A Assembleia do Sínodo Sobre a Sinodalidade 2023, aberta nesta semana, reacende o debate sobre a relevância do cristianismo católico no século XXI. O IHU debate este desafio e primeiras impressões do Sínodo em evento na segunda, dia 09-10-2023
Desde as primeiras movimentações, o Sínodo sobre a Sinodalidade tem gerado muita expectativa e uma boa dose de conflitos. Com uma consulta iniciada em 2021 que visou escutar gentes de todas as paróquias do mundo, e até os não crentes, chegamos à abertura da Assembleia Sinodal. Desde a última quarta-feira, 04-10-2023, bispos do mundo todo estão reunidos em Roma para discutir os pontos levantados nesta longa consulta começada há dois anos.
De um lado, há quem defende esse processo como um caminho para realmar a Igreja do século XXI, uma Igreja em saída e que transita para além-fronteiras. É assim que o teólogo e filósofo tcheco Tomáš Halík vê este processo. Muita mais do que atualizar a doutrina, para ele, trata-se uma oportunidade de nos reconectarmos com o núcleo do cristianismo. “O núcleo do cristianismo é o Cristo ressuscitado e vivo, que vive na fé, na esperança e no amor dos homens e das mulheres na Igreja e para além de suas fronteiras visíveis. Essas fronteiras precisam ser expandidas, e todas as nossas expressões humanas externas de fé precisam ser transformadas, caso se interponham no caminho do nosso desejo de ouvir e compreender a Palavra de Deus”, diz, em artigo publicado no IHU.
Só que também há quem veja esse processo como uma ameaça à instituição Igreja. Há poucos dias da abertura da Assembleia Sinodal, cardeais entrincheirados contra o estilo Francisco de conduzir e provocar reflexões à Igreja – que não vem de hoje e nem só a partir dos Sínodo, aliás – resolveram vir à luz e apresentar suas dubia. Na pauta, cinco pontos sensíveis: revelação divina, benção às uniões de pessoas do mesmo sexo, sinodalidade, ordenação de mulheres, penitência e perdão.
O Papa responde aos cardeais, reiterando suas posições. E, na solenidade de abertura da Assembleia do Sínodo, Francisco dá o que podemos considerar um complemento às indagações dos cardeais, ao mesmo tempo que realinha seu desejo quanto ao Sínodo. Ele diz:
“Ver se o Sínodo vai permitir isto ou aquilo, abrir esta porta ou aquela… isso não adianta! Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar nem um plano de reformas. O Sínodo, amados irmãos e irmãs, não é um parlamento. O protagonista é o Espírito Santo. Não estamos aqui para parlamentar, mas para caminhar juntos com o olhar de Jesus, que bendiz o Pai e acolhe a quantos estão cansados e oprimidos. Comecemos, pois, a partir deste olhar de Jesus: um olhar bendizente e acolhedor”.
O padre Luis Miguel Modino traz um entendimento sobre o Sínodo e a Sinodalidade que abre o espectro. Em texto publicado no IHU, Modin escreve que “um Sínodo deve ser uma forma de tornar realidade o que muitos consideram ‘amizades impossíveis’”. E completa: “a sinodalidade deve ser um instrumento que possibilite o encontro com aqueles com quem a escuta, o diálogo e o discernimento em comum levam à descoberta de riquezas interiores que nossos simples sentimentos humanos não nos permitiram perceber”.
A #sinodalidade não é uma questão restrita a organização ou funcionamento eclesial, mas pertence à própria natureza da Igreja, isto é, possui fundamentação teológica. O horizonte da sinodalidade é eclesiológico, espiritual, e não funcional #Sínodo #synod2023 pic.twitter.com/nsA83HD1tk
— Vatican News (@vaticannews_pt) October 3, 2023
Modino, juntamente com Prof. Dr. Geraldo Luiz de Mori, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje, e com a presidente do Conselho Nacional do Laicato do Regional Leste II, Leci Conceição Nascimento, participam nesta segunda-feira, 9-10-2023, do debate “Sínodo Sobre a Sinodalidade 2023. Primeiras Impressões”. A atividade, promovida pelo IHU, será via videoconferência, com transmissão pelas redes IHU, gratuita e sem a necessidade de inscrição. Não será fornecida certificação.
Luis Miguel Modino
É presbítero da Arquidiocese de Madri e missionário na Arquidiocese de Manaus. Atua como assessor de imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB (regional Norte1) e coordenador da Comissão para a Comunicação na Arquidiocese de Manaus.
Modino (Foto: acervo pessoal)
É pároco da Área Missionária São José do Rio Negro, em Manaus, formada por 26 comunidades indígenas e ribeirinhas. Vive no Brasil desde 2006 e na região amazônica desde 2016. É formado em Filosofia pela Universidad de Comillas, em Madri, e em Teologia pelo Seminário da mesma cidade.
Leci Conceição Nascimento
Professora aposentada, leiga, da Arquidiocese de Mariana, atua junto ao Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB, presidindo o organismo no Regional Leste-2, que compreende o estado de Minas Gerais. Desde 2021, vem acompanhando as etapas locais e regional da consulta para o Sínodo sobre a Sinodalidade, nomeada por dom Airton José como contato Sinodal na Arquidiocese de Mariana.
Leci (Foto: acervo pessoal)
É formada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, em Direito pela Universidade Presidente Antônio Carlos – Unipac. Possui curso de Teologia Básica para Leigos, realizado na Faculdade Dom Luciano Mendes de Almeida, e especialização em Ciências da Religião. É aluna no curso de Fé e Política para Cristãos Leigos e Leigas, realizado no Centro Nacional de Fé e Política Dom Hélder Câmara – CEFEP.
Geraldo Luiz De Mori
É bacharel em Filosofia e Teologia pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus – CES, Belo Horizonte, atualmente Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. É licenciado em Filosofia pela PUC Minas, mestre e doutor em Teologia pelo Centre Sèvres - Facultés Jésuites de Paris, na França.
De Mori (Foto: Faje)
Realizou pós-doutorado no Institut Catholique de Paris. É professor titular no Departamento de Teologia da Faje. Entre seus livros publicados, destacamos: Discernir a pastoral em tempos de crise: realidade, desafios, tarefas. Contribuições do 1º Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral (Paulinas, 2022) e Esses corpos que me habitam no sagrado do existir (Loyola, 2022).