12 Março 2025
Este ano, a Páscoa une simbolicamente as principais tradições cristãs, católica, protestante e ortodoxa, em uma única data. Em Alexandria, no Egito, a Comissão de Fé e Constituição do Conselho Ecumênico de Igrejas (CEI) se reunirá em um encontro que representa o fulcro das atividades do CEI por ocasião do 1700º aniversário do primeiro Concílio Ecumênico de Niceia. O ano de 2025, além disso, se tornou “jubilar” para a Igreja Católica. Nesse contexto, apresentamos algumas perguntas ao pastor valdense Pawel Gajewski, coordenador da Comissão Consultiva para Relações Ecumênicas das Igrejas Batistas, Metodistas e Valdenses, para refletir sobre unidade litúrgica e diálogo, comemorações, ecumenismo e relações com o judaísmo.
A reportagem é de Elena Ribet, publicada por Nev, 06-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Que progresso real pode ser esperado dessa “Páscoa comum” no sentido da unidade cristã e da reflexão teológica?
A terminologia correta seria Páscoa Oriental e Páscoa Ocidental, e eu pessoalmente não espero nenhuma mudança radical. Embora para o catolicismo este seja o ano do Jubileu e para os cristãos do Oriente e do Ocidente seja o aniversário do Concílio de Niceia, além disso, a coincidência das duas Páscoas não é novidade, já aconteceu no passado. Tenho a impressão de que o caminho para um acordo permanente ainda será longo: é possível? Não acredito que aconteça este ano, embora seria uma ocasião especial.
O Concílio de Niceia (325 d.C.) teve um papel decisivo na história cristã e este ano se celebram os 1.700 anos desse evento. Que reflexões estão sendo desenvolvidas sobre esse aniversário e a possibilidade de encontrar caminhos comuns para o futuro?
O Concílio de Niceia uniu o cristianismo, mas também marcou a primeira divisão: de um lado os cristãos fiéis à doutrina nicena, de outro os arianos, depois exilados fora das fronteiras imperiais. Com as invasões bárbaras, o arianismo ressurgiu e, no fim do século VII, dois cristianismos coexistiam na Itália: aquele ligado aos primeiros concílios até Calcedônia e aquele ariano, que rejeitava as formulações dogmáticas.
Como valdense, vejo o ponto de vista do mito da fundação de uma minoria cristã que rejeita o modelo constantiniano da Igreja. Niceia foi convocada por Constantino para estabelecer com clareza o que todo cristão deveria crer e professar publicamente. Isso levanta uma questão que ainda é atual: até que ponto um poder secular - seja ele um soberano, um parlamento ou um estado - pode intervir em questões de fé? O risco de ingerência diz respeito não apenas ao cristianismo, mas também ao islamismo, ao judaísmo e ao budismo. Pessoalmente, acredito que nenhum poder secular deveria estabelecer doutrinas religiosas.
O mundo cristão frequentemente celebra aniversários e datas comemorativas que são historicamente questionáveis: por exemplo, propõe-se celebrar os 2.000 anos da ressurreição de Cristo em 2033, mas sabemos que Jesus teria nascido por volta de 4 a.C. e, portanto, a data de sua morte também seria diferente.
Como as igrejas se posicionam nesse cenário, e quanto pesa a necessidade de certeza simbólica em relação à pesquisa histórica e teológica?
O cenário é simbólico, histórico e teológico. O ano de 2033 marcará o 2000º aniversário da morte e ressurreição de Jesus, mas celebrações e eventos religiosos já foram realizados em 2000. São datas altamente simbólicas, de fato, mas não são historicamente fundamentadas: tanto o nascimento de Jesus quanto sua crucificação deveriam ser antecipados em cerca de quatro anos, portanto, para 1996 e 2029. No entanto, essas datas não são “vendáveis” no mercado religioso, que inclui peregrinações, mercadorias e eventos, como foi o caso do Jubileu de 2000.
Luca Diotallevi, no livro Fine corsa, fala sobre empreendedorismo religioso, um fenômeno no qual a religião - não a fé - entra no mercado. Mas o próprio Jesus expulsou os mercadores do templo, e devemos estar atentos para evitar uma mercantilização excessiva da fé. A verdadeira fé não se deixa levar por simbolismos efêmeros, mas interage com a cultura e a ciência. Ela é um antídoto contra entusiasmos superficiais e encontra sua autenticidade na gratuidade da graça. Isso não exclui o empenho ecumênico, mas também não o impõe.
Em alguns casos, o ecumenismo corre o risco de continuar sendo uma operação mais formal do que substancial, com tentativas de “apropriação” de significados e símbolos para reforçar uma narrativa unitária que, no entanto, tem dificuldade em se traduzir em um compartilhamento real. Em sua opinião, quais são os pontos frágeis mais evidentes dessa abordagem?
Qualquer apropriação nesse campo é indevida. O Credo Apostólico professa a Igreja como universal e católica, não no sentido exclusivo da Igreja de Roma, mas como realidade com uma dimensão invisível e outra visível, composta por instituições humanas, falíveis e provisórias, como lembrava o teólogo e pastor valdense Vittorio Subilia.
A Páscoa é a festividade cristã por excelência e pertence a todos os cristãos, independentemente da igreja ou denominação. Eventos históricos como o Concílio de Niceia e celebrações como a Páscoa devem ser estímulos para aprofundar a comunhão com o divino. Jesus é o ponto de referência, o único mediador entre Deus e a humanidade. Martin Buber, embora não fosse cristão, enfatizava que a fé surge de uma dimensão individual antes de se tornar uma experiência comunitária. A igreja visível é composta de instituições humanas inspiradas pela Palavra de Deus, mas em suas interpretações despontam divergências, às vezes bem profundas.
No diálogo entre as igrejas cristãs, a Páscoa muitas vezes permanece na sombra, enquanto persistem atitudes de distanciamento ou até mesmo de remoção. Como as igrejas podem superar esse silêncio e recuperar uma consciência mais autêntica das raízes da Páscoa?
Criou-se um entrelaçamento perigoso entre dimensões política, social e questões de fé. Para mim, uma data comum para todas as igrejas cristãs deveria coincidir com a Páscoa judaica. Essa seria a solução ideal, mas sei que não acontecerá: em muitas igrejas ortodoxas ainda persiste a teologia da substituição, segundo a qual a Igreja teria substituído o povo de Israel. Nas igrejas da Reforma, essa teologia foi superada, com uma confirmação solene em 2017, no 500º aniversário da Reforma Protestante. Entretanto, em algumas alas conservadoras do catolicismo e em uma parte do mundo ortodoxo, resistências permanecem. Para eles, a Páscoa cristã é um evento em si, mas na realidade é o cumprimento da Páscoa judaica, não sua substituição. Devemos rejeitar qualquer argumento que exalte a centralidade da Páscoa cristã sem reconhecer suas raízes judaicas. Além disso, devemos ser capazes de distinguir eventuais correntes antijudaicas ou até mesmo antissemitas que correm o risco de deformar o discurso.