12 Novembro 2016
"O protestantismo que se encontra com Francisco não deve se envergonhar da própria e evidente fraqueza institucional, nem rasgar as suas vestes pelo fato de não conseguir ‘furar a tela’."
A opinião é do teólogo e pastor valdense italiano Fulvio Ferrario, decano da Faculdade Valdense de Teologia de Roma. O artigo foi publicado no sítio Notizie Evangeliche (NEV), 09-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Já o sabemos: Francisco é o homem dos gestos simbólicos: e um papa que participa de uma grande assembleia luterana, por ocasião da inauguração de um ano de celebrações da Reforma, faz um "gesto". Naturalmente, o pontífice não "celebra" nem "festeja" a Reforma, mas "faz memória" dela.
Porém, enquanto isso, ele está lá, irmão entre irmãos, e até mesmo com algumas irmãs. Não pode ser suficiente, naturalmente, para passar "Do conflito à comunhão", como diz o título do documento luterano-católico preparado em vista de 2017, mas certamente é um passo, e não o primeiro, nessa direção.
As palavras dos dois discursos papais em Lund e Malmö, em vez disso, embora muito cordiais, não parecem particularmente inovadoras. Por outro lado, é sempre difícil, para meros mortais, distantes das centrais dos poderes eclesiásticos, avaliar o impacto também de discursos nada explosivos em determinados ambientes.
Há quem esteja pronto para jurar que a presença do papa na Suécia foi considerada por muitos católicos pelo menos como inoportuna. Alguns também manifestaram de forma barulhenta a sua discordância, a tal ponto que um frei dominicano (filho de um pastor luterano) achou por bem chamar a polícia.
O protestantismo internacional parece extremamente satisfeito, o luteranismo, até mesmo eufórico. Os evangélicos italianos também ficaram assim quando Francisco os visitou. Não só isso é compreensível, mas também justo. O fato de que cercas dessa magnitude sejam, senão derrubadas, certamente rachadas não pode ser subestimado. As Igrejas têm diante de si uma bela oportunidade para acelerar o caminho rumo à unidade.
Precisamente nessa perspectiva, no entanto, podem não ser inoportunas algumas observações críticas: não em relação ao papa, nem ao movimento ecumênico como tal, mas sim a nós mesmos, protestantes que celebram o seu "jubileu".
A primeira diz respeito ao ecumenismo entre evangélicos. O papa, em Lund, encontrou-se com uma das Igrejas protestantes, a luterana. A Declaração Conjunta sobre a Justificação também foi assinada por católicos e luteranos, aos quais, depois, somaram-se outros. Não é só o Vaticano que "divide para comandar", são os evangélicos que permanecem, senão divididos, certamente não unidos. Depois de cinco séculos, seria hora de ir além.
A segunda observação diz respeito à euforia pelas visitas do papa. Posso estar errado, mas tenho a impressão de que ela tem a ver também com a grande visibilidade que o pontífice causa àqueles que estão, por um instante, perto dele. Que fique claro: não há nada de mal no fato de que, de vez em quando, alguns dentre nós se dão conta disso e até mesmo fiquem felizes com isso. Porém, é preciso dizer que essa luz refletida, além de ser efêmera, tem as suas ambiguidades. Não é o caso de fugir dela, mas é bom vivê-la com uma certa autoironia.
Por fim, uma palavra sobre a vocação, isto é, sobre a razão de ser da Igreja evangélica. O papa, qualquer papa, encarna uma das instituições mais poderosas do mundo, sustentada por uma força midiática impressionante e bem consciente de si mesma, apesar de toda a retórica em sentido contrário.
Francisco (mas também os seus antecessores fizeram isso, a seu modo) associa a tudo isso uma mensagem espiritual de elevado perfil. O protestantismo que se encontra com ele não deve se envergonhar da própria e evidente fraqueza institucional, nem rasgar as suas vestes pelo fato de não conseguir "furar a tela".
Em vez disso, ele tem a tarefa de mostrar em que sentido a própria fraqueza é vivida, de acordo com o que afirma o apóstolo Paulo, a serviço do poder da mensagem de Cristo, sem complacências de um lado nem complexos de outro.
No encontro, veremos se tal testemunho será feito diante do papa, ao lado dele ou junto com ele e a sua Igreja. A Reforma foi forçada a viver, com grandes perigos e sofrimentos, a primeira situação. Quinhentos anos depois, existem as premissas para ir além da segunda e começar a viver a terceira.
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Diante do papa, ao lado dele ou junto com ele? Artigo de Fulvio Ferrario, pastor valdense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU