10 Outubro 2024
Uma das principais notícias da última terça-feira (8) foi a repercussão da entrevista de Silas Malafaia à jornalista Mônica Bergamo, em que o pastor critica o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela postura omissa e covarde ao longo da eleição em São Paulo.
A reportagem é de Camila Bezerra, publicada por Jornal GGN, 09-10-2024.
A partir de tal postura, Bolsonaro permitiu que o eleitorado se dividisse entre os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB), este último que foi desmascarado por Silas após tentar se promover no já tradicional evento de 7 de Setembro.
Para o pastor, o ex-presidente e expressão máxima do bolsonarismo evitou confrontos com o coach, a fim de evitar uma derrota pessoal caso Marçal tivesse sucesso na campanha pela Prefeitura de São Paulo.
A fim de entender os efeitos do aparente racha entre Jair Bolsonaro e seu principal cabo eleitoral, o programa TVGGN contou com a participação do jornalista Cesar Calejon, que garantiu que o mal-estar entre os envolvidos não foi “um jogo casado”.
“Quando você disse que uma liderança covarde, que ficou chorando com você no telefone e usa esse tipo de argumento, me parece que inequivocamente você está querendo destruir essa liderança. Pode ser que isso seja reformulado daqui para frente, a gente sabe muito bem que na política institucional os aliados de hoje são os inimigos de amanhã e vice-versa, pode ser. Agora, me parece que membros da extrema-direita neofascista nacional farejaram essa fragilidade do Jair Bolsonaro e isso começa com a entrada do Pablo Marçal (5:39) como um ator relevante na própria extrema-direita”, observa Calejon.
O jornalista lembra que, inicialmente, o bolsonarismo tentou se livrar do Marçal, mas quando perceberam que estariam cortando no próprio cerne, recuaram e criaram uma desavença interna em uma força, até então, muito coesa.
“Pessoas que são bolsonaristas, mas que agora estão inclinadas a apoiar o Pablo Marçal dizendo que não vão voltar no Nunes porque estão se sentindo traídas, porque o Bolsonaro deveria ter apoiado o Pablo Marçal, tem tudo isso de um lado. Do outro, você vê lideranças, por exemplo, como o Malafaia, o Tarcísio. Tarcísio, por exemplo, participou do primeiro turno ao lado do Nunes e não citou o nome do Bolsonaro nenhuma vez”, continua Calejon, que também é escritor.
Apesar da votação expressiva no último domingo (6), quando angariou pouco mais de 28% dos votos válidos no maior colégio eleitoral do país, Marçal cometeu erros grosseiros na análise do entrevistado, a exemplo da divulgação de um laudo médico falso na tentativa de associar Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de drogas.
“Venho conversando com juristas, uns cinco, seis juristas que conversei ao longo das últimas 48 horas aí, que me disseram que é pouquíssimo provável que ele escape de um processo de inelegibilidade. Existe uma chance gigante dele se tornar inelegível e, inclusive, de ter que responder na seara criminal. Se ele vai ser preso ou não, eu particularmente acho que é pouco provável que ele seja preso, por conta do laudo falso”, afirma Calejon.
Mas os equívocos não param por aí. Pablo Marçal também contrariou a fama de gênio do marketing digital ao declarar guerra ao bolsonarismo, que ainda é o principal movimento sociopolítico à direita no campo ideológico. Também se precipitou ao ter um ataque de “síndrome do pequeno poder”, em que disse ser contra basicamente todo mundo.
Ao provocar Datena (PSDB), então quarto colocado na disputa eleitoral, recebeu uma cadeirada nas costas. Mas, em vez de sustentar a pose de homem ‘machão’, nas palavras do entrevistado, fez cena de quem estava lutando pela vida dentro de uma ambulância.
“Seis dias antes da eleição, ele ataca a maioria do eleitorado de São Paulo, que são as mulheres. Ele diz que mulher não vota em mulher porque mulher é inteligente. Aí, como se não bastasse, por fim, na sexta-feira, horas antes do pleito começar, esse cara publica, deliberadamente, um laudo falso. Bom, esse cara é o grande gênio da extrema-direita, hein, Nassif?”
Diante de todo este contexto, Calejon acredita que Marçal ficará inelegível e dará ao bolsonarismo a grande oportunidade de eliminá-lo politicamente.
Cesar Calejon falou ainda sobre o elitismo histórico e cultural, o que descreve como força social que organiza os arranjos da sociedade para criar a desigualdade e a hierarquia moral que rege o funcionamento social, político e econômico da nação. Esta é, também, a tema do seu novo livro Poder e Desigualdade, escrito junto com André Roncaglia.
“Com base nisso, que é o preceito elementar do meu livro anterior, o Esfarrapados, a gente extrapola essa análise para dizer que o elitismo histórico e cultural cria uma concentração, sobretudo, do poder midiático, econômico e político da nação. O que isso faz é criar uma das nações mais violentas e desiguais do mundo. A ideia é mostrar a concentração de poder midiático, demonstrando quais são os principais atores da mídia hegemônica no país, quais são as famílias, quais são os negócios correlatos”, resume.
Confira a entrevista na íntegra:
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Malafaia quis destruir Bolsonaro, afirma Cesar Calejon ao GGN - Instituto Humanitas Unisinos - IHU