Doze são chamados, mas nem todos são dignos

Foto: Cathopic

16 Junho 2023

Publicamos aqui o comentário do monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose e da Casa della Madia, sobre o Evangelho deste 11º Domingo do Tempo Comum, 18 de junho de 2023 (Jo 3,16-18).

A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Jesus percorre as cidades e os vilarejos da Galileia ensinando nas sinagogas, anunciando a boa notícia do Reinoe cuidando dos doentes que encontra (cf. Mt 9,35).

Seu olhar cheio de amor repousa sobre as pessoas que o seguem, escutam-no e pedem-lhe para ser curadas de suas enfermidades: “vendo as multidões sente compaixão”, isto é, assume o sentir profundo de Deus (cf. Ex 34,6), suas entranhas de misericórdia pelas situações de fraqueza e de miséria em que se encontram os homens e as mulheres.

Aqui, em particular, o motivo da comoção de Jesus consiste em ver as multidões “cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor”. Se Moisés, movido de compaixão, tinha pedido a Deus para pôr à frente dos filhos de Israel depois dele “um homem que os precedesse, para que a comunidade do Senhor não fosse um rebanho sem pastor” (cf. Nm 27,16-17), aqui Jesus transforma seu próprio tremor interior sobretudo em uma constatação: “A messe é grande, mas os operários são poucos”. Ele compara a multidão a um campo de trigo pronto para a colheita, imagem do dia do juízo, quando Deus reunirá os seus no celeiro (cf. Mt 3,12): é um campo infindável, porque é muito extensa a dispersão dos filhos de Deus, que Jesus veio reunir em unidade (cf. Jo 11,52)…

Depois, sem ceder à tentação do desânimo, ele ordena aos seus discípulos: “Pedi ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe”. A messe pertence a Deus, e só a ele compete a iniciativa da colheita, mas os discípulos devem rezar para que Deus mande operários para realizar a sua vontade. E a missão posterior dos Doze – tantos quanto as tribos de Israel – aparece implicitamente como o resultado de tal oração.

Conhecemos bem o evento do envio dos apóstolos por Jesus “às ovelhas perdidas da casa de Israel”, primícias do envio pós-pascal a todas as nações (cf. Mt 28,19-20): a missão deles consiste em anunciar que, em Jesus, o Reino se fez muito próximo e em usar o poder que lhes foi conferido para tirar espaço de Satanás. Em uma palavra, em viver como seu Senhor e Mestre e em fazer isso com extrema gratuidade: “De graça recebestes, de graça dai”.

Mas esta página do Evangelho nos convida a nos determos sobretudo no fato de que, no momento do envio em missão, o primeiro mandamento é a oração. Mas por que suplicar a Deus por aquilo que diz respeito a ele? Por que pedir algo para ele?

Aqui, esconde-se o grande mistério da oração. É certo que Deus, assim como Jesus, vê as ovelhas sem pastor, vê as necessidades da humanidade e da Igreja: mas ele quer que nós rezemos, porque nós precisamos disso. O próprio Jesus pediu aos discípulos que pedissem o essencial, isto é, o Reino de Deus, prometendo que todas as outras coisas lhes seriam dadas em acréscimo (cf. Mt 6,33). Pois bem, é precisamente no mistério da vinda do Reino que se situa também a oração pelo envio de operários para a messe de Deus! Não por acaso, no Pai-Nosso, os primeiros pedidos que o discípulo faz são aqueles que dizem respeito à santificação do Nome, à vinda do Reino e ao cumprimento da vontade de Deus (cf. Mt 6,9-10). Rezar para que o Senhor chame e envie é, portanto, uma especificação desses pedidos: para que o Nome seja santificado e o Reino venha, é preciso que se cumpra a vontade de vida e de amor de Deus para todos os seus filhos e as suas filhas dispersos e sem pastor...

Verdadeiramente, não há missão autêntica que não seja precedida pela oração, pelo desejo orante da Igreja de que o Senhor faça ouvir a sua voz e chame homens e mulheres na sua plena liberdade. Rezar pelas vocações, portanto, significa confessar que não é o indivíduo que escolhe, não é a Igreja que chama com base nas próprias necessidades, nem mesmo são os cálculos mundanos que suscitam vocações. Não, toda vocação cristã é uma vocação do alto, do Pai, por meio do Filho, no poder do Espírito Santo: o chamado de Deus é maior do que o discernimento de uma necessidade e do que a realização de um serviço, é um dom que deve ser implorado com perseverança, na certeza de que só Deus sabe quem e o que é necessário para a sua messe!

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