10 Agosto 2023
O Cardeal Czerny está em Manaus participando da Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que acontece de 8 a 11 de agosto, uma presença que considera "fundamental para o nosso Dicastério hoje", bem como o fato de "nos encontrarmos e acompanharmos no caminho que a CEAMA está a fazer".
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral refletiu sobre "Viver e cuidar do processo eclesial da Amazônia". Ele fez esta reflexão a partir de Lc 5, 37-38 em que Jesus pede odres novos para vinho novo. Nas suas palavras, recordou a recente visita que as Redes Eclesiais Territoriais fizeram dicastério. Nele, estiveram presentes "as vidas e as vozes dos territórios", que não hesitou em descrever como um privilégio, pois "a visita nos fez muito bem porque neste momento estamos vivendo como uma instância da Santa Sé ao serviço da Igreja. A visita nos permitiu uma experiência de encontro, escuta e procura de possibilidades de caminhar juntos perante os desafios do nosso tempo", um momento de partilha e intercâmbio.
O cardeal recordou as palavras de Marcivana Sateré, líder indígena que vive em Manaus, durante a visita. Sateré disse que "a nossa identidade vem do território" e apelou a "reconhecer no rosto do povo indígena o rosto de Deus". A partir daí, explicou a importância de acompanhar e sustentar os processos eclesiais na Amazônia, com o chamado a cuidar desses biomas e como a sinodalidade passa da Igreja particular para a universal, concluindo com algumas perguntas sobre os desafios para a CEAMA.
Cardeal Czerny (Foto: Luis Miguel Modino)
Recordando o que estava contido no Documento Final do Sínodo para a Amazônia, a sua recepção pelo Santo Padre, com o apelo a dar continuidade a este processo e o seu aprofundamento na Querida Amazônia, o Cardeal Czerny sublinhou que a CEAMA é uma proposta desse Sínodo.
Os documentos que saíram do Sínodo "não pretendem ter a última palavra", insistiu. Isto porque "os temas tratados são fruto de um discernimento vivo, porque emanam das próprias vozes de denúncia e anúncio do território e porque fazem parte de uma experiência de encarnação eclesial que continua a mover-se neste lugar teológico, a Amazônia como locus, como o próprio Papa afirmou". Neste sentido, o "compromisso de refletir e procurar uma experiência de convergência a partir da diferença" é uma consequência do fato de a Amazônia e os seus povos serem fonte de vida, bem como das múltiplas ameaças e sonhos expressos pelo Papa Francisco na Querida Amazônia.
Uma assembleia da CEAMA que se reúne como Povo de Deus com os "olhos abertos" e com abertura aos horizontes do Espírito. O Cardeal recordou o Cardeal Claudio Hummes, "primeiro presidente e incansável promotor da CEAMA", que sempre "insistiu que a Igreja só terá cumprido a sua missão neste território quando os povos e aqueles que habitam este território forem sujeitos da sua história".
O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral observou que a palavra mais repetida no Documento de Aparecida é vida, mais de 600 vezes, apelando a que "as atividades pastorais levem uma mensagem de esperança àqueles que sofrem com as muitas faltas, dores e obstáculos que enfrentam", a uma pastoral do Bom Samaritano, "inclinando-se para aqueles que estão feridos no nosso mundo, carregando-os aos ombros, e providenciando o necessário para que possam reerguer-se e recuperar a sua dignidade de filhos amados".
Cardeal Czerny (Foto: Luis Miguel Modino)
A missão de nascer da nossa identidade batismal significa a restituição "a todo o Povo de Deus da plena dignidade de ser agente ativo de evangelização", como sublinha a Evangelii Gaudium. Por isso, os vários documentos do atual magistério pontifício lançam um desafio, segundo o Czerny: "reformar as estruturas eclesiais de modo a incorporar o sentido ministerial da diversidade do Povo de Deus e, portanto, a presença dos leigos na vida e na missão da Igreja a todos os níveis".
A partir daí, o prelado considera a sinodalidade como "a expressão de diversas sinergias e carismas que convergem na comunhão e na unidade", o que exige um modo de ser Igreja "cada um dos seres humanos e toda a criação têm o seu lugar". Isso significa que "para viver a alegria da salvação é necessário deixar os odres velhos", que identificou com o clericalismo e uma mentalidade autorreferencial e dominadora. Em seguida, o religioso apelou a todos para "ser e fazer a Igreja de Jesus, sempre nova, a partir da diversidade de ministérios e carismas". Para isso, é necessário identificar as estruturas obsoletas que impedem "a comunhão fraterna e que, desligadas da sua missão, se atrincheiram".
Conferência da CEAMA (Foto: Luis Miguel Modino)
Nesta perspectiva, o Cardeal Czerny vê a CEAMA como "uma semente de esperança que brota de um processo de escuta e acompanhamento dos povos", uma "expressão de odres novos para poder acolher o vinho novo que brota do acompanhamento do território", que exprime, como mostra a composição desta assembleia, "a unidade na diversidade da nossa Igreja, e o seu apelo a uma práxis sinodal cada vez maior". E, complementa, que essa conferência é como algo que "quer ser uma boa notícia e um instrumento para dar vida aos frutos do Sínodo associados aos temas orgânico-eclesiais".
Por isso, apelou para "a necessidade de criar consciência nas Américas da importância da Amazônia para toda a humanidade", para estabelecer "uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que favoreça os pobres e sirva o bem comum", como diz Aparecida. Também para "apoiar, com os recursos humanos e financeiros necessários, a Igreja da Amazônia para que continue a anunciar o Evangelho e a desenvolver a sua pastoral na formação de leigos e sacerdotes", encorajando "a trabalhar intensamente para que a CEAMA seja um instrumento vivo da Igreja, como pediu com sentido profético o Cardeal Hummes".
Por fim, insistiu em não sermos "autossatisfeitos ou dar espaço a um mínimo de interesse próprio, pessoal ou coletivo. Não podemos tolerar incoerências, infracções ou desvios deste nobre caminho eclesial", pedindo ao Senhor da vida "que nos renove com o seu Espírito e nos dê a alegria da sua salvação".
Antes, na Eucaristia a que presidiu, onde recordou a figura de Edith Stein e a importância do Dia dos Povos Indígenas, disse, lembrando o Salmo 118, que "para perscrutar o passado, a fim de melhor compreender o presente, é preciso iluminá-lo com a Palavra de Deus". Além disso, à luz do texto evangélico, sublinhou como Jesus quis "ensinar aos seus discípulos a importância de estarem atentos aos sinais que acompanham a vinda do Senhor".
Nas palavras de Jesus, segundo o Cardeal Czerny, "não há uma intenção de perturbar, de provocar medo, mas apenas a revelação de uma verdade divina", mostrando que a nossa resposta de amor ao Senhor "não pode ser delegada ou assumida por outros. É ela que nos molda na nossa identidade e, se não investirmos no amor, a nossa vida é uma tocha apagada". Para isso, precisamos "sair das nossas zonas de conforto e encontrar a coragem de dar a Deus a liberdade de agir em nós no novo".
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Cardeal Czerny: CEAMA, "uma semente de esperança que nasce de um processo de escuta e acompanhamento dos povos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU