18 Outubro 2023
Nos Estados Unidos, “o apoio a Israel é unânime. E os republicanos não estão dispostos a assumir o custo de duas guerras. Sendo assim, seja pelo bloqueio na Câmara, seja pela mudança política presidencial, a guerra na Ucrânia acabará em negociação com cessão de território, após centenas de milhares de vítimas e a destruição de um país”, avalia Manuel Castells, sociólogo espanhol, em artigo publicado por La Vanguardia, 14-10-2023. A tradução é do Cepat.
Os Estados Unidos estão, há muito tempo, imersos em uma extrema polarização ideológica e política. Na sociedade, na classe política e nas instituições. Houve até uma tentativa de golpe do presidente Trump. Existem centenas de julgamentos em andamento. Contudo, o próprio Trump continua muito tranquilo e cada novo julgamento aumenta a sua popularidade. Certamente, conseguirá a indicação republicana para as eleições presidenciais. Ele tem 61% da preferência dos republicanos.
Conforme o tempo passa e a guerra se alonga, com dezenas de milhares de vítimas dos dois lados, a continuidade do apoio decisivo dos Estados Unidos a Zelensky é cada vez mais duvidosa. A divisão entre democratas e republicanos se reflete nas atitudes em relação à guerra. Entre a população, 41% querem manter a ajuda contra 35% que a rejeitam. No entanto, esse apoio diminui para 35% entre os republicanos. E embora esteja em 52% entre os democratas, esta proporção diminuiu quando comparada aos 61% de maio passado.
Os escassos resultados da contraofensiva ucraniana vão reforçando aqueles que opinam que, após 44 bilhões de dólares e o envio de todo um arsenal, seria necessário convencer a Ucrânia a negociar, mesmo que perdesse algum território.
Esta divisão chegou à Câmara dos Representantes, responsável pelo orçamento. O Governo esteve a ponto de suspender pagamentos, há alguns dias, devido a cortes que os republicanos tentam impor para sujeitar Biden, contra quem preparam uma tentativa fútil de destituição. O compromisso de última hora para desbloquear fundos eliminou do acordo a verba de 24 bilhões de dólares para a Ucrânia. Além disso, provocou o voto de censura que destituiu Kevin McCarthy, presidente da Câmara.
O líder da conspiração republicana, Matt Goetz, é ambíguo a respeito da ajuda à Ucrânia. Neste mês, os republicanos votaram uma nova verba de apenas 300 milhões e foi rejeitada por 117 votos republicanos contra e 101 a favor. E mais, Trump, que mexe os pauzinhos, apoia Jim Jordan para presidir o Congresso, que é contra prosseguir com a ajuda militar à Ucrânia porque, diz, os Estados Unidos têm muitos problemas e esta não é uma prioridade.
Na realidade, tudo depende da eleição presidencial. Se Trump vencer, já declarou que acabaria com a guerra fechando a torneira e forçando a negociação. Se a futura eleição fosse hoje, Biden e Trump estariam empatados, mas há muitos eleitores que não gostam de nenhum dos dois. E entre estes, uma grande maioria, por fim, votaria em Trump. E por certo, mesmo que os tribunais condenem Trump, ainda é possível que seja presidente e inclusive que indulte a si próprio, a menos que haja inabilitação na sentença.
Ao contrário da Ucrânia, o apoio a Israel é unânime. E os republicanos não estão dispostos a assumir o custo de duas guerras. Sendo assim, seja pelo bloqueio na Câmara ou pela mudança política presidencial, a guerra na Ucrânia acabará em negociação com cessão de território, após centenas de milhares de vítimas e a destruição de um país.
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A Ucrânia divide os Estados Unidos. Artigo de Manuel Castells - Instituto Humanitas Unisinos - IHU