A Antártida está aquecendo a uma taxa que é quase o dobro da do restante do mundo, mais rapidamente do que os modelos de mudança climática vinham prevendo, com potenciais graves implicações para o aumento do nível do mar.

O comentário é de Vivaldo José Breternitz, doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo – USP, professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.

Isso foi revelado por uma pesquisa produzida por uma equipe de estudiosos franceses do Laboratoire des Science du Climat et de l'Environnement, liderada pelo Dr. Mathieu Casado.

Os pesquisadores descobriram que o aquecimento do continente é maior do que poderia ser esperado apenas em decorrência de variações climáticas naturais. Foi na Antártida Ocidental, uma região particularmente vulnerável ao aquecimento, com uma calota de gelo que, se for desfeita, elevará os níveis globais do mar em vários metros, que o estudo registrou aquecimento a uma taxa duas vezes maior do que a apontada pelos modelos climáticos.

O Dr. Casado diz que “é extremamente preocupante um aquecimento tão significativo na Antártida". A Antártida tem uma área de 14 milhões de quilômetros quadrados, quase duas vezes o tamanho do Brasil, mas ali estão instaladas apenas 23 estações meteorológicas permanentes, das quais somente três estão no interior do continente, o que dificulta a realização de pesquisas.

A pesquisa, publicada na revista Nature Climate Change, descobriu que a Antártida está aquecendo a uma taxa entre 0,22 ºC e 0,32 ºC por década, em comparação com os 0,18 ºC por década previstos pelos modelos climáticos. Parte do aquecimento da Antártida está sendo mascarado, provavelmente, por uma mudança nos padrões de vento – que também pode estar relacionada ao aquecimento global e à perda de ozônio sobre o continente.

A Dra. Sarah Jackson, da Australian National University, que não esteve envolvida no estudo, disse que as descobertas são "profundamente preocupantes". "Todas as nossas projeções para o aumento futuro do nível do mar usam essas baixas taxas de aquecimento. Nossos modelos podem estar subestimando a perda de gelo que podemos ter", disse ela.

Outra indicação de que o aquecimento global parece estar afetando a região, é a morte, no final de 2022, de milhares de filhotes de pinguins-imperadores, depois que o gelo marinho, normalmente estável, onde viviam colônias desses animais na Antártida Ocidental, derreteu. O pinguim-imperador é um dos pouquíssimos animais que vivem na Antártida.

O Dr. Kyle Clem, cientista da Victoria University, da Nova Zelândia, que estudou as recentes temperaturas recordes registradas por uma estação meteorológica da região, disse que apesar de o clima da Antártida estar sujeito a grandes oscilações naturais, o estudo do Dr. Casado mostrou que a gravidade do problema é maior do que se acreditava, podendo acelerar o derretimento das plataformas de gelo costeiras que protegem os glaciares, com consequências potencialmente catastróficas para toda a Terra.

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