28 Janeiro 2025
"Ao atuarem em conjunto, escolas e famílias criam um ambiente mais saudável e produtivo, ajudando os jovens a enfrentar os desafios da era digital de forma consciente e equilibrada", escreve Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves.
Prof. Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves - Teólogo, Filósofo, Historiador. Graduado em História, Filosofia e Teologia. Mestre em Teologia. Especialista em Ética e também em Projetos e Inovação na Educação. Professor de Teologia, Ensino Religioso, Filosofia e Projeto de Vida.
Eis o artigo.
A parceria entre escola e família é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento dos estudantes, pois integra as bases do aprendizado e da formação ética e social. Esse vínculo, ao se estabelecer com base na confiança e na cooperação mútua, pode ser essencial para o sucesso escolar e para a construção de cidadãos críticos e participativos. No contexto atual, uma das questões que têm mobilizado essa colaboração é o uso de celulares nas escolas, e, especificamente, o debate sobre sua proibição em sala de aula.
Esse tema, recentemente, tem sido palco de discursos e debates acalorados. A discussão sobre a proibição ou a limitação de celulares em ambientes escolares representa um ponto de convergência e também de tensão entre escolas e famílias, pois envolve não apenas questões pedagógicas, mas também de disciplina e saúde mental.
A relação entre escola e família deve ser baseada na confiança e no compartilhamento de responsabilidades. A escola cumpre seu papel como instituição de ensino e formação social, enquanto a família reforça esses valores no ambiente doméstico, oferecendo apoio para que a aprendizagem seja consolidada. Quando existe um entendimento e um alinhamento entre escola e família, os alunos se sentem mais seguros, amparados e motivados a aprender.
Essa parceria também se mostra essencial na adaptação e na evolução das normas escolares, como é o caso da política de uso de celulares. Quando as famílias entendem e concordam com as orientações da escola, e vice-versa, o desenvolvimento de uma cultura disciplinar e educativa ocorre de maneira mais integrada, facilitando o cumprimento de normas e o progresso educacional.
Com o avanço tecnológico, os dispositivos móveis se tornaram uma presença constante na vida dos jovens, oferecendo benefícios, mas também desafios no ambiente escolar. As famílias e as escolas têm encontrado desafios e oportunidades no uso da tecnologia. As escolas defendem que a tecnologia é uma aliada poderosa para o aprendizado, desde que usada de maneira responsável. Entretanto, o uso irrestrito de celulares em sala de aula tem se mostrado prejudicial, com impactos diretos na concentração dos alunos e na qualidade do ensino.
Muitas instituições escolares, em diálogo com os pais, têm optado por uma postura mais restritiva quanto ao uso de celulares, compreendendo que a proibição pode trazer benefícios à educação. Esse movimento representa um "acordo tácito" entre escola e família, visando garantir que o ambiente escolar seja dedicado exclusivamente ao aprendizado e ao desenvolvimento social e emocional dos estudantes. O objetivo não é negar o valor da tecnologia, mas delimitar seu uso para fortalecer a atenção, reduzir distrações e melhorar a interação social em sala de aula.
O debate sobre a presença de celulares nas escolas revela aspectos tanto positivos quanto negativos. Por um lado, o celular é uma ferramenta poderosa, capaz de fornecer acesso a uma imensidão de informações e recursos educativos, por exemplo: projetos que integram o uso de tecnologia, o celular pode apoiar pesquisas, acesso a conteúdos interativos e até o aprendizado de novas habilidades digitais.
No entanto, o uso irrestrito de celulares nas escolas apresenta desafios consideráveis, como distrações constantes, falta de concentração nas aulas e a ocorrência de cyberbullying. Esses fatores levaram muitas escolas e famílias a considerar a implementação de políticas restritivas ou de proibição para o uso de celulares.
Pesquisas indicam que a proibição do celular pode melhorar a capacidade de concentração dos alunos e contribuir para um melhor desempenho acadêmico. Além disso, a ausência do dispositivo pode reduzir comportamentos de comparação social e ansiedade — efeitos comuns nas redes sociais —, promovendo um ambiente de convivência mais saudável. A escola, em parceria com a família, pode orientar os estudantes sobre a importância do uso consciente da tecnologia, favorecendo um ambiente equilibrado e que valorize tanto o aprendizado quanto às relações interpessoais.
Este acordo entre escola e família para limitar o uso de celulares visa promover uma experiência educacional mais tranquila e focada. Ao mesmo tempo, a proibição não deve ser vista como uma simples medida restritiva, mas sim como uma oportunidade para os alunos desenvolverem habilidades de concentração e autogestão, fundamentais em um mundo cada vez mais marcado por estímulos tecnológicos.
Nesse contexto, os pais têm um papel fundamental. Eles devem compreender e apoiar as políticas da escola, colaborando para que os filhos entendam o uso apropriado dos aparelhos eletrônicos. A escola, por sua vez, pode proporcionar momentos de formação e diálogo com as famílias, destacando o impacto que a tecnologia exerce sobre o aprendizado e o bem-estar emocional dos jovens. Assim, ao invés de meramente proibir, a escola se compromete a construir um entendimento compartilhado com as famílias sobre o papel da tecnologia e os limites necessários para o desenvolvimento saudável dos alunos.
O acordo sobre a proibição do uso de celulares nas escolas representa um esforço coletivo em prol do desenvolvimento educacional e social dos jovens. A parceria entre escola e família é, portanto, vital para essa iniciativa, pois, ao apoiar as decisões escolares, os pais reafirmam valores que protegem a educação e o bem-estar dos filhos. Essa cooperação contínua é essencial em tempos de inovação, para que a tecnologia esteja a serviço do aprendizado e da convivência, e não seja um obstáculo para esses fins.
A proibição de celulares nas escolas, quando apoiada pelas famílias, torna-se uma medida mais eficaz e significativa para a formação dos alunos. Este “grande acordo” entre escola e família não visa apenas a eliminação de um problema, mas a criação de uma cultura de respeito e disciplina que contribua para o desenvolvimento integral do aluno. Ao atuarem em conjunto, escolas e famílias criam um ambiente mais saudável e produtivo, ajudando os jovens a enfrentar os desafios da era digital de forma consciente e equilibrada.
Leia mais
- O direito à Escola sem Celulares
- Pais se mobilizam pela redução do uso de celulares por adolescentes na Espanha
- Governo belga proíbe uso de celulares nas escolas
- Franceses voltam às aulas com proibição de celulares nas escolas
- Entre a tela e o futuro: impactos do uso de celulares para os jovens
- A crueldade presente nas escolas: entre a crise de sentido e a banalização do mal. Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves
- Sou visto, logo existo? A relação entre redes sociais e saúde mental em jovens e adolescentes, em debate no Cepat
- Sociedade civil e era digital: velhas questões, novos desafios na era da sociedade da plataforma
- Crianças vítimas de ansiedade: 1 em cada 4 sente-se mal. Os celulares? Depois dos 12 anos. Entrevista com Massimo Ammaniti
- Adolescentes e celulares, um desafio aos pais: “É preciso proibi-los aos menores de 14 anos”
- “O celular já nos dividiu em senhores e escravos digitais”. Entrevista com Peter Vorderer
- A geração do quarto está pedindo socorro
- Uso excessivo do celular pode causar dependência e problemas psicológicos
- Cresce o número de crianças e adolescentes conectados só pelo celular
- Propor uma educação autêntica e educar para o humanismo. Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves
- O bullying “é uma coisa para ser resolvida entre as crianças”
- Bullying: Como evitar uma tragédia?
- Bullying, retrato de um sistema
- O suicídio bate na porta das escolas
- Disseminação das redes sociais digitais obrigou a imprensa a repensar suas dinâmicas. Entrevista especial com Felipe de Oliveira
- 'Redes sociais deixam sociedade mais vulnerável'