De 1961 a 2023: o Movimento da Legalidade e o valor da mobilização democrática. Artigo de Miguel Rossetto

Foto: Arquivo/Reprodução

27 Agosto 2024

"Apesar da derrota eleitoral, do fracasso do golpe e das prisões, a violência antidemocrática e desumana da extrema direita ultraliberal brasileira, não vai parar sem que as forças democráticas permaneçam mobilizadas na sociedade e nas instituições, no próprio cotidiano, se reinventando a cada dia, incorporando novos direitos, valores humanistas, renovando princípios, construindo igualdade e justiça social, reafirmando a defesa do Estado Democrático de Direito."

O artigo é de Miguel Rossetto, publicado por Sul21, 26-08-2024. 

Miguel Rossetto foi vice-governador do RS e ministro nos governos Lula e Dilma e é líder da Bancada do PT na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul

Eis o artigo.

Cabe a nós, agora, resgatar a memória daquela luta histórica, e homenagear quem defendeu com a própria vida a democracia e o futuro do Brasil.

São dois os grandes ensinamentos que podemos buscar do Movimento da Legalidade, comandado por Leonel Brizola e pelo povo gaúcho contra a tentativa de golpe em agosto e setembro de 1961. O primeiro é que a força de uma sociedade mobilizada em defesa da democracia e de seus direitos é capaz de vencer qualquer tentativa das forças do atraso, da extrema direita – mal disfarçadas com seus falsos nacionalistas e patriotas – de impor um regime autoritário e violento.

O segundo diz respeito ao golpe de 1964, ocorrido apenas três anos após a Legalidade ter impedido a primeira tentativa golpista civil-militar. A democracia exige vigilância e mobilização permanente, sua própria reinvenção a cada dia, a renovação de valores e direitos. A força gaúcha com seus irmãos em diversos estados no Brasil nos mostrou o caminho em 1961, um povo que se levantou em defesa do Estado Democrático de Direito, um exemplo de cidadania que veio do RS em plena Guerra Fria e sufocou a tentativa golpista da elite brasileira com setores das Forças Armadas.

Por tudo isso, cabe a nós, agora, resgatar a memória daquela luta histórica, e homenagear quem defendeu com a própria vida a democracia e o futuro do Brasil. Muitos exemplos famosos ou anônimos, como do governador Leonel Brizola, Neusa Brizola, Mila Cauduro, Sereno Chaise, Terezinha Irigaray, Lara de Lemos, o ator Paulo César Péreio (um dos autores do hino da Legalidade), o escritor Josué Guimarães, o radialista Lauro Hagemann, a Brigada Militar, o general José Machado Lopes, comandante do então III Exército, que ficou ao lado do Movimento da Legalidade. E tantos outros anônimos das mais de 100 mil pessoas que ocuparam as ruas e a frente do Palácio Piratini e ajudaram a organizar a nossa gente e a resistência naqueles dias tensos e decisivos.

Estes aprendizados nos dizem muito quando olhamos para o 8 de janeiro de 2023. Depois de tentar impedir eleitores de votar, bloquear estradas, e ocupar frentes de quarteis, bolsonaristas avançaram sobre Brasília e os poderes da nossa República para provocar um golpe de Estado no Brasil. Apesar da derrota eleitoral, do fracasso do golpe e das prisões, a violência antidemocrática e desumana da extrema direita ultraliberal brasileira, não vai parar sem que as forças democráticas permaneçam mobilizadas na sociedade e nas instituições, no próprio cotidiano, se reinventando a cada dia, incorporando novos direitos, valores humanistas, renovando princípios, construindo igualdade e justiça social, reafirmando a defesa do Estado Democrático de Direito.

Nós não podemos nos desmobilizar. Vencer definitivamente a extrema direita brasileira antidemocrática é nosso desafio geracional nesta quadra da história, um compromisso civilizatório com as próximas gerações.

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