02 Julho 2024
Um dos principais assuntos da semana foi a tentativa de golpe de Estado do ex-chefe do Exército boliviano, general Juan José Zúñiga, e outros dois ex-comandantes na última quarta-feira (26).
A reportagem é de Camila Bezerra, publicada por Jornal GGN, 30-06-2024.
E para comentar o assunto, o programa TVGGN 20H da última sexta-feira (28) recebeu Amauri Chamorro, consultor e analista internacional, que associou a tentativa de golpe de Estado ao fato de a Bolívia ser a maior reserva de lítio do planeta.
“É o mineral essencial para o desenvolvimento das telecomunicações e, principalmente, da economia verde. A economia verde se sustenta no lítio praticamente, pois é o material para desenvolver as baterias dos carros elétricos, por exemplo”, observa o analista.
Chamorro explica ainda que, desde 2006, com a chegada do ex-presidente Evo Morales ao poder, os recursos naturais bolivianos não estão mais nas mãos das grandes multinacionais europeias e estadunidenses. “Então, agora se tem realmente o controle do país, só que esse golpe de Estado foi meio fajuto, meio estranho.”
Na última semana, Zúñiga e tropas do Exército tomaram a Praça Murillo e tentaram “tomar” o Palácio Quemado e a Casa Grande del Pueblo. O ex-comandante do Exército chegou a ficar frente a frente com o presidente Luis Arce, a quem não obedeceu quando ordenado.
Em vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver o presidente Arce dirigindo-se ao general Zúñiga e exigindo a retirada imediata das tropas.
“Eu sou seu capitão, volte com toda a Polícia Militar para o seu quartel agora mesmo. General, não vamos permitir o que você está fazendo contra o povo boliviano”, declarou Arce.
O ex-comandante do Exército foi preso na mesma noite de quarta-feira. Ao ser detido, afirmou à imprensa que obedeceu a uma ordem de Arce – embora tenha admitido mais tarde que organizou um “levantamento” para “tomar o poder e convocar eleições”.
“Na verdade, não tinha uma sustentação já dentro do governo. Ele [general Zúñiga] ia ser demitido. Ele já sabia que ia ser demitido, em uma entrevista, em um determinado momento, ele fala que ia prender o ex-presidente Evo Morales caso ele seguisse com a tentativa de ser candidato a presidente. Quem pode definir quem pode ou não decidir se ele vai ser candidato a presidente é ele e a justiça boliviana, não um general do exército”, continua Chamorro.
O analista comenta ainda que o atual presidente boliviano foi ex-ministro da Fazenda de Evo Morales durante 10 anos, sendo o único que não foi trocado neste período.
Luis Arce também é uma referência em gestão de recursos naturais e como usar os royalties no fortalecimento da economia.
Ao longo da entrevista, o consultor aborda a participação da embaixada dos Estados Unidos na tentativa de golpe, não só na Bolívia, mas em todo o continente. “O capitalismo mundial se sustenta com os recursos naturais da América Latina”, conclui.
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O lítio e os bastidores da tentativa de golpe na Bolívia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU