8 de janeiro: A democracia venceu, até quando? Artigo de Alexandre Francisco

Foto: Ricardo Stuckert | Palácio do Planalto

09 Janeiro 2025

Sim, presidente, a democracia venceu, mas não vencerá por tanto tempo se não for cuidada diariamente. Assim como uma planta frágil precisa de atenção constante, é necessário um real ato de vontade para protegê-la; caso contrário, as pragas tomarão conta.

O artigo é de Alexandre Francisco, advogado, mestrando em filosofia pela Unisinos, membro da equipe do Instituto Humanitas Unisinos — IHU.

Eis o artigo.

Ontem, no dia 8 de janeiro, o governo promoveu um ato cerimonial em memória da tentativa de golpe ocorrida em 2023, nesta mesma data. Lula deu um abraço simbólico na democracia, reunindo cerca de 1.200 pessoas na Praça dos Três Poderes.

Cerimônia em defesa da Democracia — Foto: Ricardo Stuckert / PR

A importância do evento é indiscutível. No entanto, o governo está ficando para trás quando o assunto é mobilização popular. Sentimentos dúbios emergem. Ao que me parece, o governo Lula 3 é como a Chapeuzinho Vermelho (perdoem-me o truísmo), escondendo-se do Lobo Mau, enquanto nós somos os espectadores da peça. Quiséramos ser meros espectadores, observando de longe, intocáveis e seguros, aflitos com a caça, roendo as unhas e torcendo para que a Chapeuzinho não seja devorada.

Infelizmente, tudo o que acontece no teatro político nos afeta – e como nos afeta! Saindo um pouco das analogias literárias, voltemos à análise do caso: o fato é que, entre os especialistas, há consenso de que o trem do governo está desgovernado e à beira do descarrilamento. Só não enxerga quem não quer.

Lula acreditou por muito tempo no mito do "burguês bonzinho". O arrocho chegou, o jogo virou, e o lobo tirou a fantasia. Eis que apareceram os barões do mercado financeiro que, do alto de seus mandos e desmandos, com a faca e o queijo na mão, mergulhando o mundo no abismo estéril do neoliberalismo. É o fim da convivência, da comunidade, da fraternidade. O dilema é: cada um por si, e o lucro por todos!

Resta-nos também questionar: que tipo de democracia é essa que estamos permanentemente defendendo e a quem ela serve – aos pobres e oprimidos, ou a Elon Musk, à Faria Lima e à bancada do agro? Ao que me parece, o segundo grupo está consideravelmente melhor nesse jogo, cujo tabuleiro é delimitado pela vontade dessa gente. No máximo, estamos apenas mexendo as pecinhas e jogando o jogo deles, não o nosso. No melhor dos cenários estamos defendendo o modelo de estado democrático de direito que legitima seu próprio extermínio, mantendo privilégios e explorando pessoas.

Rememorar o dia 8 de janeiro demonstra um pequeno passo de um governo que não quer comprar briga com ninguém e acaba à mercê de todos. Em 2010, Lula encerrou seu mandato com 87% de aprovação. Que chance histórica! Infelizmente, essa oportunidade foi perdida em um passado remoto. Um apoio popular tão imenso poderia ter viabilizado mudanças verdadeiramente estruturais na sociedade brasileira: enfrentar os poderosos de frente, definir a pauta do dia com firmeza.

Revolução ou reforma? Que revolução linda seria essa – a mais pacífica de todas, em que, num despertar crítico por meio do conhecimento, a sociedade, em um movimento uníssono, compartilhando a dor do outro, rejeitaria os egoísmos do capitalismo de nosso tempo. Um Mahatma Gandhi brasileiro.

Mas tudo isso ficou para trás. Lula escolheu a reforma da burguesia e, quando teve a oportunidade, ela saiu da jaula com ferocidade imensa, devorando-o. Hoje, não sobrou quase nada. O sonho virou pesadelo – ou virou o sonho de quem deseja o pesadelo dos outros.

Sim, presidente, a democracia venceu, mas não vencerá por tanto tempo se não for cuidada diariamente. Assim como uma planta frágil precisa de atenção constante, é necessário um real ato de vontade para protegê-la; caso contrário, as pragas tomarão conta.

A planta cresceu e agora pede mais espaço para expandir e fincar suas raízes. Até quando deixaremos grandes sonhos confinados em vasos que não os comportam?

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