13 Dezembro 2017
O deserto e a terra ressequida se regozijarão; o ermo exultará e florescerá como a tulipa; irromperá em flores, mostrará grande regozijo e cantará de alegria. A glória do Líbano lhe será dada, como também o resplendor do Carmelo e de Sarom; verão a glória do Senhor, o resplendor do nosso Deus. Fortaleçam as mãos cansadas, firmem os joelhos vacilantes; digam aos desanimados de coração: "Sejam fortes, não temam! Seu Deus virá, virá com vingança; com divina retribuição virá para salvá-los". Então se abrirão os olhos dos cegos e se destaparão os ouvidos dos surdos. Então os coxos saltarão como o cervo, e a língua do mudo cantará de alegria. Águas irromperão no ermo e riachos no deserto. A areia abrasadora se tornará um lago; a terra seca, fontes borbulhantes. Nos antros onde outrora havia chacais, crescerão a relva, o junco e o papiro. E ali haverá uma grande estrada, um caminho que será chamado Caminho de Santidade. Os impuros não passarão por ele; servirá apenas aos que são do Caminho; os insensatos não o tomarão. Ali não haverá leão algum, e nenhum animal feroz passará por ele; não se acharão ali. Só os redimidos andarão por ele, e os que o Senhor resgatou voltarão. Entrarão em Sião com cantos de alegria; duradoura alegria coroará suas cabeças. Júbilo e alegria se apoderarão deles, e a tristeza e o suspiro fugirão. (Isaías 35: 1- 10)
O comentário é de Fulvio Ferrario, teólogo evangélico italiano, professor de Teologia Sistemática na Faculdade de Teologia de Valdezia, em Roma, membro da Igreja valdense e doutor em Teologia, publicada por Riforma - Semanário das Igrejas Evangélicas Batistas Metodistas e Valdenses da Itália, 15-12-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Eu tenho um sonho", dizia Martin Luther King , em um dos discursos mais famosos do século XX. Ouvi-lo causa arrepios ainda hoje. Testemunhas relatam que a grande cantora gospel Mahalia Jackson incitava o orador pedindo: "Fala do sonho, Martin". E Martin falou.
Era o sonho de um futuro sem racismo e sem discriminação, um sonho de paz, justiça e liberdade para os negros, mas também para os brancos, para os americanos, mas também para o mundo inteiro.
Isaías também sonha. Ele sonha com um futuro diferente do drama do presente; ou, se lermos o capítulo à luz dos outros que o seguem, ele interpreta um feliz acontecimento na história de Israel, ou seja, a não destruição de Jerusalém por Senaqueribe, como o início de um radiante futuro para o povo escolhido. Esse sonho é expresso com imagens repletas de alegria. Encontramos, em primeiro lugar, a visão repetida do deserto que floresce e se torna como a planície de Sharon que, ainda hoje, é a região mais fértil e populosa de Israel; depois tem a imagem dos corpos revitalizados, o cego que vê, o surdo que ouve e o coxo que salta como um cervo; e, por fim, a visão do caminho sagrado que leva a Sião, onde não existem animais selvagens nem perigos, onde nem mesmo os distraídos se perderão; um caminho seguro, um protesto contra a precariedade do presente.
O sonho político de Martin Luther King também é alimentado pela fé na ação libertadora de Deus. É Deus que faz sonhar o profeta, que faz sonhar o dr. King. É Deus que, segundo a Bíblia, quer que nós sonhemos.
Cinquenta e quatro anos após o discurso de Washington, essas palavras, vibrantes e que fazem vibrar, poderiam parecer quase humor negro colocadas ao lado da imagem do atual presidente dos Estados Unidos, que não encarna um sonho, no máximo, um delírio, e não faz isso com o poder de uma palavra, por mais eficaz que seja, mas com a da superpotência que ele governa. E algo semelhante poderia também ser pensado sobre o sonho de Isaías. Sonhar pode ser perigoso: corre-se o risco de acordar abruptamente caindo da cama. Já havia afirmado isso outro revolucionário negro, Malcolm X:
"Enquanto o dr. King tinha um sonho, os negros da América estavam tendo um pesadelo". E são muitos que repetem isso hoje: o sonho da justiça de Deus é, na melhor das hipóteses, uma devota ilusão; na pior das hipóteses, uma perigosa intoxicação.
A fé cristã considera, no entanto, que o sonho de Isaías, e também o de Martin Luther King, sejam como fontes que fluem do próprio Deus e que irrigam um presente árido e estéril. O sonho não é a descrição antecipada do mundo por vir, mas o florescimento do desejo de olhar para frente, sem se resignar ao cinismo cotidiano. O sonho de Isaías não é fuga para um futuro de fábula, mas o desejo de um compromisso em um presente difícil.
O tempo do Advento, que a Igreja vive nestas últimas semanas, fala sobre Jesus que vem a este mundo, o sonho de todos os sonhos. Esse imenso sonho é vivido por todos aqueles que forem cativados, por todos os cristãos e cristãs, também na forma dos sonhos do dia-a-dia: uma sociedade sem discriminação sexista e sem violência machista; a existência de trabalho vivida também com paixão e não apenas pelo esforço bruto; os anos da velhice passados com humanidade e não apenas vegetando; a possibilidade de viver o próprio morrer e não apenas sofrê-lo.
Sonhos terrenos que se tornam fragmentos do grande sonho do novo mundo de Deus. A fé cristã sonha o futuro e para isso tenta viver o presente com paixão.
Nem sempre faz isso como gostaria, nem como deveria, mas continua tentando cada vez de novo. Não vai ser tudo, mas no mundo tão deprimido em que nos encontramos, já não será pouca coisa. Amém.
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O sonho de todos os sonhos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU