A escalada obscurantista de um governo capturado pela direita. Destaques da Semana do IHU

Confira os destaques de 08 a 14 de junho de 2024

Arte de Marcelo Zanotti | IHU

15 Junho 2024

O ministro da Fazenda acenando para rentistas para não deixar o “mercado nervoso”, a ministra do Planejamento jogando com as aposentadorias, Lula achando que não pode perder a oportunidade de explorar a Foz do Amazonas. Tudo isso em meio à semana mais negativa do atual governo, a pior semana para os progressistas, diante de um Congresso que não hesita em usar mulheres e meninas vítimas de estupro como joguetes políticos, e ainda a Europa capotando à direita. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana.

Veja também a versão em podcast dos Destaques da Semana

Saudosismo para trazer esperança

Em meio a uma semana que foi classificada como a “pior para o campo progressista”, lembramos de quatro ícones da resistência, que acreditavam em um projeto de nação baseado na educação, na justiça social e na proteção ambiental.

Ninguém come PIB

Essa semana foi marcada pela despedida de Maria da Conceição Tavares, que “nunca desistiu do Brasil”. A célebre economista “destacou-se não apenas pela formação de gerações de economistas, mas também pela representatividade, por escancarar os ambientes herméticos às mulheres, e, sobretudo, pela defesa intransigente do nacional-desenvolvimentismo; do crescimento econômico com distribuição de renda; de uma política externa independente; da erradicação das desigualdades sociais; de uma sociedade brasileira mais justa e igualitária. Em momento nenhum deixou-se levar pela onda tecnicista e privatista, sempre pontuando o compromisso do economista com a justiça social, com o povo e com a nação”, pontuaram Luiz Felipe Osório e Maurício Metri.

Paulo Kliass foi enfático ao lembrar Conceição Tavares: “a prioridade não seria atender aos anseios da Faria Lima, mas sim as necessidades da grande maioria do povo brasileiro. É hora de Lula lembrar Haddad de que o seu ministro deveria respeitar a memória de Conceição”.

Religião privatista

“Se privatizarmos as escolas, só rico vai estudar”. “Privatização é uma das coisas desonestas, ruim, que se faz no Brasil”. Em 1988, Darcy Ribeiro já alertava para os descaminhos da “religião privatista”. Darcy era um utópico, mas deu passos concretos importantes em direção a garantias básicas, como a construção de escolas no Rio de Janeiro e a defesa política e acadêmica aos povos indígenas e à população negra. Confira uma entrevista que lembra o protagonismo do fundador da Universidade de Brasília. Os alertas não são poucos, mas o governo do Paraná parece não dar ouvidos a um dos maiores intérpretes desse país e vai passando o rolo compressor da privatização da gestão das escolas estaduais por lá.

Caro mesmo é a ignorância

Assim Brizola defendia a educação no país, em debate presidencial com Fernando Henrique Cardoso. Paladino da educação de qualidade, em turno integral, com assistência à saúde, acesso à alimentação etc., ficaria estarrecido com a proposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para agraciar o mercado, que pretende limitar a 2,5% o crescimento real (acima da inflação) do piso para a educação.

 

Os mercados são cegos para a geração futura

Desde que os desastres climáticos começaram no Rio Grande do Sul, a voz de uma importante figura renasceu: José Lutzenberger. Há 50 anos ele já avisava o que estava por vir diante à inação dos governos para promover políticas ambientais e era crítico aos mercados. "O livre mercado não resolve tudo, até porque é manipulado. O mercado só vê demanda, não vê necessidades. Os mercados são cegos para as gerações futuras", advertia. Parece que ainda estamos surdos. 

Pior semana

Em um fio publicado em sua conta do X, Rudá Ricci resumiu bem a semana do país. “Esta é, sem dúvida, a pior semana do governo Lula (e do campo progressista). A direita, mais que a extrema-direita, percebeu o grau de desarticulação do lulismo e do campo progressista e avançou com fome”. O professor nos concedeu uma entrevista, a ser publicada na próxima semana, em que fala um pouco mais sobre o assunto. 

Escalada obscurantista

Arthur Lira voltou a medir forças com Lula (ou nem tanto, pois o líder do governo na Câmara ‘lavou as mãos’ para a votação), ao aprovar, em questão de segundos, o regime de urgência do Projeto de Lei 1904/24, que criminaliza as mulheres vítimas de estupro ao abortarem após 22 semanas. A Comissão Arns publicou nota de repúdio sobre o que classificou como “escalada obscurantista”. “A entidade de defesa dos direitos humanos encara a proposta com perplexidade, considerando seu potencial danoso para as mulheres brasileiras, sobretudo adolescentes e vítimas de estupro. Dessa forma, solicita aos diferentes setores da sociedade civil e aos parlamentares a imediata interrupção dessa ‘escalada obscurantista’", afirma. O bom é que, ao mesmo tempo que a Câmara criminaliza as “crianças mães”, muita gente já está ocupando as ruas.

Oportunidade perdida

Lula perde, mais uma vez, a oportunidade de ser um líder comprometido com a agenda ambiental. O presidente declarou que “não vamos jogar fora nenhuma oportunidade” de explorar petróleo na Foz do Amazonas, ignorando os custos do caos climático em que estamos mergulhados. Assim, o Brasil vai mais uma vez perdendo o bonde da história, e deixamos o fogo consumir a Amazônia, o Pantanal derreter em meio à seca, o RS entregue ao desastre... caminhando lado a lado dos “monstros da desestabilização climática”. Para o antropólogo Bruce Albert, o gesto foi “imperdoável”.

O RS segue mergulhado na sua barbárie climática

tragédia que o Rio Grande do Sul viveu e continua vivendo tornou-se uma marca indelével não somente na história do território, mas de como vivemos nas duas últimas décadas uma virada política que nos levou ao caos. Se antes nos orgulhávamos da Porto Alegre símbolo altermundialista por conta do Orçamento Participativo OP e do Fórum Social Mundial, agora vivemos a barbárie climática. O que nos levou até aqui, aponta Luís Augusto Fischer é a "imensa virada “uber” do mercado de trabalho, que ocorreu neste período. A uberização, como se sabe mas não é tão óbvio perceber, traz junto um sentido forte de individualismo que se opõe à solidariedade social, que era o centro nervoso das práticas altermundialistas. As escolhas de governantes, locais e nacionais, caminharam também nessa direção, com uma tendência forte de operar a diminuição dos aparelhos administrativos e também das práticas coletivas, quer dizer, o dito estado mínimo". 

No dia 18 de junho próximo, às 10h, Luís Augusto Fischer participará da videoconferência ethos gaúcho e o desafio de reconstruir o RS diante do novo regime climático, junto com Vítor Ortiz, historiador, gestor e produtor cultural, e Tânia Farias, atriz e diretora teatral. Acompanhe a transmissão ao vivo no site do IHU e em nossos canais. 

Europa dá mais um passo à direita

O avanço da direita e da extrema-direita nas últimas eleições na União Europeia também é um sinal que coloca em que xeque o futuro da política climática, já que chegaram ao parlamento “muitos negacionistas da crise climática e críticos ácidos das medidas tomadas nos últimos anos pela UE para reforçar seus compromissos sob o Acordo de Paris”.

Ganhou, mas não foi de lavada

Antonio Martins publicou uma análise do pós-eleições da Europa e foi cirúrgico: o “avanço da ultradireita é real, mas limitado. Mídia oculta o principal: fracassaram os governos que mergulharam na política bélica de Washington e voltaram as costas à crise social. Mesmo estancada, a esquerda tem alguns resultados animadores”. Ainda no artigo, Martins questionou se haverá defesa da democracia e lembrou dos rumos que estamos tomando por aqui: “o Brasil permanece aprisionado aos limites do liberalismo. O desgaste resultante é claro. Resta saber o que aprenderemos com ele”.

Aproveitando o gancho...

A extrema-direita continua assanhada por aqui e preparando a sucessão de Bolsonaro, é o que acentua Bruno Paes Manso. Para o professor, “armas, dinheiro, religião e poder” é “o projeto de futuro da extrema-direita para o Brasil [que] segue popular, mesmo sem a presença histriônica de Jair Bolsonaro. Com Tarcísio de Freitas, a lógica por trás desses planos fica mais clara, em resposta a um novo ciclo político autoritário que atinge não apenas o Brasil, mas diversos países do mundo”. Fiquemos atentos!

O catolicismo pende à direita

O presidente francês, Emmanuel Macron, convocou eleições legislativas antecipadas diante da vitória do partido de Marine Le Pen. Mas não sabemos até que ponto os católicos franceses vão levar em conta a influência da palavra magisterial nas urnas, já que o recente pleito mostra um aumento da adesão dos católicos praticantes à extrema-direita.

O papa desembarca no G7

Começou na Itália a reunião das sete principais economias do planeta e, pela primeira vez na história, contará com a presença de um pontífice. Mesmo tendo dado a impressão de que flerta com a ultradireita de Giorgia Meloni, o Papa Francisco saiu em defesa da vida e afirmou que “nenhuma máquina deve optar por tirar a vida a um ser humano” ao discursar sobre a inteligência artificial. Nos próximos dias vamos repercutir mais sobre o encontro.

Um encontro no G7 que interessa aos brasileiros....

Em tempo

A miséria humana das guerras continua com o conflito na Ucrânia e o genocídio perpetrado por Israel em Gaza. “Com a morte de mais de 800 pessoas em uma única semana, incluindo crianças pequenas, além da mutilação de outras centenas de pessoas, como essa pode ser considerada uma operação militar aderente ao Direito Internacional Humanitário? Não podemos mais aceitar a afirmação de que Israel está tomando ‘todas as precauções’ - isso não passa de propaganda”, declarou a organização Médicos Sem Fronteiras.

Amigos dos pobres

Francisco publicou sua mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, marcado para 19 de novembro. O texto foi publicado no dia 13 de junho, festa de Santo Antônio de Pádua, padroeiro dos pobres. Na mensagem, Francisco conclamou para que "sejamos peregrinos da esperança" e apelou para que os cristãos se aproximem dos pobres, explicando que "somos chamados em todas as circunstâncias a ser amigos dos pobres, seguindo os passos de Jesus, que sempre começou demonstrando solidariedade ao lidar com os menos favorecidos entre nós", escreveu. 

Falando em Santo AntônioFrei Jacir contou um pouco da história e lembrou que o santo converteu muitas pessoas através dos seus milagres e conhecimento evangélico. “Então Santo Antônio começou a pregar sobre a fé católica, e pregou tão nobremente que converteu todos aqueles hereges, e eles voltaram à verdadeira fé de Cristo. E todos os fiéis ficaram confortados e fortificados na fé, com enorme alegria”.

Desejamos a todos e todas uma boa semana!