10 Junho 2024
Embora no sábado tenham sido libertados quatro reféns retidos pelo Hamas em Gaza, os ministros Gadi Eisenkot e Hili Tropper também apresentaram suas cartas de renúncia.
A reportagem é publicada por Página|12, 10-06-2024.
Benny Gantz, membro do gabinete de guerra israelense, apresentou neste domingo sua renúncia por desacordos com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu sobre o plano de pós-guerra em Gaza, e apesar da libertação de quatro reféns retidos no território palestino governado pelo Hamas. Os ministros Gadi Eisenkot e Hili Tropper, membros do mesmo partido de Gantz, também apresentaram suas cartas de renúncia ao governo de emergência, em meio a divisões crescentes em Israel sobre a forma como Netanyahu gerencia a guerra contra o movimento islâmico palestino.
"Netanyahu nos impede de avançar em direção a uma verdadeira vitória. Por essa razão hoje abandonamos o governo de emergência com o coração pesado", disse Gantz em uma aparição que ia ocorrer no sábado, mas que foi adiada após o resgate de quatro reféns em Gaza em uma operação com bombardeios que causou a morte de pelo menos 274 palestinos. "Faço um apelo a Netanyahu: fixe uma data acordada para as eleições. Não deixe que nosso povo se desgarre", acrescentou o líder do partido Unidade Nacional.
Gantz figura como favorito para formar um governo de coalizão se cair o Executivo de Netanyahu e forem convocadas eleições antecipadas. Esta sequência de renúncias não põe em risco o governo, uma coalizão que inclui partidos religiosos e ultranacionalistas, mas é um golpe político para o primeiro-ministro, oito meses após o início da guerra contra o Hamas em Gaza.
Há cerca de duas semanas Gantz deu o dia 8 de junho como data limite para que seu partido, Unidade Nacional, abandonasse o gabinete de guerra se este não conseguisse acordar um "plano de ação integral" com seis objetivos: trazer os reféns para casa, derrubar e desmilitarizar o Hamas em Gaza, estabelecer um governo alternativo na Faixa, garantir o retorno dos residentes na fronteira norte e forjar relações de normalização.
Poder Judaico, o partido de extrema-direita do ministro de Segurança Nacional israelense, Itamar Ben Gvir, anunciou que voltará a votar com a coalizão de Netanyahu no Parlamento "enquanto existir um acordo de trégua imprudente sobre a mesa" e se ofereceu para substituir Gantz como membro do gabinete de guerra. Gantz, que antes do dia 7 de outubro estava no lado da oposição, foi o único líder que aceitou o pedido de Netanyahu para formar um governo de unidade nacional e conseguiu um posto dentro do gabinete de guerra, mais reduzido que o de governo e com direito a voto.
Minutos depois de Gantz anunciar sua renúncia, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu lhe repreendeu dizendo que "é o momento de unir forças" e não de abandonar o governo por diferenças sobre a gestão da guerra em Gaza. Netanyahu lembrou que as portas permanecem abertas a "qualquer partido sionista" que queira colaborar na derrota dos "inimigos e garantir a segurança" dos cidadãos de Israel.
O extremista Bezalel Smotrich, à frente da pasta das Finanças, criticou a decisão de Gantz como a resposta "exata" ao que buscam o líder do Hamas em Gaza, Yahia Sinwar, ou o líder do grupo xiita libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah. "Não há ato menos majestoso do que renunciar a um governo em tempo de guerra. Quando aumentam as ameaças no norte, quando os sequestrados continuam morrendo nos túneis do Hamas e quando dezenas de milhares de residentes estão fora de suas casas" nas fronteiras, disse Smotrich no X.
O chefe da oposição israelense, Yair Lapid, qualificou a ação de Gantz de "importante e acertada" e reiterou a necessidade de criar um governo "sensato que conduza ao retorno da segurança aos cidadãos de Israel".
Após a libertação de quatro reféns em uma operação que se realizou no sábado no campo de refugiados de Nuseirat, no centro de Gaza, neste domingo quatro membros de uma família morreram e outros ficaram feridos em um bombardeio israelense que atingiu sua casa no norte do enclave palestino. Testemunhas também informaram disparos de helicópteros a leste do campo de refugiados de Al Bureij e de artilharia em Deir al Balah, no centro, e em Rafah, no sul.
Após oito meses de guerra, o governo de Netanyahu reforçou sua estratégia militar em meio a fortes pressões internacionais e internas por sua gestão do conflito. O papa Francisco instou que se permita o acesso de ajuda humanitária a Gaza e apelou à comunidade internacional a tomar medidas urgentes. "A ajuda humanitária deve poder chegar a quem dela precisa", afirmou Francisco após vários meses de escassez de comida, água, medicamentos ou suprimentos básicos no enclave palestino.
Animo a la comunidad internacional a que actúe urgentemente, con todos los medios necesarios, para socorrer a la población de Gaza, exhausta a causa de la guerra. Las ayudas humanitarias han de poder llegar a quien las necesita, y nadie debe impedirlo.
— Papa Francisco (@Pontifex_es) June 9, 2024
O Papa reiterou seu apoio "às negociações em curso entre as partes" para alcançar um cessar-fogo na guerra entre Israel e Hamas. Além disso, mencionou que na próxima terça-feira "se celebrará na Jordânia uma conferência internacional sobre a situação humanitária de Gaza" e agradeceu a Jordânia, Egito e a ONU por tomarem esta iniciativa.
A operação de sábado em Nuseirat significou o bombardeio de "89 casas habitadas e edifícios residenciais", que terminou com a vida de "64 crianças, 57 mulheres e 37 idosos", conforme revelou o Escritório de Comunicação do governo da Faixa. Além disso, entre os feridos estavam 153 crianças, 161 mulheres e 54 idosos. O resgate se tornou o mais importante realizado pelas forças armadas desde o dia 7 de outubro, mas também foi um dos dias mais violentos no devastado enclave palestino.
As Brigadas Al Qassam, braço armado do Hamas, anunciaram neste domingo que três reféns, entre eles um com cidadania americana, morreram durante a operação de resgate. O grupo não identificou os mortos nem forneceu detalhes sobre suas identidades. Um porta-voz militar israelense, o tenente Peter Lerner, negou essa informação. "Isso é apenas propaganda do Hamas em sua tentativa de tentar criar preocupação em Israel", disse Lerner ao canal britânico Sky News.
A relatora especial da ONU sobre os territórios palestinos, Francesca Albanese, se mostrou "aliviada" pela libertação dos reféns, mas lamentou que se tenha produzido "à custa de pelo menos 200 palestinos, incluindo crianças, e de mais de 400 feridos". A guerra estourou no dia 7 de outubro quando comandos do Hamas atacaram o sul de Israel e mataram 1.194 pessoas, em sua maioria civis, segundo um balanço da agência AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Durante esse ataque, os militantes islâmicos tomaram 251 reféns, dos quais 116 continuam retidos em Gaza, incluindo 41 que teriam morrido segundo o Exército israelense. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre que já matou pelo menos 37.084 pessoas em Gaza, sobretudo civis, de acordo com o ministério da Saúde do território governado pelo Hamas desde 2007.
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Benny Gantz renunciou ao gabinete de guerra formado pelo governo israelense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU