23 Julho 2024
A troca surpreendente na cabeça da chapa democrata pode trazer novo impulso à discussão sobre crise climática nas eleições presidenciais dos EUA de novembro.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 23-07-2024.
Depois de semanas de agonia pública, o presidente Joe Biden formalizou no último domingo (21/7) a desistência à reeleição nas eleições deste ano nos Estados Unidos. Em seu lugar, a vice-presidente Kamala Harris deve ser a candidata democrata na disputa contra o ex-presidente republicano Trump.
A mudança trouxe uma injeção de ânimo entre os democratas, deprimidos pelo fortalecimento recente de Trump nas pesquisas e pelos efeitos do atentado sofrido pelo candidato republicano no começo do mês. Com Kamala Harris, o partido espera ter uma candidata mais capaz de denunciar e contrapor o projeto extremista de Trump, inclusive na seara climática.
Diversos veículos, como ABC News, Bloomberg, Euronews, Forbes, Grist, NY Times e Vox, abordaram as posições históricas de Harris na questão climática. Além de herdar o legado de Biden, o presidente mais bem-sucedido nessa agenda da história dos EUA, a nova candidata democrata tem predicados próprios que animam ativistas climáticos e especialistas.
Em seu período como procuradora-geral da Califórnia, entre 2011 e 2017, Harris liderou uma investigação contra a petroleira ExxonMobil por denúncias de desinformação sobre as mudanças climáticas. A vice-presidente também processou uma empresa de oleodutos, a Plains All-American Pipeline, por um vazamento na costa da Califórnia em 2015. Outro caso de destaque foi o “Dieselgate", quando ela processou a Volkswagen por conta das fraudes nos testes de emissão de poluentes.
Harris também tem credenciais interessantes na discussão sobre Justiça Ambiental. Como promotora distrital de São Francisco, de 2004 a 2011, ela criou a primeira unidade de justiça ambiental dos EUA para lidar com crimes como o de despejo de resíduos perigosos em comunidades marginalizadas e vulneráveis.
Em 2019, quando se lançou na disputa primária dos democratas pela Presidência, Harris também elencou a crise climática como um dos principais desafios da Casa Branca. Entre as propostas então defendidas, estão a criação de uma taxa de poluição climática sobre os maiores emissores de gases de efeito estufa e a proibição à exploração de gás por fracking.
Outro destaque foi o apoio dado por ela, ainda como senadora pela Califórnia, ao Green New Deal, a proposta ambiciosa de ação climática lançada por parlamentares democratas progressistas em 2019. A proposta serviu como gênese da Lei de Redução da Inflação (IRA), o pacote climático aprovado por Biden em 2022 – bem menos ambicioso que o original.
A expectativa é de que o clima seja um dos principais argumentos de Harris para se contrapor a Trump durante a disputa presidencial. O crescimento recente do ex-presidente republicano nas pesquisas, favorecido pelo enfraquecimento de Biden e pela comoção gerada pelo atentado contra a sua vida, trouxe muita preocupação sobre o futuro da luta climática global sob um segundo mandato de Trump na Casa Branca.
“Se o ex-presidente Trump, notório negacionista, conseguir retornar ao cargo, há um pessimismo de que a chance de se conter o aquecimento global em níveis que se espera serem mais seguros pode ser perdida”, pontuou Giovana Girardi na Agência Pública. Uma vitória de Trump em novembro também trará impactos políticos ao Brasil na questão climática, já que o país sediará a COP30 no ano que vem.
Já no Valor, Daniela Chiaretti lembrou do bordão “drill, baby, drill”, ressuscitado por Trump em seu discurso na convenção republicana na semana passada. O slogan sintetiza a principal ameaça representada pelo ex-presidente: novos projetos de exploração e produção de combustíveis fósseis, sem qualquer limite e às custas do clima global.
Vale a pena ouvir o podcast Entrando no Clima, do site ((o)) eco, que também abordou os riscos que uma reeleição de Trump pode representar aos esforços globais contra as mudanças climáticas.
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Sai Biden, entra Kamala Harris: como a política climática dos EUA pode mudar com a nova candidata democrata - Instituto Humanitas Unisinos - IHU