11 Abril 2025
Em um ensaio recente do National Catholic Reporter, o teólogo Dan Horan argumenta que se a Igreja adotasse uma teologia da abundância, ela poderia mudar, entre outras coisas, a abordagem hierárquica oficial para a comunidade LGBTQ+, permitindo-nos ver “a maravilhosa diversidade da intenção criativa de Deus”.
A reportagem é de Phoebe Carstens, publicada por New Ways Ministry, 09-04-2025.
Horan baseia sua reflexão no livro recém-publicado "Abundância", escrito por Ezra Klein e Derek Thompson, que analisa o cenário político e econômico dos Estados Unidos sob uma perspectiva de abundância e escassez. Em seu apelo para desenvolver uma mudança de mentalidade, da escassez para a abundância, Horan observa que há um domínio, rico em considerações, que eles não abordam: a teologia.
Para Horan, cultivar uma teologia da abundância poderia mudar a maneira como abordamos a antropologia teológica, especialmente em relação a gênero e sexualidade, e poderia reformular nossa compreensão das intenções de Deus para a comunidade humana.
“Outra maneira de descrever a generosidade refletida no reino de Deus anunciado por Jesus Cristo é abundância”, diz Horan. Ele continua:
"É impressionante que tudo o que Jesus comunicou sobre como Deus quer que vivamos em comunidade tenha sido sobre expandir nosso senso de pertencimento, inclusão e justiça. Tão abundantes são os recursos do amor e do favor de Deus que todos são convidados para o banquete divino, e há fartura para todos, desde que abandonemos nossos próprios preconceitos e invejas para reconhecer que o amor e a misericórdia de Deus recaem igualmente sobre 'justos e injustos' (Mateus 5,45).
Quando deixamos de viver a gratuidade e a abundância da graça de Deus, diz Horan, podemos adotar uma mentalidade de escassez, que limita nossa compreensão de Deus, do amor de Deus e do que significa ser cristão. Isso pode nos levar a acreditar que existe apenas uma maneira "certa" de ser cristão ou ser humano. "Nesses contextos", diz Horan, "frequentemente há uma sensação de limitação em relação a quem Deus ama ou quem pode pertencer" à comunidade cristã.
A mentalidade de escassez é uma escolha, explica ele. Não precisamos limitar Deus a uma "visão de mundo teológica e a um conjunto de práticas competitivas, discriminatórias e excludentes". Podemos escolher, em vez disso, operar a partir de uma teologia de abundância e inclusão:
Se a nossa antropologia teológica pressupusesse o tipo de abundância divina encontrada na pregação de Jesus, o ensinamento da Igreja sobre gênero e sexualidade poderia ser muito diferente. Em vez de uma mentalidade de escassez que mantém um padrão estritamente concebido para o que é considerado 'normal' ou 'certo', poderíamos reconhecer a maravilhosa diversidade da intenção criativa de Deus.
“Talvez mulheres, pessoas LGBTQ+, membros de comunidades historicamente minorizadas e outros considerados 'diferentes' (ou até mesmo 'desordenados') desfrutassem da mesma presunção de humanidade plena que seus vizinhos cisgêneros, heterossexuais e homens brancos”.
A mentalidade de abundância também teria implicações no ministério pastoral, como diz Horan:
“Se o nosso trabalho pastoral fosse motivado por uma teologia da abundância e não da escassez, poderíamos descobrir que a proclamação frequente de que 'todos são bem-vindos' nas nossas comunidades de fé seria vivida de forma mais autêntica através das nossas ações.
Talvez isso signifique que um ministério de presença tenha prioridade sobre o proselitismo, e que o convite amoroso à comunidade tenha prioridade sobre a condenação ou a rejeição. Pode também significar não apenas atender aos membros que escolhem a si mesmos em nossas igrejas, mas também alcançar outras pessoas em nossas comunidades, especialmente as mais vulneráveis."
Segundo Horan, essa abordagem de abundância pode ter implicações para a compreensão da ideia de vocação e também para o diálogo ecumênico e inter-religioso, estimulando uma abordagem mais generosa à amizade e ao diálogo.
Operar a partir de uma mentalidade de abundância prioriza a natureza abundante e infinita do amor de Deus e pode ajudar os cristãos a encarar o mundo a partir dessa perspectiva de abundância, em vez de uma perspectiva de medo e interesse próprio. Dentro dessa estrutura teológica, pessoas LGBTQ+ emergem do amor abundante e da criatividade de Deus, e atitudes cristãs de inclusão, hospitalidade e justiça fluem da experiência de receber a abundância de Deus.
Guiado por esses princípios, Horan convida todos os cristãos: “…vivamos de modo a anunciar a irrupção do reino de Deus por meio da nossa aceitação da abundância”.