17 Julho 2023
"[Luigi Bettazzi] foi um bispo dos pobres e dos pacíficos, dos intelectuais e dos pequenos, presidente da Pax Christi e militante de base quando se tratava de lutar e testemunhar pela paz: e a última vez nos lembramos dele dizendo, respondendo ao apelo de Michele Santoro, que não é contra a agressão quem à violência opõe outra violência, e que era preciso sair da guerra na Ucrânia com a diplomacia e se colocando no meio dos contendores para que se reconciliassem na paz".
O artigo é de Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, publicado por Chiesa di Tutti, Chiesa dei Poveri, 16-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A beleza de uma longa vida é que muitos, em diversos tempos e lugares, desfrutam de seus frutos, quando essa vida é rica em valores civis, inspirações religiosas e transbordante de amor. Assim foi na vida de Luigi Bettazzi, que foi realmente um bispo da Igreja de todos, e da Igreja dos pobres, e sobretudo dos pacíficos e dos sedentos de justiça. E assim ele semeou e deixou memórias extraordinárias em muitos e em muitas ocasiões ao longo de quase 100 anos.
Há quem se lembre dele, jovem e também bonito, fraterno e acolhedor, professor e amigo, como assistente eclesiástico da FUCI, a Federação dos universitários católicos italianos, famosa por ter formado personalidades extraordinárias e protagonistas preciosos da primeira Itália republicana, começando por Moro. Há quem o recorde como bispo auxiliar de Bolonha, naquele tempo mágico que viveu a Igreja bolonhesa, a Igreja do Cardeal Lercaro, de Dom Dossetti, do Avvenire d'Italia, do Centro de Estudos Religiosos de Pino Alberigo e Paolo Prodi. Nesse quesito, ele estava entre os bispos mais jovens do Vaticano II: e ali ele falou pela paz, e teve a coragem de se levantar em São Pedro para pedir aos Padres Conciliares, contra toda prudência eclesiástica, que procedessem à canonização conciliar do Papa João XXIII, e torná-lo santo por aclamação, sem milagres e sem processos canônicos, porque nunca se tinha visto um papa assim, e justamente aquele Concílio era o seu legado mais precioso para a Igreja e para o mundo.
Depois do Concílio, D. Bettazzi ainda esteve próximo de Lercaro, antes que o arcebispo bolonhês fosse deposto por ter reivindicado a profecia da Igreja, e não a neutralidade, contra a guerra do Vietnã.
E depois foi bispo de Ivrea, para onde foi enviado por seus méritos, mas também para deixar o lugar em Bolonha ao cardeal Poma encarregado de normalizar a Igreja italiana após as ousadias do Concílio.
E quem, entre os companheiros que estiveram com ele e com dom Albino Bizzotto naquela espécie de revezamento pela paz que se realizou em 1992 para quebrar o cerco de Sarajevo durante a guerra iugoslava, não se lembra dele proclamando que a paz era possível entre sérvios e bósnios, muçulmanos e cristãos, católicos e ortodoxos?
Foi um bispo dos pobres e dos pacíficos, dos intelectuais e dos pequenos, presidente da Pax Christi e militante de base quando se tratava de lutar e testemunhar pela paz: e a última vez nos lembramos dele dizendo, respondendo ao apelo de Michele Santoro, que não é contra a agressão quem à violência opõe outra violência, e que era preciso sair da guerra na Ucrânia com a diplomacia e se colocando no meio dos contendores para que se reconciliassem na paz.
Nessa lembrança que nos consola na hora da sua morte, enviamos-lhe as nossas mais cordiais saudações.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A igreja de Bettazzi. Artigo de Raniero La Valle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU