21 Março 2025
Estreia em salas de Porto Alegre, São Paulo e Rio o longa 'Sobreviventes do Pampa', que revela a realidade de quem vive na imensidão cada vez mais degradada do bioma
A reportagem é de Gilson Camargo, publicado por Extra Classe, 19-03-2025.
Sobreviventes do Pampa foi consagrado como melhor longa gaúcho pelo júri popular quando estreou no Festival de Cinema de Gramado 2023. Filmado na Pampa profunda, no interior de 13 municípios do Bioma Pampa, o longa-metragem documental é protagonizado por pecuaristas familiares, assentados da reforma agrária, comunidades remanescentes de quilombolas e povos indígenas.
Mostra o que acontece com um território que já tem mais da metade de sua área nativa devastada e aponta que as respostas para salvá-lo podem estar nas vozes historicamente silenciadas, dos povos e comunidades remanescentes que habitam há séculos este território.
Leva o expectador a um mosaico de diferentes identidades sociais, incursionando entre os povos e comunidades tradicionais, apresentando a biodiversidade do bioma e fazendo um alerta sobre o risco iminente à sua existência devido à acelerada degradação do meio ambiente.
Sobreviventes do Pampa tem lançamento nesta quinta-feira, 20, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Na capital gaúcha estão confirmadas a Cinemateca Paulo Amorim, que já vem exibindo o filme em pré-estreia e o Cinesystem Bourbon Country. O documentário permanece em cartaz até dia 26 de março também em em São Paulo, no Espaço Petrobras, e no Rio, no Ponto Cine.
O documentário já foi exibido no 14º Festival Internacional de Cinema da Fronteira (FICF), estreou no London Director Awards 2024, integrou a seleção oficial do Rome Prisma Film Awards 2024 e ainda entrou na seleção oficial do 32º Ecocine – Festival Internacional de Cinema Ambiental e Direitos Humanos. Depois disso, participará dos festivais Xposure International Photography & Film Festival, All That Moves International Film Festival e Festival Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de Arquivo, promovido pelo Arquivo Nacional.
Com direção de Rogério Rodrigues, direção de fotografia de Lívia Pasqual, o projeto foi classificado e contemplado em 1º lugar na finalidade Produção de Longa-metragem ficção/documentário do Edital Sedac 05/2019 FAC Pro-Cultura RS, promovido pela Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.
A abordagem à degradação do Pampa, a desterritorialização do bioma e a perda de capacidade de reprodução social e cultural das comunidades dependentes desse território para se reproduzir socialmente, o documentário vem sendo discutido em sala de aula desde a estreia, nas disciplinas do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que incluem os povos e comunidades tradicionais do Pampa.
“Trabalhamos uma aprendizagem significativa que dialoga com o contexto local, onde o conhecimento dos povos e comunidades tradicionais é a base para pensarmos em outras estratégias de convivência nos territórios com a natureza, além de outros modelos de produção que sejam menos impactantes e que resgatem a forma como esses povos e comunidades se relacionam com seus territórios”, explica Patrícia.
Ela destaca que o documentário revela como a fisionomia campestre do bioma Pampa impacta a percepção das pessoas sobre sua relevância ecológica, social e cultural, além das ameaças que enfrenta em razão da falta de conhecimento.
“Temos que entender essa fisionomia, que essa paisagem faz parte desse bioma e que existem essas comunidades e esses povos tradicionais que dependem dessa paisagem e dessa natureza, que é sim abundante e que, ao longo dos anos, vem sendo invisibilizada e, com isso, também é descaracterizada e suprimida da paisagem, em função dessa falta de visibilidade para a importância desse bioma. Muitas vezes, ele não é muito bem tratado nos materiais didáticos, onde outros biomas, como Mata Atlântica, Amazônia e Pantanal, têm um destaque maior, enquanto o nosso bioma às vezes fica restrito a poucas páginas ou a uma contextualização não exatamente fidedigna ao que o Pampa de fato é”, pontua.