Repudiar a guerra esperando o ônibus. Artigo de Tomaso Montanari

Foto: OMS | UN News

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16 Março 2024

Uma arte capaz de ocupar o espaço público, de usar o domínio do mercado para nos libertar dele, fazendo-nos pensar, é uma arte preciosa.

O comentário é do historiador da arte Tomaso Montanari, professor da Universidade Federico II de Nápoles. O artigo foi publicado pelo caderno Il Venerdì, do jornal La Repubblica, 15-03-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

“Se vocês não falarem, as pedras gritarão.” Esse versículo do Evangelho me veio à mente quando, entediado ao esperar por mais um ônibus atrasado, percebi que o anúncio publicitário no ponto de ônibus do outro lado da rua era diferente do habitual.

Não era uma propaganda normal da Coca-Cola, mas sim um forte manifesto político que usa a forma histórica daquela marca celebérrima para compor a palavra Genocide”  [genocídio], sugerindo, através da representação da forma geográfica de Israel e de uma garrafa de Coca-Cola que a enche, a cumplicidade estadunidense ou, melhor, ocidental com o que está acontecendo em Gaza.

Ao fotografá-lo e postá-lo no Instagram, em poucas horas tive notícias do autor, que se autodenomina “Illustre Feccia” [Ilustre Escória].

Como acontece cada vez mais frequentemente nestes dias terríveis, concordei em parte com sua postagem que acompanha a publicação de outros exemplares dessa campanha.

Não acredito de forma alguma, por exemplo, que a solução passe pela eliminação do Estado de Israel, pois seria uma posição simétrica a de quem imagina a expulsão ou, pior, a supressão de todos os palestinos.

A distinção entre quem pede e busca a paz e quem imagina (de ambos os lados) a guerra como a única solução para um problema cada vez mais difícil de resolver parece cada vez mais clara.

Por outro lado, é precisamente isso que diz a Constituição italiana ao repudiar a guerra como meio de resolução das controvérsias entre os povos: podemos e devemos usar todos os instrumentos, exceto a violência.

Para fazer isso, é necessário, acima de tudo, que as armas se calem: agora, imediatamente. Que cesse o extermínio cotidiano de mulheres e crianças palestinas pelas mãos israelenses. Por isso, é justo, e eu diria necessário, usar a palavra “genocídio”: não porque esse seja o projeto de todo o establishment israelense, mas porque é cada vez mais evidente que alguém lá pensa realmente assim, e que, a cada dia que passa, essa palavra corre o risco de ser um pouco mais verdadeira.

O Tribunal Internacional de Haia considerou “plausível” o uso da palavra genocídio: e isso deveria bastar para poder pronunciá-la, como um exorcismo, para que esse fantasma não se torne realidade de verdade.

Então, é muito bom que um artista de rua, independentemente do que ele pensa, seja tão genial a ponto de imaginar esse manifesto e de colocá-lo ali, sem que nenhuma “autoridade” tenha se dado conta de nada ainda. Uma arte capaz de ocupar o espaço público, de usar o domínio do mercado para nos libertar dele, fazendo-nos pensar, é uma arte preciosa. A ser cultivada e defendida, neste tempo férreo.

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