26 Junho 2023
"Por que a empresa não se contentou em organizar roteiros de visita ao Titanic, utilizando robôs subaquáticos, enquanto os clientes permaneceriam totalmente seguros no navio assistindo a tudo no telão? Pergunta à qual o oceano jamais responderá...", escreve Luiz Andrada, jornalista, em texto publicado por seu blog, 23-06-2023.
A ganância mórbida pela tragédia do Titanic implodiu cinco homens nas mesmas águas que já ceifaram milhares de vidas.
Desde quando o cadáver do Titanic foi encontrado inerte no fundo do oceano diversas empreitadas mercenárias mergulharam atrás de notoriedade e dinheiro. Os artefatos recolhidos da sepultura do Titanic foram vendidos e leiloados, e renderam milhões de dólares. Um negócio lucrativo.
Agraciado pelo dom da imbecilidade um homem teve a ideia genial de levar seres humanos a um ambiente selvagem no qual pouca vida existe, a quatro mil metros de profundidade. Uma viagem que custa cerca de um milhão de reais. Para quê? Para ver uma sepultura enferrujada e para enriquecer a empresa do homem genial, que em breve prosseguirá com suas viagens suicidas. Aliás, o homem genial, proprietário da empresa, faleceu com as outras quatro vítimas.
Por que a empresa não se contentou em organizar roteiros de visita ao Titanic, utilizando robôs subaquáticos, enquanto os clientes permaneceriam totalmente seguros no navio assistindo a tudo no telão? Pergunta à qual o oceano jamais responderá...
A ganância humana nos cega. A mania de grandeza é traiçoeira. O ser humano não foi talhado para viajar a milhares de quilômetros de profundidade. Nenhuma máquina é totalmente confiável, basta constatar os acidentes fatais com submarinos. O homem não pode voar, mas há pessoas que praticam o esporte radical wingsuiting, no qual os adeptos usam roupas com asas e pulam de alturas imensas, muitas vezes para a morte. O piloto não deve deitar em cima de sua moto em alta velocidade. Ninguém deve pular de uma torre altíssima, com um elástico amarrado na perna, para praticar bungee jumping. Nós não somos feitos de aço.
Em poucos anos o ser humano viajará pela primeira vez a Marte, um planeta a milhões de quilômetros de distância da Terra. Mais uma viagem suicida, ambiciosa, mercenária. As mineradoras já estão calculando quantos bilhões de dólares arrancarão de Marte. Em breve sobrará apenas o caroço do planeta vermelho. Mas, provavelmente nenhum ser humano sobreviverá a essa viagem. Os astronautas no espaço sofrem diversos problemas graves de saúde, como dificuldades cardíacas, pressão sanguínea alterada, modificações genéticas, etc. Mas isso pouco importa. O mercenário quer tomar posse da galáxia, e lucrar. As diversas viagens de curta duração ao espaço são uma prova de um mercado aquecido e próspero.
A tragédia da catastrófica implosão do submarino, que visitaria outra catastrófica tragédia ocorrida em 1912, tornar-se-á em breve, tendo em vista a ganância humana, uma nova empreitada de turismo mórbido e deprimente. “Vejam! Chegamos ao nosso destino nestas águas profundas! Em 2023 uma implosão brutal despedaçou os corpos de cinco homens. Ali está o crânio de uma das vítimas. É oferta! É promoção! Tirem suas selfies! Aceitamos PIX!”
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A megalomania humana vai do Titanic a Marte. Artigo de Luiz Andrada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU