25 Março 2025
O artigo é de Andrés Torres Queiruga, teólogo, publicado por Religión Digital, 21-02-2025.
Confesso que me sinto muito desconfortável toda vez que leio nos jornais ou ouço na televisão um pedido para orar pelo Papa. Ou pela unidade das igrejas, pelo fim da fome na África, pelo término das massacres na Palestina, pela paz na Ucrânia... Obviamente, o que me surpreende não é que se peçam orações. Os problemas nos preocupam a todos, como pessoas que não queremos abrir mão da nossa humanidade. Claro, também aos que, homens ou mulheres, nos sentimos e queremos viver como pessoas cristãs. E certamente não podemos deixar de pensar em Deus à vista de tudo isso. Nele e em sua presença cremos como centro da nossa vida e critério último da nossa conduta.
Orar é, portanto, normal. Pensar em Deus e entrar conscientemente nessa relação, tão difícil e misteriosa quanto normal e espontânea, que é a oração. Sem ela, a fé não é possível, assim como uma fazenda não pode dar frutos sem água, como dizia a santa de Ávila. O problema não está em orar. O problema está em como orar.
Os títulos da imprensa e os apelos dos pastores parecem deixar isso claro: orar seria, ou seria quase sempre, pedir. E a pergunta surge por si mesma: pedir o quê ou para quê? Para que Deus cure o Papa ou acabe com a guerra? É preciso informá-lo sobre o que está acontecendo ou convencê-lo a agir e tomar uma providência? Mas o Mestre de Nazaré, na única ocasião em que falou de maneira expressamente crítica sobre este tema nos evangelhos, foi claro e explícito: “E, ao orar, não vos percais em palavras como fazem os pagãos, acreditando que Deus os ouvirá por falar muito. Não sejais como eles, pois vosso Pai já sabe o que necessitais antes que vós lho peçais” (Mt 6,7-8).
Assim, as coisas já não são tão claras. Os que vivemos em uma cultura que passou pela Ilustração, descobrimos que tudo o que acontece no mundo obedece a leis próprias, sejam as leis da natureza ou as decisões da liberdade humana. É, portanto, dentro do mundo e atendendo a suas leis, que algo pode ser modificado, para melhorá-lo ou alterá-lo. Por isso, estudamos as causas das doenças ou dos terremotos, e buscamos remédios mais ou menos eficazes. E por isso, a cultura atual é muito zelosa da autonomia humana. Não queremos que ninguém force ou suplante nossa liberdade.
Os cristãos vivem, vivemos, como todos nesse mundo e tivemos a sorte de ouvir o Vaticano II proclamando: “Se por autonomia da realidade terrena se quer dizer que as coisas criadas e a própria sociedade desfrutam de leis e valores próprios, que o ser humano deve descobrir, empregar e ordenar pouco a pouco, é absolutamente legítima a exigência dessa autonomia” (Gaudium et spes, n. 36).
A oração se realiza neste mundo, dentro de nosso tempo, e se dirige ao Deus anunciado por Jesus. Por isso, não faz sentido “pedir-lhe” que rompa essas leis, anulando a autonomia e fazendo milagres para suprir o que nós não podemos ou não queremos fazer. Por outro lado, também não faz sentido informá-lo ou convencê-lo. E aqui está o ponto, e a verdadeira pergunta surge novamente: então, faz sentido a oração de petição? Não, claramente não, se isso significa continuar com a rotina de rogar a Deus que cure o Papa, sem levar em conta as críticas mais elementares que hoje vêm à mente de qualquer pessoa. O que aconteceria se Ele o curasse? Então, por que a ele e não aos milhares e milhões de doentes, que também são filhos Dele? E se não o cura, onde estão o Seu amor e Seu poder infinito? Repito novamente: faz sentido pedir e, se não faz, vale a pena orar?
Essas duas perguntas são muito distintas. Para a primeira, é preciso reconhecer que não parece fazer sentido. Já a segunda, sim, pode fazer sentido e de fato tem sentido. Desde a fé no Deus anunciado por Jesus, penso que não só é assim, mas que abre uma porta de luz que anima a confiança, chama ao compromisso e assegura a esperança. Podem parecer meras palavras, se não forem preenchidas com a ideia do Deus que, criando por amor, pensa unicamente no bem de sua criatura.
Como já dizia São Irineu no século II, sua glória consiste em nos apoiar e ajudar na nossa realização mais autêntica, plena e feliz possível. Algo que, como bem sublinharam Schelling e Kierkegaard e até chamou a atenção aprobatória de Sartre, só é possível diante de Alguém que, agindo desde sua plenitude, pode respeitar a liberdade e a autonomia daqueles a quem dá todo o seu ser.
Por isso, Deus cria criadores e, expresso pela fé, traz à vida filhos e filhas, a quem desde sempre e sem exceção acompanha, apoia e ajuda no caminho da realização mais plena possível na história e na esperança da realização definitiva, apesar do mal inevitável devido às leis da finitude natural e às resistências da liberdade humana.
É nesse contexto que se inscreve a oração autêntica, com seu verdadeiro sentido. Diante da doença do Papa, ou da nossa ou de qualquer ser humano, não se trata de reprimir a expressão do desejo ou sufocar a compaixão. Mas não para expressá-las alimentando a atitude desmobilizadora de uma petição que, deixando a solução para Deus, permite ficar tranquilos e voltar para casa. E sim para assumí-las ativamente, sabendo-nos acompanhados em nossa preocupação e fortalecidos em nosso desejo, para sintonizar com sua incansável chamada no fundo mais autêntico de todo coração humano. Chama a colaborar em seu trabalho de levar adiante sua luta contra o mal inevitável em um mundo finito, onde Ele está sempre no doente contra a doença, na vítima contra o algoz, na esperança contra a angústia.
Sou muito consciente de que, após séculos dizendo o contrário, tudo isso pode soar como um discurso piedoso ou uma especulação teológica. Mas convidaria a ultrapassar os estereótipos e voltar às palavras originais que falavam em nome de Deus. Às vozes dos profetas, a favor dos órfãos e das viúvas, dos escravos e dos estrangeiros. À Boa Nova de Jesus, anunciando que, mesmo quando não se crê com a cabeça, Deus crê no homem que visita o doente, veste o nu, dá pão ao faminto. Não só apoia e anima, mas se identifica com o doente, com o pobre ou com a vítima: "a mim me o fizestes".