04 Outubro 2024
ICMBio é contra a proposta, gerada por supostos prejuízos pela baixa procura pelas unidades de conservação, no RS e SC.
A reportagem é de Aldem Bourscheit, publicada por ((o))eco, 03-10-2024.
Alegando prejuízos financeiros pela baixa visitação nos parques nacionais da Serra Geral e dos Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a concessionária de serviços turísticos sugeriu suspender a visitação e investimentos nas áreas protegidas.
A queda no turismo regional ganhou força após as devastadoras enchentes de maio. O valor do ingresso individual subiu para R$ 102 e foi interrompida a operação de uma tirolesa no Cânion Fortaleza, instalada após a concessão, em 2021.

Paredões e cânions nos parques nacionais da Serra Geral e dos Aparados da Serra. (Foto: Laviniagf | Creative Commons)
A empresa diz que o preço está abaixo do permitido em contrato, mas na prática o valor reduziu um turismo que antes acessava gratuitamente os parques nacionais e movimentava mais a economia. Visitantes com maior poder aquisitivo ainda não foram atraídos, como planejado.
Responsável pelas unidades federais de conservação, o ICMBio é contra o fechamento temporário dos parques para reduzir os prejuízos da concessionária. Um pedido de “reequilíbrio financeiro” da concessão é analisado emergencialmente pelo órgão ambiental.
A autarquia não descarta uma redução no valor das entradas para atrair mais visitantes ou medidas como alterar o montante repassado ao governo federal, fixado na concessão, e reduzir obrigações de serviços contratuais a serem cumpridos pela empresa.
Numa nota divulgada em Redes Sociais, o ICMBio afirma que “pedidos de reequilíbrio são comuns em contratos de concessão” e destaca que os parques “são essenciais para a preservação ambiental, para a qualidade de vida da população local, para o turismo, e para a promoção da educação ambiental”.

Tirolesa instalada no Cânion da Fortaleza. (Foto: Urbia | Divulgação)
Sete parques nacionais têm atualmente serviços concedidos à iniciativa privada: Aparados da Serra e Serra Geral (RS/SC), Chapada dos Veadeiros (GO), Iguaçu (PR), Itatiaia (RJ), Marinho de Fernando de Noronha (PE) e Tijuca (RJ).
Como ((o))eco contou em junho do ano passado, supostas irregularidades e impactos ambientais ligados à concessão dos parques da Serra Geral e dos Aparados da Serra são alvo de ação no Ministério Público Federal (MPF), baseada em denúncias de ongs.
Os dois parques receberam juntos 147,6 mil visitantes em 2023, mostra um painel do ICMBio. Seus cerca de 30,4 mil hectares de Mata Atlântica somados abrigam espécies raras ou ameaçadas, como a araucária, jaguatirica, guaxinim, papagaio-de-peito-roxo e leão-baio.
Enquanto isso, um projeto de lei do senador Carlos Heinze (PP-RS) pretende cortar 1,3 mil ha (10%) dos 13,1 mil ha do parque de Aparados da Serra. O texto tramita desde o ano passado e aguarda avaliação pela Comissão de Meio Ambiente do Senado.
Leia mais
- Tragédia climática no Rio Grande do Sul afetou 195 mil pequenas empresas e 711 mil empregos diretos
- Tragédia climática no RS afetou 95% dos empregos do estado
- Agro estima prejuízo de mais de R$ 500 milhões com chuvas no RS
- Tributação justa deve ajudar a superar efeitos das mudanças climáticas. Artigo de Maria Regina Paiva Duarte
- Desigualdades se refletem em tragédia no Rio Grande do Sul
- Tragédia no RS: sem licitação, Porto Alegre contrata consultoria que gentrificou Nova Orleans no pós-Katrina
- Empresa norte-americana prestará consultoria à Prefeitura na recuperação de Porto Alegre
- Consultoria contratada pela prefeitura prevê plano de ação que extrapola “período gratuito”
- Em quase dois séculos, Porto Alegre aterrou trechos do Guaíba para triplicar o centro histórico
- Porto Alegre de frente para o Guaíba, mas de costas para os pobres?
- Guaíba é rio ou lago? Em enchente histórica, definição sobre curso d’água ganha espaço
- Mercado Público de Porto Alegre enfrenta mais uma tragédia na sua história de 154 ano. Artigo de Eugênio Bortolon
- O negacionismo ambiental e a inundação de Porto Alegre. Artigo de Carlos Atílio Todeschini
- Porto Alegre, epicentro das enchentes no Brasil, é hoje uma cidade distópica
- Impactos das mudanças climáticas nas cidades globais
- A catástrofe climática é, também, resultado de uma sociedade eticamente passiva e egoísta. Entrevista especial com Clóvis Borges