Os 'reinos' deste mundo, e o de um outro, do universo, possível e necessário. Breve reflexão para crentes ou não. Comentário de Chico Alencar

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25 Novembro 2024

'Reino que está na divina arte, na humana e solidária consciência despertada, como na "Disparada" de Geraldo Vandré e Theo de Barros: "Mas o mundo foi rodando/ nas patas do meu cavalo/e já que um dia montei/ agora sou cavaleiro/ laço firme, braço forte/ de um reino que não tem rei!"', escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, ao comentar o Evangelho da Festa de Cristo Rei.

Eis o comentário.

Em algumas igrejas cristãs hoje se encerra o Ano Litúrgico: domingo que vem começa o tempo do Advento, preparação para o Natal. Por isso, há um século se celebra nesse dia a Festa de Cristo Rei.

No trecho destacado do Evangelho de João (18, 33-37), Pilatos, governador romano de Israel, indaga se Jesus, preso e torturado, é o "rei dos judeus".

Jesus mantém serena firmeza: "você está dizendo isso por si mesmo ou outros lhe disseram? Meu reino não é deste mundo".

Mundo onde o filho do carpinteiro José e da jovem Maria fez seu caminho, em busca da verdade e da vida plena para todos. Sempre o transcendendo, indo além.

Daí sua afirmação desconcertante para os impregnados pelos valores dominantes daquela época de reinos, imperialismos, guerras de dominação, opressões.

O "reino" de Jesus está dentro de nós e vai além deste mundo, deste planeta: é a energia cósmica do Amor, que se traduz em igualdade, fraternidade, partilha, justiça sócioambiental e paz (não aquela "pax romana" da conquista territorial, imposição cultural e morte).

Um "reino" (hoje seria melhor dizer "república"), esse que Jesus de Nazaré proclama, onde não cabem bombardeios, miséria, golpismos, armamentismo, ambição de poder, estruturas econômicas de egoísmo industrializado e financeirizado, ânsia de "prosperidade" individualista e consumista.

O "reino de Deus" a que Jesus se refere "não é deste mundo" mas começa aqui e agora ("Pai, não lhe peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal", João, 17-15).

"Reino-República" imenso e miúdo, cotidiano! Que está no amanhecer, quando a vida se renova, e no anoitecer quando a alma pede silêncio e calma.

Que está no trabalho criador (em jornadas dignas e não extenuantes) e na pequena flor.

No gesto de ternura que encanta, no passarinho que agora canta, na alegria pura da criançada ("todo menino é um rei", lembrou Roberto Ribeiro, inspirado...).

Reino que está na divina arte, na humana e solidária consciência despertada, como na "Disparada" de Geraldo Vandré e Theo de Barros: "Mas o mundo foi rodando/ nas patas do meu cavalo/e já que um dia montei/ agora sou cavaleiro/ laço firme, braço forte/ de um reino que não tem rei!".

Um "reino" do eu coletivo, do nós em igualdade de possibilidades e direitos.

Do Cristo Rei do Universo, da realeza que está na beleza de todas as coisas criadas, sem "valor de mercado". Ternas e eternas, onde tod@s nos encontraremos - saudades, dores e ódios aplacados. E onde a única Lei será a do Amor.

Assim acreditemos e por essa utopia lutemos!

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