09 Outubro 2024
O artigo é de Consuelo Vélez, teóloga colombiana, publicado por Religión Digital, 08-10-2024.
O Sínodo sobre a Sinodalidade está em sua segunda semana de celebração. O evento começou com um retiro espiritual e uma vigília penitencial na qual, depois de ouvir três testemunhos – de uma sobrevivente de abuso sexual, de um voluntário que acolhe migrantes e de uma testemunha religiosa da guerra na Síria – sete cardeais pediram perdão pelos pecados da Igreja que minaram a confiança nela.
O próprio Papa redigiu esses pedidos de perdão contra o abuso sexual de menores, contra a paz, a criação, os povos indígenas, os migrantes, o pecado contra as mulheres, a família, os jovens; o pecado contra a pobreza, contra a sinodalidade, contra a falta de escuta e contra a doutrina usada como pedra a ser atirada. Pessoalmente, fiquei impressionado com as palavras com as quais cada pedido de perdão foi apresentado: "sentir vergonha".
De fato, somente a partir de uma vergonha sincera e profunda é que se pode começar de novo. Muitos encobriram os pecados da Igreja. Outros os relativizaram argumentando que acontecem muito mais em outros espaços não eclesiais e outros os descreveram como ataques contra a instituição eclesial. Aquela vigília nos permitiu mostrar um desejo sincero de honestidade, de reparação para as vítimas, de fazer todo o possível para que isso nunca mais aconteça. Tudo isto só será possível na medida em que todos os membros do Povo de Deus "sintam vergonha" da Igreja que amamos, reconhecendo que lhe falta muito para testemunhar a Igreja querida por Jesus.
O trabalho do Sínodo está se concentrando no Instrumentum Laboris. A parte correspondente aos "Fundamentos da sinodalidade" já foi trabalhada e atualmente está sendo trabalhada a Primeira Parte, intitulada "Relações". A metodologia, em linhas gerais, consiste na intervenção dos participantes na mesa que lhes corresponde, dizendo os aspectos positivos do documento e o que precisa ser revisto. A pessoa que desempenha o papel de relator organiza as contribuições e a síntese de cada mesa será levada às sessões plenárias ou congregações gerais. Isso será feito com cada uma das três partes do documento, até 21 de outubro, quando será apresentado o rascunho do documento final, que será discutido de 22 a 26, para que no dia 27 o sínodo seja encerrado.
Pelo que se pode aprender com as coletivas de imprensa, um pedido importante que saiu desde o início foi sobre o trabalho dos dez grupos de estudo, nomeados por Francisco, pedindo que seus resultados fossem devolvidos ao sínodo, antes de serem ratificados pelo papa. Deste modo, eles não permanecem como contribuições independentes do Sínodo, mas permanecem na dinâmica sinodal. Ele também se perguntou sobre a formação do grupo 5 - sobre ministérios eclesiais - que está sob a coordenação do Dicastério para a Doutrina da Fé e cujos membros não são conhecidos. Não sei como eles farão isso acontecer, mas você pode ver o esforço de alguns membros do sínodo para manter a dinâmica planejada. No entanto, existem várias dúvidas no ambiente, uma vez que todos os grupos são compostos por muitos membros dos respectivos dicastérios e não há mais participação plural de especialistas, muito menos a participação de leigos – homens e mulheres – e de origem geográfica mais variada.
Outro aspecto a destacar é a insistência na realidade das mulheres. Sabe-se dos esforços para não abordar o tema no sínodo e da justificativa de não ser algo tão importante para enfocar a dinâmica do sínodo ou de não considerar que é o momento certo para falar sobre ministérios ordenados para mulheres, especialmente o diaconato. No entanto, ainda há perguntas, insistências, buscas, a crescente consciência de que sem resolver a plena participação das mulheres na Igreja sem resolver com ações e não com justificativas, fala-se de sinodalidade, mas não será plenamente realizada, pedir-se-á perdão, mas não se restaurará a confiança.
Vale a pena saber que, no início do Sínodo, várias organizações de mulheres, especialmente aquelas que pediram explicitamente ministérios ordenados, tentaram lembrar seus pedidos com faixas nas proximidades da Praça São Pedro e foram interceptadas, antes mesmo de chegar à praça, por seguranças, impedindo-as de entrar. Essas ações são pouco divulgadas, mas vale a pena conhecê-las para entender a resistência eclesial, mas, ao mesmo tempo, a firmeza de tantas mulheres em suas demandas, já que a consciência de realizá-las está crescendo não porque sejam um pequeno grupo de mulheres – rebeldes, feministas ou desajustadas da Igreja (como alguns invocariam) – mas porque respondem a uma vocação que vem do Espírito E por muito tempo (para não dizer desde as origens), ele se manifestou e não vai parar de fazê-lo. Eles serão capazes de silenciá-lo, mas não extingui-lo. Essa é a responsabilidade histórica deste momento atual. No entanto, parece que não é fácil alcançá-lo. Resta o desafio de não baixar a guarda, porque a sinodalidade não será eficaz sem dar passos nessa direção.
O sínodo continua e a Fundação Ameríndia – uma rede de teólogos latino-americanos, patrocinadores do Observatório Latino-Americano da Sinodalidade – estabeleceu uma "tenda de sinodalidade" a partir da qual estão sendo oferecidas reflexões teológicas às mães e pais sinodais que desejam fazê-lo. Da mesma forma, estão sendo realizadas mesas temáticas sobre muitos dos temas que requerem a experiência sinodal: pastoral hispânica nos Estados Unidos, afrodescendentes, povos originários, horizonte libertador latino-americano, opção pelos pobres, vida religiosa, movimentos populares, missão evangelizadora da Igreja, leigos, mulheres, ministérios ordenados, estruturas sinodais, migrantes, etc. Deste modo, o processo sinodal está a ser acompanhado e espera-se que contribua, sucessivamente, para o acolhimento deste acontecimento eclesial. Aqui estamos nesta tarefa, com dedicação e entusiasmo. Esperemos que o Espírito supere todas as resistências e que os frutos sejam abundantes.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Como está indo o Sínodo sobre a Sinodalidade? Artigo de Consuelo Vélez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU