04 Dezembro 2024
A informação é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 03-12-2024.
Os combates na Síria foram retomados após a tomada de Aleppo, a segunda cidade mais importante do país, pelos rebeldes, deixando todos em situação de risco. Por isso, as comunicações entre as congregações religiosas que possuem casas e instalações na região têm se intensificado nos últimos dias com aqueles que acompanham à distância, preocupados com a evolução dos acontecimentos que trazem ainda mais instabilidade a uma região sempre em precário equilíbrio.
A seguir, compartilhamos as informações enviadas de lá pelo franciscano padre Bahjat.
"Boa noite. Informarei sobre a situação em Aleppo hoje, 1º de dezembro. Desde ontem, há toque de recolher até as cinco da tarde, o que reduz ao mínimo o movimento nas ruas. Precisei sair para acompanhar um paroquiano idoso ao hospital. Encontrei algumas pessoas que estavam visitando seus familiares mais velhos, mas ninguém foi incomodado nas ruas. Paradoxalmente, a eletricidade está disponível durante muitas horas do dia e da noite, mas temos um problema com a água, pois começa a faltar.
De qualquer forma, a cidade continua paralisada, já que os serviços públicos e as instituições estão suspensos. Alguns pontos de distribuição forneceram pão à população. Nosso refeitório social permaneceu fechado ontem e hoje porque ainda não está claro como conseguiremos gás para cozinhar, sem o qual, obviamente, não podemos fazer nada.
A população teme que Aleppo volte a ser palco de uma batalha feroz, o que leva muitos a tentarem deixar a cidade, mas as notícias sobre a única estrada que conecta a cidade ao resto do país não são nada animadoras.
Mesmo assim, nossa padaria no Terra Sancta College continua funcionando, e de tempos em tempos estamos distribuindo pão à população. A população teme que Aleppo volte a ser palco de uma batalha feroz, o que leva muitos a tentarem deixar a cidade, mas as notícias sobre a única estrada que conecta a cidade ao resto do país não são nada animadoras: no melhor dos casos, a viagem é muito longa, e algumas pessoas ficaram presas por mais de 24 horas no frio do deserto, em uma estrada completamente desprovida de qualquer tipo de serviço."
Alguns permaneceram na cidade a contragosto, mas outros a escolheram deliberadamente, com a esperança de que as coisas melhorem... Nós, os pastores, continuamos próximos ao nosso povo, semeando a esperança que brota de nossa fé, especialmente neste Advento, que é o tempo da esperança por excelência.
Atualização da situação em Aleppo, segunda-feira, 2 de dezembro de 2024, às 16h (hora local). Após a atualização que escrevi ontem, ocorreu o trágico ataque ao nosso Terra Sancta College, sobre o qual certamente já ouviram falar. Agradecemos ao bom Deus porque ninguém ficou ferido. Nossos dois irmãos, fr. Samhar e fr. Bassam, estão bem e precisaram permanecer na universidade até tarde para garantir que o incêndio, que destruiu uma ala da estrutura, fosse completamente extinto com a ajuda dos bombeiros.
O bombardeio causou graves danos a uma parte do colégio, famoso por seu excelente papel na cidade, graças ao bem que ofereceu e continua oferecendo a todos os habitantes de Aleppo, sem distinção de filiação religiosa. Em nosso Colégio Terra Sancta, sempre fomos uma casa acolhedora para todos: famílias, jovens e crianças. Durante os anos de guerra, de 2012 a 2018, o colégio foi um refúgio para os idosos de uma residência que havia sido evacuada e, hoje, é um centro de apoio psicológico, esportivo e de ajuda humanitária, além de espiritual.
Nós, frades franciscanos da Custódia da Terra Santa em Aleppo, rejeitamos qualquer tipo de violência e, como todos sabem, nossa missão tem um caráter totalmente humanitário. Portanto, não conseguimos compreender os motivos deste ato e pedimos à comunidade internacional que intervenha e faça tudo o que estiver ao seu alcance para evitar tal violência contra uma estrutura religiosa. Enquanto isso, reafirmamos que permaneceremos sempre próximos do nosso povo, de todos os sírios que necessitam de nossa presença, e queremos continuar sendo um instrumento de paz e reconciliação onde quer que nosso Senhor nos envie.
Para confirmar isso, hoje pela manhã, os frades do colégio que passaram a noite em nosso convento, localizado no centro da cidade, retornaram ao campo, lá mesmo no colégio, para colocar em funcionamento a padaria beneficente e poder distribuir pão aos cidadãos. "Na hora de fazer o bem, ninguém deve nos deter", disse-me o Pe. Samhar com essa frase e um sorriso antes de continuar.
Aqui no centro, nosso refeitório social também retomou suas atividades, distribuindo mais de mil refeições. "Continuamos trabalhando enquanto pudermos", disse-me o irmão Harout, responsável pelo refeitório, referindo-se à possibilidade de que os estoques de alimentos e gás se esgotem nos próximos dias. Hoje, por falta de gasolina e, consequentemente, de transporte, tivemos que pedir aos idosos que enviassem alguém para buscar a comida que normalmente recebem em casa. A situação na cidade está tensa, especialmente após outro ataque aéreo nesta manhã em uma área próxima. Há um desejo de voltar à normalidade, mas sabemos que será necessário tempo, que esperamos não ser longo.
Ontem celebramos a missa dominical com grande presença de fiéis, obviamente os que permaneceram na cidade, o que nos deu esperança e força. O problema dos enterros dos mortos começa a surgir, porque a área dos cemitérios tornou-se perigosa, já que está muito próxima da fronteira com os grupos armados, que, segundo dizem, colocaram franco-atiradores e não deixam ninguém passar. Ouvimos que, em breve, haverá um acordo entre as duas partes que garantirá a integração do bairro curdo ao restante da cidade.
Com o coração cheio de esperança, vivemos dia após dia, confiando na Providência, que se concretiza em muitos amigos que estão próximos de nós de todas as formas possíveis".
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Franciscanos de Aleppo: pedimos à comunidade internacional que intervenha e evite a violência contra estruturas religiosas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU