15 Outubro 2024
A reportagem é de Francisca Abad Martin, publicada por Religión Digital, 14-10-2024.
Freira carmelita, mística, escritora e doutora da Igreja. Juntamente com São João da Cruz, o período é considerado o ápice do misticismo cristão experimental.
Teresa Sánchez de Cepeda Dávila y Ahumada nasceu em 25-03-1515. Sobre o local onde nasceu, alguns dizem que foi em Ávila e outros que foi em Gotarrendura, localidade próxima à capital, onde a família de sua mãe possuía fazendas e uma mansão onde passaram longos períodos. Foi batizada na Igreja de San Juan, na cidade de Ávila.
Conhecemos algumas informações sobre a sua infância, adolescência e juventude através do Livro da sua vida, que ela própria escreveu, a pedido dos seus confessores. Ele teve uma infância feliz. Aos 13 ou 14 anos, a perda da sua querida mãe encheu-a de tristeza, mas ela tinha outra Mãe, Maria, e recorreu a ela em busca de refúgio e conforto. Ela nos conta que gostava de livros de cavalaria. Aos 16 anos ingressou nas Agustinas de Ávila como estudante para receber a educação adequada. Naquela época ela estava muito longe de pensar em se tornar religiosa, pois gostava de se fantasiar e de ir a festas.
Depois de um ano adoeceu e foi se recuperar na fazenda do tio em Ortigosa. Aí cai em suas mãos um livro que a fará meditar profundamente: O alfabeto de Osuna. Ela não começa mais a ver o ser religioso como algo tão estranho. Em 1536, aos 21 anos, ingressou no mosteiro da Encarnação das Carmelitas, em Ávila. A princípio ela leva uma vida normal, como todo mundo, tratando muito as pessoas no salão, mas um dia, ao contemplar uma imagem de Jesus amarrado à coluna, com as costas doloridas das chicotadas, ela se emociona e percebe que sua vida tem que mudar. Em 1560, enquanto um dia orava, um êxtase tomou conta dela e então viu como um querubim com uma espada flamejante perfurou seu coração. Isso é o que conhecemos como “transverberação”.
Depois disso, sente-se impelida à grande aventura da reforma carmelitana, para regressar ao rigor e ao fervor da regra primitiva. Com um pequeno grupo de freiras que pensam como ela, decide fundar um convento de Carmelitas Descalças em Ávila e coloca-o sob os auspícios de São José, santo da sua especial devoção. Teve muita oposição, inclusive de alguns prelados, como o núncio do papa, que a chamou de “mulher inquieta e errante”, mas não se intimidou com nada, nem mesmo diante da Inquisição, onde foi acusada por seus escritos e por ter ancestrais judeus, porque então aquela coisa de “purificação do sangue” era o fim do dia. Corajosa e segura de si, como quem mantinha uma linha direta com Jesus Cristo, seu Esposo, que a cada momento lhe ditava o que deveria fazer, ela sabia ser-lhe fiel mesmo sendo obrigada a confrontar-se e rebelar-se contra a incompreensão dos poderes estabelecidos.
Em poucos anos desenvolveu uma atividade surpreendente: fundações, nada menos que 17 conventos foram construídos por esta mulher errante espalhados por toda a Espanha. A sua correspondência foi prolífica (conservam-se 437 cartas com a sua caligrafia), escreveu poemas e livros como: “O livro da sua vida”, “Os fundamentos”, “Camino de Perfectión” ou “Las Moradas”. É incrível pensar como no meio de tanta agitação ela conseguiu descansar para escrever tratados tão sublimes sobre a oração e uma vida de dedicação a Deus, mas ela sentiu e viveu isso em sua alma. É também extremamente surpreendente que todo este enorme trabalho tenha sido realizado por uma pessoa que sofreu de doenças graves ao longo da vida e por uma mulher, o que implicava discriminação e subjugação naqueles tempos.
Concluída esta enorme tarefa, finalmente descansou, em 04-10-1582, em Alba de Tormes (Salamanca). Suas últimas palavras foram: “Senhor, é hora de caminhar” e esta outra: “Finalmente, Senhor, morro filha da Igreja”. Talvez ele tenha dito isso pensando na ameaça de excomunhão por parte da Inquisição. Foi beatificada em 24-04-1614 por Paulo V e canonizada em 12-03-1622 por Gregório XV. Foi nomeada Doutora da Igreja em 27-09-1970, durante o pontificado de Paulo VI.
Há muito que devemos a Santa Teresa. Ela não só enriqueceu o patrimônio cultural da humanidade, mas foi, continua e continuará a ser, uma mestra de vida espiritual, uma grande mulher, decidida e determinada e tudo isto sem renunciar à sua condição feminina. É difícil encontrar em toda a história da humanidade uma pessoa tão integrada como ela. Não direi mais que através da sua existência as mulheres foram dignificadas, mas sim a raça humana em geral. Se ela tivesse vivido na nossa sociedade atual, onde a reivindicação feminina é exigida na Igreja, é fácil imaginar o papel que esta intrépida mulher teria desempenhado. Com ela, as mulheres do século XXI podem aprender a ser donas de si mesmas e a viver em liberdade de espírito até alcançarem a realização pessoal. É justo reconhecer que Teresa foi uma pioneira na época em que viveu. Todos consideram Descartes o pai da modernidade, mas não é descabido acreditar que o autor das “Meditações Metafísicas” teve como precedente o Médico Místico, que o precedeu na sua teoria do autoconhecimento, colocando-se num patamar superior à mera consciência cognitiva.
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Santa Teresa de Jesus. (A intrépida Virgem de Castela, tachada de mulher desobediente e teimosa) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU