação antifeminista que se vive na Europa, tanto no âmbito político quanto cultural e midiático, e o crescimento de partidos políticos de extrema-direita, especialmente entre os homens jovens. A diferença ideológica entre mulheres e homens jovens é mais pronunciada do que nunca, mas também é paradoxal. Por um lado, o texto aponta que os homens jovens apresentam menos comportamentos sexistas e demonstram mais apoio à igualdade do que os homens mais velhos. Porém, ao mesmo tempo, os jovens se opõem mais às políticas e discursos feministas. O resultado é que as mulheres jovens são mais progressistas e seus colegas homens, mais conservadores, uma diferença que se reflete nas preferências eleitorais de ambos os grupos.
A que se deve essa deriva masculina e essa lacuna ideológica de gênero? A reação antifeminista e a socialização dos jovens por meio de redes sociais e espaços online – onde discursos antifeministas e alarmistas, boatos e desinformação circulam livremente – são duas das razões mais mencionadas. O relatório do European Policy Center aponta que essas são respostas incompletas e destaca outra: a deterioração econômica dos homens jovens, um fator que explicaria por que, apesar de serem mais favoráveis à igualdade do que os homens mais velhos, votam mais à direita do que qualquer outro grupo populacional.
Esse declínio, explica o pesquisador Javier Carbonell, autor do estudo, ocorreu em termos de renda, riqueza, taxas de emprego, poder aquisitivo, níveis de educação universitária e saúde mental. “Essas tendências têm pouco a ver com o avanço das mulheres e estão mais relacionadas a mudanças econômicas estruturais mais profundas, como a automatização ou o aumento da desigualdade”, afirma.
Enquanto alguns problemas econômicos, como o acesso à moradia ou a queda do poder aquisitivo em comparação com gerações anteriores, afetam tanto mulheres quanto homens jovens, o estudo assegura que outros fenômenos econômicos os afetam mais diretamente. O estudo apresenta alguns exemplos, como o fato de que as taxas de emprego já são maiores entre as mulheres (ou, ao menos, igualitárias entre os gêneros em muitos países ocidentais), ou o percentual de mulheres com ensino superior (um fator relacionado a melhores rendimentos e capital cultural) que supera em muito o dos homens. Além disso, o percentual de jovens que nem estudam, nem trabalham, nem estão em busca ativa de emprego tem crescido constantemente.
“Em países como Reino Unido, França, Espanha e Canadá, os homens superam em número as mulheres fora da população ativa pela primeira vez na história. Esse declínio é mais pronunciado entre os homens sem formação universitária, já que eles dominam os trabalhos manuais, setores que se reduziram nas últimas décadas devido à automatização e à globalização”, lê-se no relatório. Todos esses fatores fizeram com que, em alguns países europeus, a diferença salarial fosse corrigida e até invertida. Nesses lugares, as mulheres jovens já ganham, em média, um pouco mais que os homens. Em geral, entretanto, são eles que continuam apresentando salários mais altos e, de fato, os dados mostram que a chegada dos filhos penaliza laboral e economicamente as mulheres, mas não os homens.
Esse declínio econômico não necessariamente implicaria um desvio para a extrema-direita, mas o fato é que, na última década, foi essa a faixa política que tem explorado esse descontentamento. Por quê? “Em primeiro lugar, embora o declínio econômico dos homens jovens seja real, a resposta a ele está determinada por normas culturais e de gênero. A masculinidade continua fortemente vinculada ao papel de ‘provedor’ ou ‘sustento da família’, e a identidade masculina ainda é definida pelo trabalho. Assim, a incapacidade econômica de corresponder a essas expectativas prevaleceu sobre as mudanças na compreensão cultural do que significa ser homem”, explica.
A frustração resultante de não poder cumprir as expectativas econômicas da masculinidade “afeta a saúde mental e o status dos homens”. “Nesse contexto, fazer apelos para restaurar o papel de provedor, culpando outros grupos, é mais fácil do que a árdua tarefa de redefinir a própria masculinidade”, acrescenta. Além disso, o declínio econômico dos jovens coincidiu com o avanço dos direitos e das condições das mulheres, um fato que a extrema-direita aproveitou para criar um inimigo. Assim, apelam aos homens jovens pela perda de seu status e reivindicam a visão tradicional da masculinidade.
O estudo propõe reforçar as políticas econômicas para os jovens, enquanto se promove outra forma de masculinidade. Realizar essa última mudança sem melhorar as condições materiais, asseguram, não será suficiente, por mais poderosos que sejam os discursos. Uma política habitacional que inclua controles nos preços em centros urbanos, a promoção de empregos estáveis e rendimentos dignos para pessoas com menos de 25 anos, o fortalecimento das estruturas e autorizações para os cuidados ou o aumento dos recursos e da importância da educação profissional são algumas das medidas sugeridas.
No que diz respeito às normas culturais e de gênero, o relatório sugere programas de atenção à saúde mental dos homens, a criação de centros que ofereçam atividades e ações para moldar uma masculinidade diferente, ou ainda complementar a crítica ao modelo tradicional do homem com alternativas concretas e reais às quais os jovens possam aspirar.