08 Abril 2025
“Veja, o problema é que às vezes se interpreta de maneira ideológica, se enxergam rebeliões quando não existem e não se consegue captar o lado positivo”. O bispo Ambrogio Spreafico é um biblista e professor de hebraico, e conhece muito bem o valor das discussões no Talmud: “Os rabinos Shammai e Hillel se contrapõem e sua disputa aumenta o conhecimento, é um valor. A discussão também faz parte do método sinodal, é o método sinodal, caso contrário não existe”.
A entrevista com Ambrogio Spreafico, é de Gian Guido Vecchi, publicada por ‘Corriere della Sera’, 04-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas o que aconteceu, de fato?
Surgiram pontos críticos na composição do documento. O texto amadureceu rápido demais, não é culpa de ninguém. Ele contém uma série de proposições interessantes que, no entanto, precisam ser reescritas, só isso. Era preciso mais tempo para reunir as sugestões recebidas e definir um texto que refletisse as discussões. E isso nos deixa surpresos?
Mas é verdade que houve problemas principalmente nos pontos referentes ao papel da mulher e à homossexualidade?
Certo, em alguns temas há diferentes sensibilidades e surgiram algumas questões críticas. Na Igreja, há diferentes maneiras de abordar os vários temas. Mesmo no meu grupo de trabalho, apareceram diferenças de opinião, que, no entanto, nos permitiram compartilhar a substância do acolhimento e da escuta de todas as diversidades e expressões de vida. Com mais de mil delegados, há posições diferentes, são inegáveis até mesmo algumas expressões de contraste; graças a Deus, não somos um monólito, mas o sínodo é justamente isso. Escutamos e nos escutamos reciprocamente. Exatamente o que o Papa Francisco nos pediu para fazer em Florença em 2015.
Esse é o lado positivo de que estava falando?
Sim. O documento final era um pouco capenga, não respondia a todo o aprofundamento e discussão feita na Igreja italiana, nem poderia fazê-lo em tão curto espaço de tempo. Então, sabiamente, o Presidente Zuppi, com o conselho permanente, propôs que se tomasse mais algum tempo e a ideia foi aceita com entusiasmo. A assembleia dos bispos de maio foi adiada para novembro justamente porque terá que receber o documento aprovado no final do caminho sinodal.
O que resultará disso?
Syn-odós significa percorrer o mesmo caminho juntos. É natural que haja discussões, às vezes acaloradas. Mas, no final, se chega a uma síntese. Isso deve ficar claro. Olhar para isso de outra forma é meio triste e um tanto ideológico. Se ao menos outras assembleias fizessem o mesmo...