30 Outubro 2023
"A sinodalização da Igreja Católica deu um passo enorme. No entanto, ainda há trabalho a ser feito sobre questões conhecidas, que agora passaram a fazer parte do léxico oficial".
A opinião é do teólogo pastoralista e padre austríaco Paul M. Zulehner, professor emérito da Universidade de Viena, em artigo publicado em Settimana News, 01-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A etapa que acabamos de concluir é uma etapa importante no caminho sinodal da Igreja universal desejado pelo Papa Francisco. Além disso, não se tratou de um dos habituais sínodos dos bispos, mas sim de um sínodo dos bispos alargado, expandido em uma assembleia eclesial original: um Sínodo do Povo de Deus, no qual não só os bispos, mas também os batizados, mulheres e homens, tiveram um lugar e uma voz. Só isso já pode encorajar aquelas Igrejas locais que, como a alemã, desejam ter uma espécie de “parlamento eclesial” permanente e, portanto, institucionalizar a sinodalidade.
Nas quatro semanas deste Sínodo, uma parte importante da Igreja Católica mundial tornou-se mais sinodal por experiência. Alguns de nós podem sorrir diante disso: mas foi um salto o fato de que, na sala sinodal, houvesse muitas mesas para pequenos grupos, nas quais mulheres e homens se sentaram com bispos e cardeais, e consultaram-se mutuamente.
Alguns bispos, disse o cardeal Mario Grech na coletiva de imprensa após a conclusão das sessões, aproximaram-se da mesa como se houvesse gelo, derretendo-se depois gradualmente justamente graças à experiência. Foi um verdadeiro treino na escuta para alguns bispos – disse um bispo alemão. É possível que alguns bispos voltem para casa mudados em sua liderança da Igreja local. Isso também seria um grande sucesso.
É algo bom que o relatório tenha deixado para trás a dura contraposição entre Sínodo e Parlamento: porque o Espírito não age apenas no Sínodo, mas também nos parlamentos que se esforçam pelo bem comum. A obra do Espírito e as regras democráticas caminharam juntas. O relatório foi votado passo a passo. Em sua forma atual, todos os parágrafos receberam uma maioria de dois terços dos votos.
O trabalho do Sínodo foi vivido na escuta do Espírito e na tentativa de discernir os espíritos. Essa “conversação no Espírito” deu origem a experiências preciosas: aprendeu-se a escutar, a respeitar a diversidade de opiniões, a suportar a dissidência. Naturalmente, não havia a necessidade de persuasão.
Contudo, esse método de “conversação no Espírito” também mostrou seus limites. A espiritualização provocou uma espécie de evitamento improdutivo do conflito; havia mais perguntas do que respostas. As questões de reforma há muito tempo pendentes não foram levadas adiante; e, em comparação com o Concílio Vaticano II, os peritos teológicos não se sentaram às mesas da assembleia sinodal. Isso também fica evidente a partir do relatório final. Por esse motivo, é precisamente para “aprofundar” as questões que ficaram em aberto que se exige agora o trabalho dos teólogos e dos outros saberes.
A grande aceitação do texto atual foi possibilitada pelo fato de que muitas questões não foram resolvidas, mas indicadas como ainda em aberto: o que, por si só, deve ser considerado um grande sucesso. Isso significa muito trabalho para o próximo ano. O diaconato das mulheres, a questão do celibato, a cultura sexual, a questão do gênero, a bênção dos casais homossexuais – tudo permaneceu em aberto.
Por um lado, isso pode decepcionar quem já esperava decisões agora. Mas também preocupa quem queria que esses temas fossem retirados da mesa sinodal. De acordo com os números dos votos sobre as questões sensíveis, eles não foram tão poucos assim – cerca de um terço.
O texto de síntese diz explicitamente que é um erro considerar as mulheres na Igreja como uma questão ou até mesmo como um problema. Contudo, esse critério também pode ser aplicado a algumas formulações da própria síntese final da primeira sessão. Há muitas mulheres que há muito tempo se ocupam das questões femininas na Igreja e que refletiram sobre elas também do ponto de vista teológico. Talvez teria sido mais útil convidar essas teólogas de destaque e escutá-las no Espírito.
O fato de a assembleia sinodal ter se ocupado com a sinodalidade suscitou receios de que se tratasse principalmente de reformas internas da Igreja: como envolver os batizados no Evangelho e como formá-los adequadamente para que possam assumir suas responsabilidades; como, ao mesmo tempo, os ministros ordenados podem desenvolver uma nova cultura ministerial sinodal, mesmo antes da ordenação, ou como encontrar candidatos capazes de sinodalidade para as próximas nomeações episcopais. Felizmente, o documento de síntese não se detém nessas questões internas da Igreja.
O mundo que está cambaleando está muito presente, sobretudo por meio das pessoas que provinham de locais de crise: da Ucrânia à Rússia, de Israel à Palestina. Uma grande atenção foi dada à migração; o grito da terra e dos pobres foi escutado. Também foi dado um amplo espaço aos desafios da informatização, porque a internet e as mídias sociais podem ser um lugar para influenciadores do Evangelho entre os jovens, mas também terreno para um ódio obscuro contra a Igreja.
No percurso de sinodalização da Igreja, segundo o texto de síntese, diáconos e sacerdotes deverão participar mais no futuro. Talvez muitos tenham sido desencorajados pela “clava do clericalismo”. O diretor espiritual, Pe. Timothy Radcliffe, pediu então uma visão positiva para os sacerdotes em uma Igreja sinodal. Os sacerdotes, e ainda mais os bispos, poderiam ser ajudados e apoiados no exercício de seu ofício por meio da sinodalidade. Assim, também poderiam ser aliviados de sua solidão, porque outros os apoiam e os carregam.
As passagens sobre o ecumenismo dão esperança. Não só é possível aprender com outras Igrejas. É claro que já existe uma rica diversidade dentro da Igreja Católica mundial, que poderia aumentar ainda mais se as decisões fossem transferidas para o nível dos continentes ou das Igrejas locais. Tal ecumenismo dentro à Igreja Católica daria um impulso ao ecumenismo da Igreja cristã.
Uma sinodalização do ofício papal poderia torná-lo aceitável também a outras Igrejas.
Fica em aberto a questão de saber se e como o sentimento eclesial sinodal adquirido nessas quatro semanas se espalhará por toda a Igreja mundial. O relatório expressa essa esperança. Ele a liga ao tema da inculturação: que no próximo ano haverá novos impulsos sobre as questões em aberto, especialmente a partir das assembleias continentais, mas também das Igrejas locais.
Isso seria um prelúdio para o sucesso provavelmente revolucionário da Assembleia Sinodal de 2024, quando esses níveis dos continentes e das conferências episcopais poderiam ser dotados de novos espaços de decisão.
Nesse ponto, as Igrejas africanas não deveriam mais concordar com a isenção do celibato na Amazônia, e as áreas eclesiásticas da Europa oriental não deveriam aceitar a bênção dos casais homossexuais. A África poderia desenvolver uma nova pastoral em vista da poligamia, que o relatório pede explicitamente – o que certamente é algo histórico. O atraso da reforma da Igreja Católica poderia finalmente ser superado.
Resta, portanto, algo convincente ao longo do caminho sinodal da Igreja Católica mundial.
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Sínodo: um passo histórico. Artigo de Paul Zulehner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU