22 Junho 2023
Uma verdadeira reforma da Igreja seria atualizar e melhorar numerosas normas do Sínodo, mas sobretudo mudar radicalmente a perspectiva de suas funções e de sua missão a serviço do Papa. O problema não diz respeito a uma sua suposta natureza democrática, mas de ser uma assembleia blindada, telecomandada e controlada.
A reportagem é publicada por Il Sismografo, 21-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Sínodo instituído há quase 60 anos pelo Papa são Paulo VI já se tornou obsoleto. A intuição conciliar lucidamente captada pelo Papa Montini continua válida, íntegra, mas muitos outros métodos e mecanismos se deterioraram com o passar das décadas e dos Papas. Agora é uma assembleia episcopal fora do espírito e das intenções que estavam na base de sua criação como instituição central da Igreja Católica. O próprio Pontífice no Motu Proprio previa a possibilidade de introduzir reformas "com nossa autoridade apostólica, erigimos e constituímos nesta cidade santa, para a Igreja toda, um conselho estável de Bispos, direta e imediatamente sujeito a nossa autoridade, ao qual damos o nome próprio de Sínodo dos Bispos. Esse Sínodo que, como toda e qualquer instituição humana, poderá, no curso do tempo, assumir formas cada vez mais perfeitas, rege-se pelas seguintes normas gerais."
As normas gerais do ponto 1 dizem:
“O Sínodo dos Bispos, pelo qual os Bispos escolhidos de várias regiões do orbe, prestam mais eficaz colaboração ao Supremo Pastor da Igreja, constitui-se de tal modo que:
a) Seja um órgão eclesiástico central;
b) Faça as vezes de todo o Episcopado católico;
c) Seja perpétuo por natureza;
d) Quanto à estrutura, desempenhe suas funções temporária e ocasionalmente."
O Sínodo, ao longo do tempo, paulatinamente desde 1967 (ano da primeira Assembleia Sinodal), foi perdendo muitas das suas características essenciais. Pouco a pouco perde importância e visibilidade a ponto de muitas vezes na consciência de muitos católicos aparecer como uma longa lista de datas. Nada mais.
Ao longo do caminho, em quase seis décadas, durante as quais foram realizadas 16 Assembleias Gerais entre as quais a que terá início em outubro e inúmeras outras entre Assembleias extraordinárias, especiais ou particulares, se solidificaram muitos mecanismos agora ineficazes, autoritários e celebrativos dentro de uma espécie de palimpsesto onde os participantes – muitos – se autocensuram, outros servem de claque e muito poucos têm a coragem da parrésia que o próprio Papa Francisco, dirigindo-se aos padres sinodais, convidou a praticar (3 de outubro de 2018). Ele disse: “O Sínodo que estamos vivendo é um momento de partilha. Por isso, no início do caminho da Assembleia Sinodal, gostaria de convidar todos a falar com coragem e parrésia, isto é, integrando liberdade, verdade e caridade. Só o diálogo pode nos fazer crescer. Uma crítica honesta e transparente é construtiva e ajuda, enquanto conversas inúteis, boatos, ilações ou preconceitos não. E à coragem de falar deve corresponder a humildade de escutar."(Discurso do Papa Francisco)
Há muitos anos a Assembleia Sinodal se tornou um encontro blindado, formatado e controlado remotamente. Já faz tempo que em cada assembleia tudo já é previamente decidido e os participantes são escolhidos, nomeados ou eleitos de acordo com um formato. Nenhuma consideração é dada às vozes críticas, muito menos às dissidentes.
É verdade que o Sínodo, como sempre se disse desde a sua criação, não é uma assembleia parlamentar democrática. Mas isso não autoriza a torná-la uma cenografia midiática pura e simples, uma passarela maçante e sem atrativos para o santo Povo de Deus, que acaba por ignorá-la, e obviamente nem pode ser um encontro blindado.
A relação da Assembleia Sinodal com a imprensa, com a opinião pública, com o mundo católico, sempre foi singular. Anos atrás, havia até um sistema que controlava a síntese das intervenções dos padres sinodais antes de entregá-las à imprensa, com lápis vermelho e azul. Os membros do Sínodo sempre tiveram que respeitar normas severas em suas relações com a mídia.
Se as janelas do Sínodo não forem abertas, se se continuar a torná-la uma assembleia de aplausos, se tudo for autorreferencial, o futuro dessa assembleia episcopal tão necessária e indispensável para a Igreja de hoje será cada vez mais irrelevante, sem a menor capacidade profética. Naturalmente, o espírito de conseguir unidade na diversidade perderá um apoio vital.
A organização, preparação e realização dos Sínodos já se tornou um conjunto altamente burocrático, quase "Vaticanocêntrico", uma palavra usada pelo Papa Francisco em novembro de 2013. Respondendo a Eugenio Scalfari, ele especificou: "A corte é a lepra do papado (...) na Cúria às vezes há cortesãos, mas a Cúria como um todo é outra coisa. É aquela que nos exércitos se chama de intendência, administra os serviços que servem à Santa Sé. Mas tem um defeito: é Vaticanocêntrica. Vê e cuida dos interesses do Vaticano, que ainda são em grande parte interesses temporais.
Essa visão centrada no Vaticano negligencia o mundo ao nosso redor. Não compartilho dessa opinião e farei de tudo para mudá-la. A Igreja é ou deve voltar a ser uma comunidade do povo de Deus e os padres, párocos, bispos com o cuidado de almas estão ao serviço do povo de Deus. A Igreja é isso, uma palavra que não é por acaso diferente da Santa Sé que tem uma função própria importante, mas está a serviço da Igreja”.
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Reformar o Sínodo dos Bispos: mais liberdade verdadeira, parrésia autêntica e menos autorreferencialidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU