07 Setembro 2024
"Dizer que não podemos misturar Fé ou Religião com Política Partidária é um grande equivoco, que faz o jogo do Poder Dominador e Opressor e mantém o Povo submisso. Se eu sou um Ser humano de Fé Cristã (um Ser humano radical), é como tal que faço política partidária. A vida humana não se separa", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção-SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
“O Ser humano, por um lado, experimenta-se limitado de muitas maneiras, por outro lado, sente-se ilimitado (infinito) em seus desejos e chamado a uma vida superior" (Conc. Vat. II. A Igreja no mundo de hoje - GS 10).
Em sua experiência existencial, o Ser humano percebe-se, ao mesmo tempo, como um ser histórico e meta-histórico: “já e ainda não” (na passagem de situações históricas menos humanas para situações históricas mais humanas) e “além da morte” (na passagem definitiva: a plenitude da Páscoa).
As dimensões da historicidade e meta-historicidade, são constitutivas do Ser humano.
Enquanto Ser histórico, o Ser humano é um ser situado (no espaço) e datado (no tempo). Por isso, sua Práxis (Prática e Teoria dialeticamente unidadas) é tambem situada e datada (com as limitações próprias do espaço e do tempo).
Na Práxis como Prática (Ação), a Teoria (Conhecimento: comum, científico, filosófico, teológico) está sempre presente; na Práxis como Teoria (Conhecimento: comum, científico, filosófico, teológico), a Prática (Ação) está sempre presente.
Toda Práxis (Prática e Teoria) humana - com Fé cristã ou sem Fé cristã, com Religião ou sem Religião - é política:
comprometida com a construção de um Novo Projeto de Cidade (Pólis), de Sociedade e de Mundo, justo, humano e ético, que é o Projeto Político Popular (PPP), Projeto Comunitário de Irmãos e Irmãs, ou
comprometida - direta ou indiretamente - com a manutenção e o fortalecimento do Projeto de Cidade, de Sociedade e de Mundo injusto, desumano e antiético (legalizado e institucionalizado), que é o Projeto Capitalista Neoliberal ou Ultraneoliberal dominante. “Esse Sistema é insuportável, exclui, degrada e mata”. “Os Pobres não são só excluídos, mas descartados” (Papa Francisco).
Um dado recente da realidade - que ostenta acintosamente uma iniquidade social repugnante - confirma as palavras de Francisco. “A riqueza dos cinco homens mais ricos mais que dobrou, entre 2020 e 2023, saindo de 405 bilhões de dólares para 869 bilhões de dólares. Enquanto 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres no mesmo período. A desigualdade e a fome aumentam dia após dia. E as políticas sociais continuam sendo cortadas dos orçamentos públicos, porque a vida das pessoas que acessam os serviços públicos pouco importa” (Jornal “Grito dos Excluídos e Excluidas”, ano 30 - número 81 - março/abril – 2024, 1ª página).
Como Seres humanos - mesmo sendo diferentes - não temos todos e todas a mesma dignidade, o mesmo valor e os mesmos direitos? Por que então temos uma Sociedade - e até uma Igreja - de classes? Por que há tanta desigualdade e tanta injustiça institucionalizada?
A Práxis (Prática e Teoria) Político-Partidária é um dos meios - hoje fundamental - para fazer Política. Temos muitos outros meios, como a Práxis Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras, a Práxis Socioambiental dos Movimentos Populares, dos Coletivos de Mulheres, das Entidades de Estudantes, dos Fóruns de Direitos Humanos e de Cuidado com a Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum e de muitas outras Organizações Populares.
Como cristãos e cristãs, temos ainda a Práxis das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), das Pastorais Sociais, das Comissões de Justiça e Paz e Outras.
Para que essa Práxis (Prática e Teoria) dos Partidos Políticos Populares chamados de esquerda) - como também das outras Organizações Populares - seja um meio para fazer Política ética só há um caminho: os Partidos Políticos Populares e todas as Organizações Populares - devem, clara e publicamentete, ter lado, o lado dos/as Pobres (Opção pelos Pobres). É com eles e elas que devem lutar, abrindo caminhos novos que fazem acontecer o Projeto Político Popular (PPP), Projeto Comunitário, baseado na Igualdade, na Justiça e na Fraternidade. Todos/as somos convidados e convidadas a entrar nesse caminho.
Aliança significa Comunhão de Projeto, mesmo com diferenças (que são positivas) na maneira de realizá-lo. Ora, por coerência ética, com os Partidos Políticos e as Organizações Sociais que defendem a manutenção e o fortalecimento do Projeto Capitalista Neoliberal só pode haver Acordos Pontuais para resolver situações emergenciais, mas nunca Alianças.
As “Alianças” oportunistas - mesmo que possibilitem algumas obras sociais de carater assistencial e promocional (o que em si é positivo) - na realidade fortalecem o Projeto Capitalista Neoliberal, evitando manifestações e greves de protesto do Povo Trabalhador. No fundo, essas “Alianças”, retardam a realização do Projeto Político alternativo: o Projeto Político Popular (PPP).
E ainda: dizer que não podemos misturar Fé ou Religião com Política Partidária é um grande equivoco, que faz o jogo do Poder Dominador e Opressor e mantém o Povo submisso. Se eu sou um Ser humano de Fé Cristã (um Ser humano radical), é como tal que faço política partidária. A vida humana não se separa.
Ora, é uma hipócrisia muito grande usar a Fé ou a Religião para justificar e legitimar uma sociedade legal e estruturalmente injusta e antiética.
Por fim, mesmo diferentes, unidos/as e organizados/as, já somos vitoriosos e vitoriosas! Esperançar é preciso! Parabéns a todos os candidatos e candidatas dos Partidos Políticos Populares que estão do lado e ao lado dos Pobres e, com eles e elas, lutam pelo Projeto Político Popular (PPP), que é um Brasil Novo e um Mundo Novo acontecendo.
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Por uma política partidária ética. Artigo de Marcos Sassatelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU