28 Junho 2024
INPE e LASA/UFRJ confirmam que ação humana é principal vetor do fogo; “municípios que mais desmatam são os que mais têm incêndios”, diz Marina Silva.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 28-06-2024.
Quase a totalidade das chamas que estão destruindo o Pantanal teve origem em propriedades privadas. E quase nenhum incêndio tem indício de ter sido iniciado por causas naturais, como raios, o que torna a ação humana o principal vetor do fogo. É o que mostram os monitoramentos via satélite feitos pelo BDQueimadas, do INPE, e pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA/UFRJ).
Segundo o BDQueimadas, quase 95% do número recorde de 3.372 focos de incêndio registrados de 1º de janeiro até 3ª feira (25/6) ficam em áreas privadas, destaca a Folha. Apenas 189 deles foram registrados em Terras Indígenas e Unidades de Conservação, sejam elas estaduais ou federais.
Já o monitoramento do LASA/UFRJ verificou que menos de 1% de todos os focos de calor detectados pelos satélites do laboratório tiveram raios como origem. Apenas em janeiro, fevereiro e abril houve algum incêndio que, de acordo com o monitoramento, começou em razão de causas naturais.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reforçou os levantamentos do INPE e do LASA/UFRJ. “Nesse momento, não temos incêndios em função de ignição natural. Os climatologistas dizem que o período não propicia essa forma de incêndio. Todos eles são por ação humana, seja por desmatamento, seja por queimada.”
Marina ainda destacou que os municípios do Pantanal que mais registram desmatamento são aqueles onde há mais focos de incêndio, relatam O Globo e Correio Braziliense. “Corumbá está respondendo por metade dos incêndios do Mato Grosso do Sul, e lá o desmatamento aumentou 52%. Correlação direta.”
A ministra lembrou que a prática de queimadas controladas para manejo, para pasto ou para qualquer cultivo, está proibida e será criminalizada pelo menos até o fim do ano, tanto no Pantanal como em áreas da Amazônia e do Cerrado. No Pantanal, a proibição vale até 31 de dezembro, segundo a CNN.
Uma prática com fogo que poderia ter evitado o cenário atual ficou no papel. Prevista em decreto do estado de Mato Grosso do Sul de abril e citada como novidade nas ações de combate a incêndios no Pantanal, a queima prescrita em 140 fazendas não aconteceu, lembra o Campo Grande News. “A partir de agora vamos ter programa permanente de combate a incêndios e a queima prescrita é a grande novidade, para minimizar o risco de incêndio em grande escala no Pantanal”, disse, na ocasião, o governador Eduardo Riedel (PSDB).
Feita pelo ICMBio em áreas federais, a queima prescrita é o uso do fogo em partes da vegetação criando uma barreira natural para evitar o espalhamento das chamas quando ocorrem incêndios florestais, principalmente na época da seca. Mas, segundo o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (IMASUL), não pôde ser adotada, apesar do decreto, devido à estiagem severa.
O Globo, IstoÉ e Agência Brasil repercutiram os incêndios no Pantanal.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) deve entregar entre 20 e 30 de julho o Plano Operativo Integrado, que reúne ações extraordinárias para o Pantanal e a Amazônia, informa a Folha. O plano é resultado de uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do julgamento das Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs), apresentadas no governo anterior, que apontavam omissão na prevenção e combate de queimadas nos dois biomas. Em março, o STF acolheu parcialmente as ações e determinou que a União apresentasse um plano de combate a incêndios florestais e queimadas não autorizadas em até 90 dias.
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Pantanal em chamas: 95% do fogo tem origem em propriedades privadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU