La Buona Notizia di Gesù (A Boa Nova de Jesus, em tradução livre, Il Pozzo di Giacobbe, 2024) é o primeiro de uma série de “cadernos de teologia popular” escritos por José María Castillo, um dos mais importantes teólogos do século XX. Jesuíta, afastado do magistério e que mais tarde deixou a Companhia de Jesus em 2007 (após mais de 25 anos de luta contra a censura e o ostracismo do Vaticano), na década de 1970, Castillo (que morreu aos 94 anos em 2023) se aproximou das Comunidades de Base cristãs. Foi nesses contextos que nasceram os famosos “Cadernos de teología popular”, que tiveram ampla difusão, graças à simplicidade com que explicava temas teológicos complexos, tornando-os acessíveis - simples, mas não simplistas - por meio de uma abordagem informativa e de uma linguagem não especializada.
A reportagem é de Valerio Gigante, publicada por Adista, 16-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
La Buona Notizia di Gesù, de José María Castillo (Foto: Divulgação)
O livro que acaba de ser publicado é o primeiro desses cadernos (são três no total), que primeiro circularam como datiloscritos, depois foram revisados e publicados pelo autor na Espanha entre 2012 e 2013 e, finalmente, agora também traduzidos para o público italiano. “Nesta Teologia Popular atualizada”, escreve Castillo em sua introdução, ”a intenção não era apenas e acima de tudo usar uma linguagem ao alcance de todos. Mais do que isso, o que eu pretendia fazer era tornar o que Jesus veio nos ensinar mais próximo das pessoas e de seus problemas. O exemplo mais óbvio disso pode ser visto na vida do próprio Jesus. De acordo com o que os Evangelhos nos contam, Jesus usava a linguagem do povo, interessava-se pelos problemas que afligiam as pessoas; todos eram capazes de entendê-lo e multidões de pessoas simples o seguiam, que sem dúvida o entendiam perfeitamente e se interessavam pelo que ele dizia, um sinal evidente de que a teologia ensinada por Jesus era uma teologia realmente popular”.
Claro, esclarece Castillo, “é evidente que a teologia, da maneira como a aprendem aqueles que se dedicam a seu estudo, não é exatamente popular, porque o conhecimento religioso, tal como é ensinado e estudado nos centros religiosos que se dedicam a ele (seminários, universidades, centros de estudos eclesiásticos etc.), é um conhecimento complicado, próprio de pessoas eruditas e estudiosas. Além disso, a maneira de aprender e ensinar está muito distante do que as pessoas entendem, do que as pessoas sabem e, acima de tudo, do que as pessoas se interessam e do que a maioria das pessoas é capaz de se dar conta”.
O empenho é, portanto, “apresentar uma teologia que seja, na medida do possível, menos complicada e mais inteligível do que muitos dos livros que falam sobre essas coisas. Portanto, o que se tenta fazer aqui é oferecer aquela que poderíamos chamar de “teologia narrativa”. Em outras palavras, uma teologia que tem como centro e estilo não uma série de teorias e especulações, mas sim um conjunto de narrativas ou histórias retiradas dos evangelhos”, acompanhadas de “algumas explicações para que sejam compreensíveis, para que possamos considerar a atualidade dessas histórias coletadas e para que possam ser úteis para nós agora, nos tempos que estamos vivendo”. “Em última análise, o que este livro significa para nós é que o cristianismo, a Igreja, a religião, devem se humanizar, devem ser mais humanos, devem estar mais próximos de todos os seres humanos, devem estar em sintonia com tudo o que é verdadeiramente humano. Porque, em última análise, nem mais nem menos é o que Deus fez em Jesus: ele se humanizou, ou seja, despojou-se de sua posição, tornou-se como um dos muitos e viveu na condição dos últimos deste mundo, os escravos de então e de agora. O que restou àquele Deus? Restou o que vemos em Jesus, sua humanidade visceral, essa bondade profundamente humana de que tanto precisamos e que faz muito bem a todos. Esse é o âmago do evangelho e, portanto, da teologia popular”.
Quais são as “boas novas” que justificam o título do livro, Castillo o explica em uma de suas aulas-encontros, quando, falando da presença de Jesus na Galileia, ele lembra que “a Galileia era a província dos trabalhadores e dos pescadores. Os proprietários de terras e homens de negócios viviam na província de Judá, especialmente na capital, Jerusalém. Jesus, portanto, foi onde estavam os pobres, as pessoas exploradas. E ali começou a anunciar as 'boas novas'”, ou seja, que “Deus reinará no mundo. Em outras palavras, que neste mundo será feito não o que interessa ao capital, ao poder, mas o que interessa a Deus. E a única coisa que interessa a Deus - o modelo de bondade de todos os pais - é que respeitemos uns aos outros, amemos uns aos outros, ajudemos uns aos outros. Portanto, quando Jesus dizia que ‘o senhorio de Deus está próximo’, ele estava dando boas notícias, porque isso significava que Deus estava estabelecendo a justiça no mundo. Essa justiça consiste no fato de que Deus ficará do lado dos pobres e dos seres humanos; ele tomará o partido daqueles que não podem se defender sozinhos, porque isso era ‘fazer justiça’ de acordo com a tradição do Antigo Oriente.
Posteriormente, com o passar do tempo, primeiro o direito romano e depois o poder dos empenhos europeus fizeram com que ‘fazer justiça’ significasse, na prática, ‘defender a propriedade’, o que, vendo como é a vida, é defender aqueles que têm poder político e econômico”.