17 Janeiro 2025
Em novembro, apenas uma semana após Donald Trump ser eleito para um segundo mandato como presidente do país, Dom Mark Seitz, bispo de El Paso, no Texas, presidente da comissão episcopal para imigração, disse que os bispos seriam cautelosos para não reagirem exageradamente às promessas de imigração de Trump, já que a realidade é diferente da retórica.
A informação é de Aleja Hertzler-McCain, publicada por National Catholic Reporter, 15-01-2025.
Agora, uma semana antes da posse de Trump, depois que o governo afirmou que irá descartar uma restrição sobre as operações de imigração e fiscalização de alfândega em espaços sensíveis, incluindo locais de culto, e após a Patrulha de Fronteira e Alfândega realizar uma grande operação em Bakersfield, Califórnia, Seitz adota um tom mais urgente.
"Estamos correndo o risco de perder parte da nossa alma como nação, então este é um momento de grande preocupação", disse Seitz à RNS, afirmando que a política de imigração deve reconhecer a importância da dignidade humana fundamental e dos direitos inalienáveis.
Seitz, como muitos observadores da imigração, acredita que a operação em Bakersfield antecipa os tipos de operações que podem ocorrer sob o novo governo, que fez das deportações em massa um dos pilares das promessas de sua campanha.
Na segunda-feira (13 de janeiro), Seitz viajou para Newark, em Nova Jersey, para se juntar ao cardeal Joseph Tobin, sua arquidiocese e à Faith in Action, um grupo de organização comunitária inter-religiosa, na Igreja Católica de Santa Lúcia para um dia de oração e diálogo com famílias imigrantes. Após o evento, Seitz visitou a Estátua da Liberdade, que tem um grande significado para ele, especialmente agora, disse à RNS durante a viagem.
Dom Dwayne Royster, ministro da Igreja Unida de Cristo e diretor executivo da Faith in Action, disse que, além dos bispos católicos, havia líderes religiosos da Igreja Unida de Cristo, além representantes judeus e muçulmanos. Além de Tobin e Seitz representando os prelados católicos, bispos auxiliares de Newark e bispos Nova Jersey das cidades de Camden, Metuchen e Paterson também estavam presentes.
O líder da Faith in Action disse que a presença de muitos líderes religiosos diferentes juntos tinha o objetivo de enviar uma mensagem forte contra as deportações em massa, afirmando que "vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para impedir que isso aconteça". Royster afirmou que os líderes também queriam transmitir aos tomadores de decisão no governo que estão pressionando por políticas de deportação em massa: "Se você é uma pessoa que tem fé, está agindo contra a vontade de Deus".
O Rev. Stephen Ray Jr., ex-presidente do Seminário Teológico de Chicago e ministro da United Church on the Green em New Haven, Connecticut, que falou no evento, disse à RNS que achava importante engajar-se em ação inter-religiosa porque "uma parte inteira de como isso está sendo armado contra pessoas muito vulneráveis é apresentado como se as deportações, etc., fossem de alguma forma uma resposta cristã".
"É importante mostrar uma imagem de pessoas de boa vontade de diferentes tradições religiosas, que estamos juntos pelo melhor para a sociedade", disse Ray.
Seitz disse à RNS que um elemento crítico do evento foi ouvir os próprios imigrantes, e ele, Royster e Ray disseram que ficaram comovidos pelos testemunhos de imigrantes que agora temem a deportação sob as políticas propostas pelo governo Trump. "Uma das coisas que mais causa medo é estar sozinho em tempos de provação", disse Seitz. "Essa é uma das coisas que a igreja certamente pode fazer, estar presente para as pessoas que de outra forma poderiam se sentir esquecidas".
Em seu discurso no evento, Tobin disse: "Estamos profundamente preocupados com o impacto potencial das deportações em massa sobre crianças e famílias. Dentro da tradição católica e outras expressões de fé representadas aqui hoje, somos capazes de ver a humanidade em todos". Falou ainda que as comunidades de fé poderiam demonstrar seu amor aos imigrantes por meio de quatro ações: encontro, um termo católico que envolve ouvir, acompanhamento, oração e defesa dos direitos.
Royster, que também lidera uma ordem religiosa chamada Sociedade para a Fé e Justiça, destacou que não apenas os locais de culto, mas também escolas e hospitais, que anteriormente tinham alguma proteção contra as operações da ICE, muitas vezes têm vínculos com tradições religiosas.
"A interrupção do governo está, na verdade, invadindo a liberdade religiosa quando invadem esses espaços", disse Royster à RNS sobre a mudança proposta na política de operações da ICE. "Deveríamos ser capazes de ministrar para aqueles que estão doentes, para aqueles que precisam de educação, para aqueles que buscam uma conexão mais profunda".
Em suas observações preparadas, Seitz também falou sobre a importância desses espaços. "É para santuários como este, para igrejas e templos e lugares santos como este, que a comunidade vem para se formar como um povo", disse ele em um discurso que alertou contra a divisão criada pelo medo e por leis injustas.
"Quando a lei é usada para dividir, para instilar medo, para separar, isso não é uma boa lei. Isso não é uma lei humana. Isso não é uma lei justa. Aos oficiais eleitos, digo, deportações em massa não são uma boa lei", afirmou.
Seitz acrescentou uma ressalva que tem sido parte de sua retórica, especialmente nos últimos meses. "Não nos opomos a ações legítimas de aplicação da lei contra aqueles que ameaçariam a segurança de nossas famílias e comunidades com violência", disse.
Mas, deixou claro, "diante das táticas de intimidação e divisão, a Igreja Católica trabalhará para proteger nossas famílias, para testemunhar a dignidade humana, para defender nossa liberdade religiosa, para se opor ao fechamento de nossas fronteiras e nossos corações, para marchar e trabalhar pela reforma da imigração e boas leis, para jogar água fria nas brasas do ódio, para pregar a boa nova".