18 Fevereiro 2025
"E terceiro, todas as pautas focais que subiram a rampa com o presidente vem sendo abandonadas em nome da governabilidade", escreve Marcelo Seráfico, graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Amazonas (1995), mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (2002) e doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Amazonas, 15-02-2025.
Pesquisa de opinião publicada na semana passada, mostra a queda da aprovação do governo Lula, que equivale a cerca de 24% das pessoas entrevistadas.
Haverá os que rejeitam o dado; outros o interpretarão como uma avaliação injusta das pessoas abordadas; outros, ainda, arriscarão hipóteses sobre o que explicaria o fato. Estou dentre estes.
O governo não ouve a voz das ruas... a não ser uma, a Faria Lima. É aos sussurros e gritos vindos de lá que se juntam os berrantes do agro. Surdo para toda e qualquer crítica que desagrade os que garantem a "governabilidade", o governo progressista cava a sua cova política e prepara a sepultura dos que diz defender.
Não se trata apenas de cinismo e hipocrisia, mas de covardia.
Na linguagem de Gramsci, o governo do PT é transformista: eleito com uma proposta popular, governa para as elites.
Essa crítica não é nova. Ela vem desde os primeiros 4 anos de Lula. Todavia, é na terceira "gestão" que a traição de classe é mais evidente.
Primeiro, porque o governo sabe que os índices com os quais avalia a situação do emprego representam uma ficção. A baixa taxa de desempregados poderia ser contrastada com o número de horas trabalhadas necessárias para manter a sobrevivência. Isso ajudaria a entender a precariedade do trabalho.
Segundo, os relativamente baixos índices de inflação, como o PIB, expressam agregados econômicos que, quando desagregados, nos fazem ver quem de fato vive um processo inflacionário. As altas são dos bens de primeira necessidade, particularmente, produtos alimentícios. Ou seja, o trabalhador, cujo trabalho já é precário e mal remunerado, precisa trabalhar ainda mais para fazer frente ao aumento do custo de vida.
E terceiro, todas as pautas focais que subiram a rampa com o presidente vem sendo abandonadas em nome da governabilidade. Terras Indígenas não são legalizadas; trabalhadores rurais não são beneficiados por nenhum tipo de reforma agrária ou crédito que se aproxime do oferecido ao agro; e a pauta ambiental tende a se resumir a eventos financiados pela Petrobras, pelo agro e pelos financistas para avaliar os modos mais rentáveis de monetização das florestas em pé.
Tudo em nome do desenvolvimento da nação!!