18 Dezembro 2024
Eu estava contemplativa diante da Baía de Guanabara, quando um homem muito sábio comentou: como pode haver navios tão suntuosos, plataformas de petróleo tão gigantescas, se aqui do lado tem gente dormindo na rua?
O artigo é de Luisa Mattos, produtora de conteúdo da Alter Conteúdo, em artigo publicado por Alter Comunicação, 16-12-2024.
A pergunta poderia ter vindo de uma criança – elas guardam uma capacidade de estranhamento diante do absurdo que nós, talvez por autoproteção, perdemos. Mas a questão era tão profunda quanto a própria baía. Vivemos em sociedades norteadas pelo acúmulo de dinheiro. A lógica do sistema em que estamos inseridos é desenvolvida a partir dessa premissa. E salve-se quem puder! Os que ‘chegarem lá’ serão considerados abençoados ou vencedores.
E o que isso tem a ver com as férias escolares? Tudo!
A chegada das férias poderia ser celebrada! Que linda oportunidade seria a de poder viver experiências em família, passar dias na praia ou em meio à natureza. Quem sabe ver um filme? Jogar jogos de tabuleiro? Assim seria numa sociedade pautada pela lógica do bem-viver.
No entanto, na selva capitalista em que vivemos, é um momento de angústia para pais e, principalmente, para as mães. Afinal, todos precisam trabalhar, mas quem fica com as crianças? No fim das contas, as férias acabam sendo um momento de mais sobrecarga para quem já está normalmente sobrecarregado.
Sob a lógica do bem-viver, as sociedades priorizariam não o lucro de poucos, mas a colaboração coletiva para a satisfação de muitos. Nós encararíamos o trabalho apenas como uma parte do que somos e, decerto, ele ocuparia menos espaço em nossas rotinas e pensamentos. O tempo para o convívio social, para o lazer, para o descanso e para o cuidado consigo e com os outros é que seria o prumo das leis e da nossa perspectiva. A ordem seria viver em paz.
Ah, que utopia! Será mesmo?
Sociedades indígenas, por exemplo, não funcionam da mesma forma que a nossa. E, embora haja profundas diferenças culturais entre elas, é comum que partam de uma cosmologia na qual o ser humano é totalmente integrado a outros seres vivos e com a natureza. Nada mais próximo do bem-viver do que isso!
Por isso, desejo profundamente que em 2025 e nos anos que virão a gente consiga questionar com mais força essa lógica perversa à qual estamos submetidos, partindo do princípio de que há, sim, novas possibilidades. E que, assim, possamos aproveitar as férias escolares dos nossos filhos para criarmos com eles as mais lindas memórias!
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As férias escolares e o bem-viver - Instituto Humanitas Unisinos - IHU