08 Abril 2025
"A pandemia nos deixou um longo legado de condições de desconforto, pois privou os adolescentes por muito tempo de interações sociais fundamentais naquela delicada fase de desenvolvimento permeável às condições ambientais. No entanto, a causa mais frequentemente citada para explicar o aumento do desconforto dos jovens está ligada ao acesso precoce às mídias sociais e às restrições impostas pelos pais às interações na vida real, como uma forma de superproteção dos filho", escreve Tito Boeri, economista italiano, em artigo publicado por La Stampa, 02-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O crescimento da população mundial será interrompido bem antes do final deste século porque em todos os lugares a queda na fecundidade foi maior do que o esperado. Nos países avançados, o despovoamento já está em andamento e é cumulativo e difícil de reverter, pois não apenas a taxa de fecundidade, mas também o número de mulheres em idade fértil está caindo. Décadas de taxas de natalidade em declínio nos proporcionaram coortes cada vez menores entrando no mercado de trabalho. Isso afeta o crescimento econômico, a taxa de inovação e o mercado de trabalho. Passamos de um mundo em que havia poucos empregos para um mundo em que há poucos trabalhadores. O conjunto dos países da OCDE padecem hoje de uma escassez de mão de obra em todos os níveis. No entanto, os jovens dos países avançados têm aspirações profissionais que, em geral, são muito diferentes daquelas em que se busca pessoal atualmente. Entre as funções mais procuradas estão os cuidadores domésticos para pessoas dependentes, faxineiros, garçons, bartenders, todas atividades que oferecem salários baixos, ritmos de trabalho muito pesados, poucas perspectivas de carreira e onde uma grande porcentagem de trabalhadores declara que não consegue chegar ao fim do mês. Essas são características objetivas desses empregos, que são difíceis de modificar, de modo que mesmo salários mais altos não conseguem atrair aqueles que hoje escolhem não participar do mercado de trabalho. A demanda de famílias e empresas também é muito sensível às variações do custo da mão de obra: cairia drasticamente no caso de salários significativamente mais altos, reduzindo o atendimento de pessoas dependentes e muitos outros serviços oferecidos à coletividade.
Muitos jovens não trabalham e não fazem parte do sistema educacional. O fenômeno NEET (Not in Employment, Education and Training) é o outro lado da moeda de um crescente desconforto juvenil. “Eu tinha 20 anos. Não consentirei que ninguém diga que é a idade mais bela da vida”.
A frase de abertura do livro Aden Arabia, de Paul Nizan, não poderia ser mais oportuna. Nos últimos 15 anos, o perfil etário do desconforto ligado ao estresse e à depressão mudou radicalmente. Até então, mais de 600 pesquisas de amostragem realizadas em quase 150 países em todo o mundo documentavam consistentemente um padrão em forma de sino do mal-estar por idade: o grau relatado de insatisfação com a própria vida aumentava com a idade até atingir o pico por volta dos 50 anos, na chamada crise da meia-idade, e depois diminuía na velhice.
Desde 2010, as coisas mudaram: o desconforto hoje é maior entre os adolescentes e depois diminui gradualmente com a idade. O aumento do desconforto entre os adolescentes é corroborado também pelos dados sobre diagnósticos de estados depressivos entre estudantes secundários nos Estados Unidos e em outros países. É um desconforto que se expressa de múltiplas formas: anorexia, bulimia, dependências, automutilação, violência, suicídios, evasão escolar e isolamento da sociedade. E envolve grupos muito numerosos: de acordo com a Unicef, cerca de 11 milhões de crianças e adolescentes sofrem de desconforto psicológico na União Europeia.
Há muitas explicações para esse fenômeno e, como sempre, provavelmente há uma combinação de causas e não um único motivo. A pandemia nos deixou um longo legado de condições de desconforto, pois privou os adolescentes por muito tempo de interações sociais fundamentais naquela delicada fase de desenvolvimento permeável às condições ambientais. No entanto, a causa mais frequentemente citada para explicar o aumento do desconforto dos jovens está ligada ao acesso precoce às mídias sociais e às restrições impostas pelos pais às interações na vida real, como uma forma de superproteção dos filhos. As possíveis soluções para essa situação devem ser buscadas em alternativas ao uso obsessivo de smartphones, e não na proibição de seu uso. Em vez de usar o dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência para distribuir dispositivos eletrônicos aos alunos do ensino fundamental, seria melhor destinar esses recursos à construção de campos de futebol, quadras de basquete e piscinas, incentivando o esporte e a vida social. A música também pode ser um poderoso antídoto contra os estados depressivos e a marginalização.
Superada a adolescência, a ferramenta mais poderosa contra o desconforto juvenil é a realização das próprias aspirações profissionais. No entanto, a transição da escola para o trabalho costuma ser difícil, especialmente na Itália, tanto que meio milhão de jovens com alto grau de instrução deixaram o país nos últimos 10 anos. Em vez de nos questionar sobre os motivos desse êxodo, a atenção geral é concentrada sobre a imigração. Por motivos que, muitas vezes, não são estritamente econômicos, a chegada de imigrantes é temida, se oferece apoio a partidos e líderes políticos que colocam no centro de suas estratégias de comunicação o fechamento das fronteiras e a deportação em massa das pessoas em situação irregular no país. No entanto, as propostas implementadas para conter os fluxos migratórios acabam tornando mais difícil a integração e tornando a imigração uma emergência contínua.
Contudo, nunca como hoje os países mais ricos do mundo precisaram de mão de obra imigrante.
No curto prazo, muitas vezes esse é o único recurso disponível para atender às necessidades de famílias e empresas que buscam desesperadamente pessoal para cuidar de familiares dependentes e trabalhadores em uma ampla gama de funções. A imigração também serve para melhorar as contas públicas, tornando os sistemas previdenciários mais sustentáveis pelo simples fato de que os imigrantes são mais jovens do que a população autóctone, aumentando o número daqueles que contribuem para a previdência social em comparação com aqueles que recebem esses pagamentos na forma de aposentadorias.
Os imigrantes de segunda e terceira geração, em especial, se incentivados por leis de cidadania favoráveis e investimentos em educação, podem oferecer uma contribuição importante para o crescimento econômico. Mas há aqueles que acreditam que, para combater o declínio demográfico, as fronteiras deveriam ser fechadas e as mulheres deveriam ser incentivadas a ter mais filhos. Mas como apoiar as famílias nessa direção? E, de qualquer forma, por que a imigração e o aumento das taxas de fecundidade deveriam ser objetivos contrapostos? A imigração bem administrada reduz o custo de ter filhos e libera tempo, especialmente para as mulheres, para que se dediquem ao seu desenvolvimento profissional, fortalecendo também sua posição contratual na família.
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Em Turim, de 30 de maio a 2 de junho, abordaremos esses temas com a contribuição não apenas de economistas, sociólogos e psicólogos, mas também com testemunhos diretos de quem conhece a fundo a imigração, as mudanças que estão ocorrendo na organização da vida familiar, o perfil da demanda de trabalho e o desconforto juvenil.