04 Outubro 2024
Uma pesquisa no Brasil mostra que a confiança dos mais pobres no atual governo caiu. O Executivo precisa entender que o país, assim como o mundo, mudou.
O artigo é de Juan Arias, jornalista e escritor espanhol, publicado por El País, 03-10-2024.
O retorno do presidente brasileiro Lula de sua viagem ao México, onde assistiu à posse da nova presidente, Claudia Sheinbaum, foi duplamente agitado. Primeiro por causa do acidente de avião, que o fez atrasar o regresso, e depois porque à sua chegada o aguardavam os resultados inesperados do inquérito da agência Quaest, que contra todas as previsões revela que são os pobres que avaliam pior o seu Governo.
Embora os dados sobre a economia do terceiro mandato de Lula não possam parecer mais favoráveis nas agências internacionais, e apesar do esforço do Governo em concentrar a sua atenção na melhoria da vida dos mais pobres, a pesquisa revela que aumentaram 13 pontos, o que torna a sua gestão igual ao de seu antecessor, o direitista Jair Bolsonaro.
A sua maior taxa de rejeição também aparece inexplicavelmente entre os católicos, que sempre foram os melhores aliados da esquerda, enquanto 61% dos inquiridos consideram que o seu poder de compra piorou. No total, a aprovação do Governo caiu entre 4% e 7% entre os mais desfavorecidos. E a esperança de melhora da economia aumentou 7 pontos, o que é uma surpresa diante dos dados indiscutíveis sobre a trajetória positiva da economia brasileira em geral.
Talvez para analisar o resultado surpreendente da nova pesquisa nacional, que diminui a confiança, principalmente dos mais pobres, no Governo Lula, fosse necessário entender que hoje em todo o país o que mais preocupa – até mais que a economia – são outras questões. que o Governo ainda não enfrentou com o rigor esperado. Trata-se, por exemplo, do enorme aumento da violência e da insegurança, que afeta todas as classes sociais, bem como da corrupção política e dos privilégios para os mais ricos.
Para 61% dos entrevistados pela Quaest, o poder de compra dos cidadãos é inferior ao do ano passado, devido à forte inflação alimentar que atingiu duramente as classes mais pobres e até as classes médias.
O Governo Lula, apesar de sua política externa frenética e de sua grande projeção global, precisa compreender melhor, especialmente seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT) , que o Brasil, assim como o mundo, mudou em seus aspectos políticos. A esquerda parece ter permanecido presa aos métodos anteriores de lidar com o chamado proletariado, incapaz de abraçar a nova era digital que revolucionou a política e mudou paradigmas.
Uma demonstração pode ser dada pelos resultados da importante votação de domingo nas prefeituras do país, onde segundo as pesquisas o partido de Lula poderia não conseguir conquistar um único governo regional, mesmo naqueles em que o PT já era maioria, como nos de o Nordeste pobre, de onde Lula veio.
A desconfiança nesta perda do poder local, fundamental para as eleições presidenciais de 2026, fez com que Lula ficasse praticamente desinteressado em conduzir uma campanha pessoal aprofundada para garantir os votos do seu partido nas principais capitais do país onde o poder econômico é administrado e políticos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O resultado inesperado da pesquisa Quaest levantou o alarme do Governo e agora Lula será obrigado a dedicar mais tempo aos problemas internos do seu governo do que a tentar, embora com toda a sua boa vontade, resolver os problemas mundiais, a começar pelo aumento das guerras que mostram suas garras todos os dias com menos modéstia.
O problema do Brasil no momento é que, enquanto isso, a esquerda clássica do passado, centrada no Partido dos Trabalhadores - que se tornou a maior força progressista da América Latina - acabou se tornando burguesa e não conseguiu formar uma nova geração de jovens pessoas que tomam a alternativa do partido. Embora possa parecer difícil de compreender, hoje a nova geração de jovens sente-se mais inclinada, arrastada, pelas sirenes das redes sociais, em busca de um enriquecimento fácil. Eles também querem ser ricos. Assim, é mais difícil para eles se conectarem com os velhos ideais da esquerda e suas lutas em favor dos marginalizados e se sentem atraídos por falsos profetas que lhes oferecem o paraíso no auge de um toque nas redes.
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Aprovação do Governo Lula cai inexplicavelmente e cresce sua comparação com o de Bolsonaro. Artigo de Juan Arias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU