06 Janeiro 2025
Horas depois, nenhum desmentido chega do Vaticano. Um novo capítulo de alta tensão se abre na história das difíceis relações entre o Papa Francisco e o governo de Benjamin Netanyahu.
A reportagem é de Fabrizio Caccia, publicada por Corriere della Sera, 05-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Desta vez, Bergoglio não usou, como fez há dois meses, a palavra “genocídio” a respeito do cerco israelense em Gaza, mas chegou perto.
Há dois dias, ele se encontrou com o reitor da Universidade de Religiões e Denominações do Irã, Abolhassan Navab, no Vaticano. De acordo com a agência de notícias iraniana Irna, que reconstruiu a conversa em detalhes, Navab que elogiava abertamente “a posição corajosa do papa na defesa do povo palestino”, acrescentando que “o Irã não tem nenhum problema com o povo judeu, nosso problema é com assassinos como o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu”, o Papa Francisco teria respondido textualmente: “Nós também não temos problemas com os judeus, o único problema é com Netanyahu que, ao ignorar as leis internacionais e os direitos humanos, criou crises na região e no mundo. As organizações internacionais devem enfrentar essa questão com urgência...”. E ainda: “Não há ninguém que tenha o direito de desrespeitar os direitos humanos e limitar sua liberdade”, teria dito o Papa, citado pela Irna. “Mas hoje há aqueles que querem escravizar os seres humanos e a humanidade para atingir seus objetivos pessoais”.
Concordando com ele, o reitor iraniano disse: “Não devemos permanecer em silêncio na defesa dos oprimidos, independentemente de raça, cor, etnia e religião”.
Em suma, há o suficiente para reabrir a ferida com Israel, especialmente porque ontem no L'Osservatore Romano, o jornal diário da Santa Sé, também apareceu um artigo sobre o encontro em Damasco, em 31 de dezembro, entre o novo líder sírio Abu Mohammed al Jolani e Ibrahim Faltas, vigário da Custódia da Terra Santa. E as palavras de Jolani certamente não passaram despercebidas: “Sinto grande admiração, estima e respeito pelo Papa Francisco. Ele é um verdadeiro homem de paz, tenho apreciado seus apelos e suas ações em favor da paz e dos povos em dificuldade. Os cristãos são parte integrante da Síria”. O papa também falou sobre a paz ontem à noite no Tg1, desejando à Itália felicidades para o Ano Novo: “Rezemos pela paz e para que a Itália siga sempre em frente, que os políticos cheguem a um acordo”.
Assim, na frente diplomática, por enquanto se registra apenas o fato de que na Sala Paulo VI, no Vaticano, a estátua do Menino do presépio não está mais apoiada sobre um keffiyeh, o típico lenço palestino, mas sobre palha. De fato, a instalação inicial, doada por um grupo de artistas de Belém, havia gerado grandes polêmicas.
Mas há dois meses, quando foram divulgados trechos do livro de Francisco para o Jubileu (A esperança nunca decepciona. Peregrinos rumo a um mundo melhor), havia causado muito alarde aquela sua fatídica frase: “De acordo com alguns especialistas, o que está acontecendo em Gaza tem as características de um genocídio. Seria preciso investigar cuidadosamente para determinar se se enquadra na definição técnica formulada por juristas e órgãos internacionais”. A isso se seguiram protestos, entre outros, do rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni, e da escritora Edith Bruck. E agora aqui está um novo capítulo.
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O papa contra Netanyahu: “Ele ignora as leis e os direitos humanos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU