22 Junho 2023
"Na oscilação neolibertina a fenomenologia do desconforto juvenil encontra-se submersa num gozo ilimitado que suprime o seu impulso generativo. O desejo desmorona em uma vida demasiado cheia de objetos para ser desejante. Na oscilação neomelancólica, ela parece mais simplesmente apagar-se, desativar-se, não existir mais", escreve Massimo Recalcati, psicanalista italiano e professor das universidades de Pávia e de Verona, em artigo publicado por La Reppublica, 21-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O desconforto do mundo juvenil parece ter adquirido dimensões preocupantes. Sua fenomenologia é variegada, mas, se tentássemos encontrar nela denominadores comuns, poderíamos isolar pelo menos dois. O primeiro é o impulso neolibertino de gozar sem limites, de fazer do gozo a única forma possível da Lei. Esse impulso pode assumir as formas da festa permanente, da apatia frívola, da falta de responsabilidade, do abuso de substâncias, do consumo compulsivo, da indolência, da rejeição da prova e do esforço. É uma forma de mal-estar que há tempo permeia o mundo juvenil e que combina com a afirmação daquela que Pasolini chamava de "sociedade dos consumos". O segundo denominador comum é do tipo neomelancólico e consiste na tendência a se retirar da vida, a se retrair, a se fechar em si mesmo. O trauma da pandemia exacerbou particularmente essa segunda manifestação do mal-estar juvenil. Se na primeira forma prevalece a extroversão, nesta segunda forma prevalece a introversão.
No entanto, não se trata apenas de uma tendência genericamente depressiva, mas de uma inclinação securitária: o mundo é percebido como uma fonte ameaçadora de estímulos, como um lugar de perturbações angustiantes, como um choque do qual é preciso se proteger. É um dos paradoxos mais significativos do nosso tempo: a cultura neolibertina do gozo imediato e da rejeição do sentido da Lei esconde nas suas dobras uma tristeza subjacente, uma angústia profunda em relação ao desconhecido, um sentimento de precariedade que envolve toda a existência. É a praga secreta que corrói a euforia neolibertina: a vida como competição de todos contra todos, como impulso compulsivo a consumir tudo, efetivamente não gera satisfação, não favorece a criação de laços sociais generativos, mas produz uma perda de sentido, medo e defesa contra a vida, retraimento social, confinamento, isolamento.
Cortar-se do circuito maníaco da hiperatividade produtiva ou hedonista do discurso social dominante é um gesto desesperado de recusa, mas é também um gesto que tenta criar um refúgio.
Barricar-se em casa, para não sair mais, parece um destino escarnecedor para um jovem em uma época que, ao contrário, exige o divertimento como obrigação e o culto da performance a qualquer custo.
Essas duas formas de desconforto refletem uma tendência mais geral da civilização contemporânea: o impulso a desfrutar até a dissipação da vida e o impulso de rejeitar a vida isolando-se em um nicho protegido. São as versões hard e cool do desconforto da juventude hipermoderna. Mas o que falta em ambas as posições é a instância do desejo.
Na oscilação neolibertina ela encontra-se submersa num gozo ilimitado que suprime o seu impulso generativo. O desejo desmorona em uma vida demasiado cheia de objetos para ser desejante.
Na oscilação neomelancólica, ela parece mais simplesmente apagar-se, desativar-se, não existir mais. Em vez de viver a vida plenamente, prefere-se fechar as pontes com a vida, criar sistemas de defesa, isolar-se precisamente, separar-se do mundo. O enfraquecimento do desejo é o verdadeiro tema que permeia o desconforto juvenil contemporâneo: o esforço de desejar, o eclipse, o desaparecimento do desejo como força generativa.
O que fazer então? Como sair disso? Evocar o pai com a vara, lamentar sua antiga autoridade simbólica? Restaurar a ordem da família tradicional, fortalecer os instrumentos de controle ou de repressão? Condenar as más práticas e os comportamentos irresponsáveis? Dever-se-ia sempre lembrar que o desconforto juvenil não coincide com o mundo juvenil. Para evitar sua extensão dever-se-ia, em primeiro lugar, ter confiança nos jovens e em sua audácia.
Incluí-los tanto quanto possível na vida civil e social. Potencializar a escola e os locais de formação, acreditar em suas capacidades, oferecer oportunidades de trabalho, de expressão e de palavra. Em suma, a contribuição das gerações mais velhas não pode limitar-se a sinalizar o desconforto juvenil delegando a sua cura aos psicólogos, mas deve abrir as portas, cultivar os talentos, transmitir a potência vital do desejo, favorecer os espaços públicos e coletivos da sua existência. Não se trata tanto de vigiar e punir, mas de realmente apostar nas novas gerações. A existência dos filhos deveria obrigar-nos a nos descentralizar de nós mesmos, a pensar que o tempo tem uma profundidade que não coincide com a nossa vida, que os nossos filhos viverão mais do que nós. Deveria nos lembrar que a tarefa das gerações mais velhas não é criar obstáculos para as novas, mas favorecer seu crescimento.
Fácil de dizer, obviamente, muito difícil de praticar porque implica o dom do nosso retraimento, do nosso declínio.
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A cara do mal-estar juvenil. Artigo de Massimo Recalcati - Instituto Humanitas Unisinos - IHU