19 Novembro 2024
"A desigualdade racial no Brasil não se traduz apenas em números ou indicadores sociais – ela é sentida no dia a dia das pessoas negras, que enfrentam discriminação, exclusão e desumanização. Incorporar a ética do cuidado na luta pela igualdade racial significa escutar essas vozes e reconhecer a dignidade de cada indivíduo", escreve Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves, teólogo, filósofo e professor, em artigo enviado pelo autor ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
Robson é formado em História, Filosofia e Teologia, áreas nas quais trabalha como professor em Juiz de Fora (MG).
O Dia da Consciência Negra, celebrado no Brasil em 20 de novembro, é mais do que uma data para comemorações: é um marco essencial para refletirmos sobre as desigualdades raciais e sobre como podemos promover uma sociedade mais justa e igualitária. Inspirado pela memória de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência à opressão escravocrata, este dia nos convoca a revisitar o passado, compreender as dinâmicas do presente e projetar um futuro alicerçado na solidariedade, no respeito e na dignidade humana.
A reflexão sobre a igualdade racial, contudo, não pode se restringir ao combate ao racismo estrutural e às desigualdades materiais, embora esses sejam pontos centrais. Precisamos também incorporar a **ética do cuidado** como princípio orientador nas relações humanas. A ética do cuidado reconhece a interdependência entre os seres humanos, promovendo uma visão de mundo em que as ações são guiadas pela empatia, pelo respeito mútuo e pela valorização das diferenças. Nesse contexto, o cuidado não é apenas um ato individual, mas um compromisso coletivo com a criação de uma sociedade mais justa.
A desigualdade racial no Brasil não se traduz apenas em números ou indicadores sociais – ela é sentida no dia a dia das pessoas negras, que enfrentam discriminação, exclusão e desumanização. Incorporar a ética do cuidado na luta pela igualdade racial significa escutar essas vozes e reconhecer a dignidade de cada indivíduo. Significa também desafiar estruturas de poder que desumanizam e criar espaços onde todas as pessoas possam florescer, independentemente de sua origem racial.
Nesse sentido, a celebração do Dia da Consciência Negra se torna uma oportunidade para a sociedade refletir sobre a importância do cuidado nas relações humanas. Um cuidado que transcenda a caridade pontual e se torne um compromisso ético com a justiça social. Ao resgatar e valorizar as contribuições culturais, históricas e sociais do povo negro, reafirmamos que a diversidade é uma riqueza, e que o cuidado com o outro é a base de uma convivência verdadeiramente igualitária.
Adotar a ética do cuidado também nos desafia a repensar práticas cotidianas que perpetuam a indiferença e o preconceito. Envolver-se ativamente na luta contra o racismo é um ato de cuidado profundo com o próximo e com a sociedade como um todo, pois reconhece que todos estamos conectados. Essa postura exige que passemos de meros espectadores para agentes transformadores, comprometidos em construir pontes que superem as barreiras raciais e sociais.
Por fim, celebrar o Dia da Consciência Negra com a perspectiva da ética do cuidado é reafirmar que a luta pela igualdade racial não é apenas um compromisso político, mas também uma escolha moral que valoriza a interdependência entre os seres humanos. É compreender que a dignidade de uma sociedade se mede pela forma como cuida de todos os seus membros, especialmente daqueles que foram historicamente marginalizados. Assim, o Dia da Consciência Negra se transforma em um poderoso convite à construção de um mundo mais solidário, onde o cuidado, a igualdade e o respeito sejam os alicerces de nossas relações.
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A Consciência Negra e a Ética do Cuidado: Construindo Relações de Igualdade e Respeito. Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU